Estratégias de Racionalização da Corrupção nas Organizações: Uma Análise das Declarações de Acusados em Casos de Corrupção no Brasil
Autor | Luiz Romeu de Freitas Júnior - Cintia Rodrigues de Oliveira Medeiros |
Cargo | Mestrando em Administração - Doutora em Administração. Professora do Curso de Pós-Graduação |
Páginas | 8-23 |
Luiz Romeu de Freitas Júnior • Cintia Rodrigues de Oliveira Medeiros
R C A
Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
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RESUMO
Escândalos de corrupção envolvendo as diferentes esferas do poder
público, assim como o poder privado, têm se tornado comum nos
meios de comunicação. Além dos impactos políticos e socioeconô-
micos da corrupção, uma questão relevante para os estudos sobre o
tema se refere a sua racionalização. Nesta pesquisa, nosso objetivo é
explorar as justicativas para participação em esquemas de corrupção
apresentadas por denunciados como forma de racionalização de
seu envolvimento. Para isso, conduzimos uma pesquisa qualitativa
com base intrepretativista, analisando o conteúdo de dez entrevistas
concedidas por envolvidos em escândalos de corrupção no Brasil, nos
anos de 2013 a 2016. A análise apontou certa similaridade no discurso
utilizado pelos envolvidos, permitindo a constatação de categorias nas
quais estes se enquadram (negação de responsabilidade, a negação
de dano, as ponderações sociais, a negação do ato, a metáfora do
equilíbrio e a postura cínica). Os resultados apontam que a partir
de um questionamento, cada um dos envolvidos expõe sua versão
do fato criando pontos em comum em seus discursos, que parecem
surgir como resultado das interações e articulações sociais que os
envolvem, contribuindo para um cenário favorável à perpetuação de
corrupção nas organizações. A contribuição teórica desta pesquisa
para os estudos organizacionais está em compreender a racionaliza-
ção dos indivíduos para a perpetuação de um fenômeno não raro nas
organizações, porém, ainda pouco explorado.
Palavras-chave: Corrupção, Racionalização, Organizações.
ABSTRACT
Corruption scandals involving the dierent spheres of public power,
as well as private power, have become commonplace in the media. In
addition to the political and socioeconomic impacts of corruption, a
relevant issue for studies on the subject concerns its rationalization.
In this research, our objective is to explore the justications for partic-
ipation in corruption schemes presented by denounced individuals as
a way of rationalizing their involvement. To do this, we conducted a
qualitative research based on intrepretativism, analyzing the content
of ten interviews granted by those involved in corruption scandals in
Brazil, from 2013 to 2016. The analysis pointed out a certain similarity
in the discourse used by the participants, allowing the verication of
categories (negation of responsibility, denial of harm, social consid-
erations, denial of act, metaphor of balance and cynical stance). The
results point out that from a questioning, each one of the involved
exposes their version of the fact creating common points in their
speeches, that seem to arise as a result of the interactions and social
articulations that involve them, contributing to a scenario favorable to
the perpetuation of corruption organizations. The theoretical contri-
bution of this research to organizational studies is to understand the
rationalization of individuals for the perpetuation of a phenomenon
not uncommon in organizations, but still little explored.
Keywords: Corruption, Rationalization, Organizations.
ESTRATÉGIAS DE RACIONALIZAÇÃO DA CORRUPÇÃO
NAS ORGANIZAÇÕES: UMA ANÁLISE DAS DECLARAÇÕES
DE ACUSADOS EM CASOS DE CORRUPÇÃO NO BRASIL
Strategies for Rationalizing Corruption in Organizations: An Analysis
of Declarations of Accused in Cases of Corruption in Brazil
Luiz Romeu de Freitas Júnior
Mestrando em Administração.
Universidade Federal de Uberlândia – UFU. Uberlandia, GO. Brasil.
e-mail: luizromeu26@msn.com
Cintia Rodrigues de Oliveira Medeiros
Doutora em Administração. Professora do Curso de Pós-Graduação.
