Exemplo n° 4
Autor | José Fiker |
Ocupação do Autor | Doutor em Semiótica e Linguística Geral (com enfâse em Laudos Periciais) pela USP |
Páginas | 85-88 |
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É um exemplo da linguagem empolada levada a efeito no seu mais alto grau.
Além de dificultar o entendimento do texto, pode provocar até a hilaridade pelo seu exagero.
É um exemplo de como não se deve escrever nos dias de hoje.
Nesse exemplo, desejamos mostrar o efeito contrário ao da linguagem informal e coloquial.
Nesse caso, temos o extremo oposto: linguagem excessivamente rebuscada, que também acaba resvalando no ridículo pelo exagero que denota.
É verdade que se trata de um memorial escrito por advogados e que, portanto, espelha muito mais a linguagem do juiz do que a do perito.
Mas existem peritos que costumam adentrar esse terreno e nem sempre com muito sucesso.
É mais comum ao juiz, quando justifica sua sentença, utilizar-se de termos bombásticos e de efeito retórico retumbante.
A incursão do perito nesse campo pode provocar estranheza ao juiz e pode também não ser bem recebida. Ainda mais se o perito não dominar, como em geral não domina, a linguagem gongórica, que, aliás, já caiu em desuso. Podem resultar aberrações que distorcem completamente a tese a ser provocada pelo experto.
Não recomendamos a adoção desse expediente.
Melhor que o perito se atenha à linguagem que domina, predominantemente realista, conforme vimos no trabalho, que é
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a mais adequada aos trabalhos técnicos, sem abdicar dos termos que conferem maior precisão ao discurso, mas não se esquecendo nunca de explicá-los ao juiz.
1 – O poderoso, porque se lhe delegou função de Estado, entendeu de nos espezinhar, de nos achanar com o tacão.
Tivéramos, em princípios de julho, a democrática veleidade de divergir de proposta de Cr$ 156.340,00. Nem admitiu diálogo ou simples contraoferta.
Daí, neste Augusto Juízo oferecer agora pelo imóvel a importância de Cr$ 34.646,00, isto é, quase CINCO VEZES MENOS...
Ai do vassalo, se não for covarde, se não se submeter ao guante do Senhor feudal, se não rastejar aos pés do Suserano. Estamos às portas do século XXI, em regime da mais absoluta liber-dade, com Poder Judiciário vígil, soberano e Justo. Se vivêssemos na era profligada por Beccaria, a desapropriante declarar-nos-ia a heresia, mandar-nos-ia às galés e confiscar-nos-ia os bens!!
Em melancólico remate, à A. não merece a atribuição confiada, salvo se este for caso...
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