Estresse e envolvimento paterno em funcionários públicos

AutorEste estudo objetivou investigar quadros de estresse em servidores públicos de Salvador, e sua interferência no envolvimento paterno. Realizou se estudo de casos múltiplos com quatro servidores, pais de criança(s) de zero a cinco anos, com nível superior d e escolaridade. Eles preencheram um 'Formulário para levantamento de dados...
CargoSara Maria Cunha Bitencourt Santos - Lúcia Vaz de Campos Moreira
Páginas253-276
Estresse e envolvimento paterno em funcionários públicos
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¹Artigo baseado em d issertação da primeira autora, sob orientação da segunda, tendo como título “Estresse e
envolvimento paterno de servidores públicos com filhos pequenos”, vinculada ao Programa de Pós-Graduação
em Família na Sociedade Contemporânea da Universidade Católica do Salvador (UCSal) e defendida no ano de
2015.
Caderno s do CEAS, Salvador, n. 239, p. 949-972, 2016.
Resumo
Este estudo objetivou investigar quadros de
estresse em servidores públicos de Salvador, e
sua interferência no envolvimento paterno.
Realizou-se estudo de casos múltiplos com
quatro servidores, pais de criança(s) de zero a
cinco anos, com nível superior de escolaridade.
Eles preencheram um “Formulário para
levantamento de dados sociodemográficos”, o
“Inventário de Sintomas de Stress para Adultos
de Lipp” e responderam a uma entrevista
semiestruturada individual. Os dados foram
submetidos à análise de conteúdo qualitativa.
Constatou-se que os pais com e sem estresse
referiram um alto envolvimento com os filhos
pequenos. Entretanto, os pais com estresse
destacaram os impactos negativos do estresse
na própria saúde e no envolvimento com os
filhos, e os pais sem estresse relataram uma
percepção mais positiva da vida e uma maior
facilidade na conciliação de demandas
profissionais e familiares. Conclui-se que, nos
casos estudados, o estresse interferiu
negativamente no envolvimento paterno.
Palavras-chave: Estresse. Envolvimento
Paterno. Trabalho.
Sara Maria Cunha Bitencourt Santos
Mestre em Família na Sociedade Contemporânea
(UCSal)
Universidade Católica do Salvador
E-mail: saramcb@gmail.com
Lúcia Vaz de Campos Moreira
Doutora em Psicologia (USP)
Universidade Católica do Salvador
E-mail: luciavcm@oi.com.br
INTRODUÇÃO
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o estresse afeta 90% da
população mundial, sendo considerado como uma epidemia global que pode trazer sérias
consequências aos envolvidos (JOSÉ, 2012). Segundo Brito e Rodrigues (2011), o estresse
acaba acarretando constante estado de tensão e ansiedade no indivíduo. Conforme os autores,
por meio de estudos clínicos foi possível constatar que, de 50% a 75% de todas as idas ao
médico são justificadas pelo estresse, sendo este considerado como fator de risco mais
preocupante do que o fumo em termos de mortalidade na atualidade. Vale a pena destacar que,
não só os adultos entram na estatística de acometimento de estresse, uma vez que, conforme
menciona Marilda Lipp, pesquisadora sobre estresse, o número de crianças estressadas está
aumentando em ritmo veloz (LIPP, 2011).
O estresse tem uma ampla capacidade de expansão, não trazendo apenas impactos
para o indivíduo e para a família. Conforme Filgueiras e Hippert (1999), altos índices de
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PÚBLICOS1
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Caderno s do CEAS, Salvador, n. 239, p. 949-972, 2016.
absenteísmo e licenças médicas nas organizações são oriundos do estresse. Estudo recente
realizado por Lima e Bitencourt (2013), utilizando o Inventário de Sintomas de Stress para
adultos (ISSL) com uma amostra de 95 magistrados baianos, 58 deles (61%) apresentaram
resultado “sem estresse” e 37 (39%) “com estresse”. Em relação a estes últimos, 46% deles
obtiveram licença médica para tratamento de saúde nos anos anterior e corrente à coleta de
dados, e os casados mostraram 2,2 vezes mais chances de sofrer estresse do que os solteiros.
Este estudo revelou, ainda, que o excesso de trabalho e a invasão de demandas de trabalho no
âmbito pessoal foram apontados pelos participantes como as principais fontes de estresse
presentes nos seus cotidianos.
Segundo Camarotti, Bitencourt e Coslop (2010), relatos de trabalhadores que eram
atendidos em Programa institucional que tinha como meta oferecer suporte interdisciplinar
aos empregados que apresentavam acentuados quadros de estresse, evidenciavam as fortes
tensões às quais estavam expostos para conciliarem demandas laborais e familiares. Barham e
Vanalli (2012, p. 53) também evidenciaram a necessidade de implementar estratégias que
“melhorem o equilíbrio entre as demandas familiares e de trabalho”.
Partindo do cenário atual, que contempla a presença crescente de quadros de estresse
em adultos, e considerando que muitos desses adultos são trabalhadores e, também, pais de
filhos pequenos e que, consequentemente, demandam deles atenção, tempo e cuidado, surgiu
um problema a ser investigado: o estresse do pai influencia o envolvimento paterno?
Conforme o Modelo Quadrifásico de Estresse adotado por Lipp (2005), certa dose de estresse
é até salutar para a sobrevivência. Por meio do estresse, o organismo detém
adrenalina/dopamina que fornece vigor, ânimo e energia para realizar novos feitos, ser
criativo e relacionar-se. O problema se instala quando o estresse atinge níveis elevados e,
consequentemente, acaba por consumir as reservas de energia do organismo, podendo
acarretar prejuízos por vezes irreversíveis. Assim, torna-se de fundamental importância
diagnosticar a presença de possíveis quadros de estresse o mais breve possível para intervir de
modo a preservar a saúde da pessoa e daquelas com as quais convive.
Com tal finalidade, surgiu o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp
(ISSL), por meio do qual é possível identificar a presença ou não, de estresse, a fase em que
a pessoa se encontra e a predominância de sintomas: se físicos, psicológicos ou físicos e
psicológicos conjuntamente. Conforme Lipp (2005), caso nada seja feito para interromper o
processo de estresse no organismo, ele tende a ter um percurso crescente, passando por quatro

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