Universidade Federal de Uberlândia – UFU. Uberlandia, GO. Brasil.
e-mail: cintia@ufu.br
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Revista de Ciências da Administração • v. 20, n. 50, p. 8-23 , Abril. 2018
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-8077.2018 V20n50p8
Recebido em: 16/10/2016
Revisado em: 12/09/2017
Aceito em: 10/04/2018
Estratégias de Racionalização da Corrupção nas Organizações: Uma Análise das Declarações de Acusados em Casos de Corrupção no Brasil
Revista de Ciências da Administração • v. 20, n. 50, p. 8-23, Abril. 2018 9
R C A
1 INTRODUÇÃO
As práticas de atos de corrupção podem insti-
tucionalizar-se nas mais variadas organizações, uma
vez que independem de modelo de Estado, regime
político ou contexto ideológico, sendo fruto de ações
individuais ou coletivas e presentes tanto nas organi-
zações públicas, bem como nas privadas. (SILVA et.
al, 2005). O conceito de corrupção corporativa, como
abordado por Tillman (2008), demonstra que a práti-
ca desses atos nas organizações, mesmo não estando
expressamente proibidos através de leis ou registros
legais, não os tornam menos prejudiciais a elas.
No Brasil, a partir da promulgação da Consti-
tuição de 1988 até os dias atuais, uma sucessão de
escândalos de corrupção tem feito parte das man-
chetes dos noticiários, nas mais diferentes esferas
da administração pública, assim como na iniciativa
privada, evidenciando, dessa forma, os problemas
relacionados ao fenômeno. Para além das consequên-
cias e de todos os desdobramentos, tanto políticos
quanto socioeconômicos, uma questão que ainda
carece de explicação é como as justicativas das
pessoas envolvidas nesses escândalos racionalizam
e fortalecem a prática do ato.
Um dos conceitos utilizados para o termo cor-
rupção, mesmo no meio acadêmico, é proveniente
da ONG Transparency International (2016) e que
está disponível no site da organização, para a qual
corrupção é “o abuso de poder conado a alguém
visando benefício pessoal, e pode ocorrer tanto em
altos níveis de políticas governamentais bem como
nas relações do dia a dia entre servidores públicos e
cidadãos comuns”. Esse conceito é questionado por
autores, como Chadda (2004) que alega que essa
perspectiva não contempla as realidades de socie-
dades em desenvolvimento, mas, sim, de sociedades
tradicionais, o que pode indicar alguns vieses cultu-
rais e, consequentemente, ideológicos, impostos na
sua formulação.
A partir de todas as particularidades que a cor-
rupção envolve, diversos pesquisadores buscaram
elaborar um corpo teórico com explicações para o fe-
nômeno, porém devido a sua conceituação complexa,
há uma certa diculdade para alcançar esse objetivo,
principalmente quando são consideradas as formas
e situações diversas que ela envolve.
Nessa direção, e orientando-nos pela pesquisa
de Anand, Ashforth e Joshi (2004), estabelecemos
como objetivo desta pesquisa, explorar as justica-
tivas para participação em esquemas de corrupção
apresentadas por denunciados como forma de racio-
nalização de seu envolvimento. Esses autores aborda-
ram os temas utilizados por envolvidos para justicar
a manutenção e perpetuação da corrupção, sendo que
a racionalização envolve a relação dos discursos de
justicação com cinco diferentes pontos, que seriam
responsáveis por contribuir ao comportamento de
perpetuação da corrupção nas organizações: a nega-
ção de responsabilidade, negação do dano, negação
da vítima, as ponderações sociais, apelo para leal-
dades elevadas e a metáfora de equilíbrio. Segundo
os autores, as táticas de socialização seriam ainda,
uma forma de “doutrinar” os recém-chegados a uma
organização a aceitar e praticar atos de corrupção,
cooptação e compromisso.
Nesta pesquisa, que é de natureza qualitativa
e de abordagem interpretativista, dirigimos nosso
foco para as táticas de racionalização, analisando os
discursos de envolvidos em escândalos de corrupção
no Brasil, documentados em vídeos nas páginas ele-
trônicas de jornais impressos, bem como também
das emissoras de televisão nacionais. A replicação do
estudo realizado por Anand, Ashfort e Joshi (2004)
permite conhecer os discursos na realidade brasileira,
e o fato da realização desta pesquisa ocorrer uma
década após o estudo que a originou, potencializa a
análise da ocorrência ou não de mudanças nas táticas
de racionalização em contextos distintos. Admitimos
que nossa análise se ampara ainda em uma perspecti-
va como a de Torsello e Vernard (2015), que armam
que os problemas relacionados com a corrupção, in-
dependentemente se ocorridos em esfera pública ou
privada, estão em grande parte conectados às ações
humanas, permitindo uma análise sob diversas lentes.
Estruturamos o artigo em três seções, depois
desta introdução. Em seguida, fazemos uma abor-
dagem dos conceitos de corrupção e as perspectivas
teóricas sobre o assunto, tratando em seguida da
perpetuação da corrupção nas organizações. Pos-
teriormente, descrevemos os procedimentos da
pesquisa, os resultados e encerramos com nossas
considerações nais.
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