Estoques em um terminal graneleiro portuário: um estudo de caso

AutorCláudia Medianeira Cruz Rodrigues/Vanderlei Borba/Vilmar Antonio Gonçalves Tondolo
CargoDiretora da Escola Superior de Negócios da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG)/Professor titular do Departamento de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis da FURG/Professor da Faculdade Atlântico Sul do Rio Grande; Pesquisador do NuPER (FURG)
1 Introdução

Até meados de 1999, o gerenciamento de materiais não representava preocupação de primeira ordem, exceto quando impedia alguma das operações previstas ou em andamento. Com uma nova política e uma nova diretoria, implementaramse mudanças gerenciais, entre elas as relacionadas à gestão de suprimentos. De forma ampla, a situação encontrada era de falta de um sistema de gestão capaz de definir condições básicas relativas a quando e quanto comprar; e, a que custo comprar e manter os estoques (TONDOLO, 1999).

No entender de Dias (1993), as empresas vêm preocupandose com o gerenciamento de materiais, conscientes da importância e do valor dos estoques, para a manutenção de operações rentáveis. Neste sentido, Ching (1999) aponta que, em muitas empresas, existe pouco interesse na logística de suprimento, pois há desconhecimento das quantidades e dos custos incorridos com o processo de gerenciamento de materiais. Por sua vez, Ballou (2001) destaca que alguns fatores têm tornado o gerenciamento de estoques na cadeia logística um problema cada vez mais importante para o sucesso das empresas, o que é reforçado por Martins e Laugeni (1998), quando enfatizam que a administração de materiais contribui para a lucratividade da empresa e para a qualidade dos serviços.

Dentro das características referidas, enquadrase o terminal graneleiro portuário, cujo setor de materiais tem a responsabilidade de fornecer os suprimentos demandados pelas diversas áreas operacionais. A fonte de fornecimento dos materiais pode ser originária dos estoques em almoxarifado, bem como das compras de aplicação direta (entregues aos usuários, sem a ocorrência de estocagem). A característica geral dos itens de manutenção em estoque e necessários à manutenção das operações da empresa é de material indireto.

O CGP, empresa onde foi desenvolvido este estudo, é constituído de dois terminais graneleiros: (i) um que foi adquirido em 1994, constituiuse no primeiro terminal portuário privado do Rio Grande do Sul e, (ii) outro arrendado, em 1997, ao governo estadual, por 30 anos. O CGP é o maior complexo graneleiro da América Latina e um dos cinco maiores do mundo em sua atividade. É de suma importância para o sistema cooperativo agropecuário gaúcho, por sua interface com o mercado internacional, sendo visto como acesso dos produtores rurais ao mercado externo.

Configurase como um recurso que o sistema cooperativo agropecuário possui para atuar no mercado. O CGP presta serviços de exportação, importação, agenciamento, despacho, expurgo e fornecimento de água potável. Possui uma capacidade estática de armazenamento de 500 mil toneladas de granéis sólidos, distribuída em 10 armazéns horizontais e um armazém vertical. A capacidade de armazenagem de granéis líquidos é de 10 mil toneladas em dois tanques. Pode receber e/ou expedir pelos modais rodoviário, ferroviário, lacustre e marítimo. Além disso, o CGP possui mais de 60% da capacidade total de carregamento de navios graneleiros do Porto do Rio Grande (TONDOLO, SCHNEIDER e BORBA, 2003; TONDOLO, 2004).

O processo de gestão do CGP é unificado, porém os resultados contábeis e financeiros são desenvolvidos separadamente, por se tratar de duas empresas (dois terminais graneleiros) de origens jurídicas distintas (SANTOS, 2003). Durante o segundo semestre de 2001, o CGP passou por uma etapa de reorganização, com troca de dirigentes e revisão e realinhamento de todos os seus processos. Para suprir a capacidade operacional, o CGP conta com um Setor de Almoxarifado e Compras (SAC). Este setor atua como um almoxarifado de manutenção, que, segundo Pozo (2001, p. 36), "é onde estão as peças que servem de apoio à manutenção dos equipamentos e edifícios, tais como rolamentos, parafusos, peças, ferramentas, etc. Normalmente, aqui estão também os materiais de escritório usados na empresa".

O SAC do complexo graneleiro portuário responde pelos suprimentos demandados por todos os setores da empresa. A origem do fornecimento pode ser de itens (entre 750 e 800) em estoque (armazenados no almoxarifado e classificados em 21 grupos), como também de itens comprados para aplicação imediata (entregues diretamente aos setores requisitantes, sem acontecer estocagem) (TONDOLO, 1999). O movimento de entrada e saída dos itens gera a necessidade de controles, preferencialmente do tipo real time.

Uma das formas de controle deriva da inserção dos dados das movimentações (entradas e saídas) no sistema informacional, e efetivase pela conferência das quantidades computadas no sistema, nas fichas de prateleira e na contagem das quantidades físicas. A forma é relativamente simples em comparação com modelos mais recentes de gestão dos estoques. A empresa utiliza como critérios centrais as variáveis - quantidades consumidas e tempo. Tais variáveis, para efeito gerencial, limitam as possibilidades de análise, pois os suprimentos podem expressarse em distintas curvas de demanda, principalmente ao se considerar a sazonalidade dos granéis agrícolas movimentados, e a tênue previsibilidade de quebra de equipamentos.

O CGP tende, então, a gerenciar estoques de manutenção com base em critérios estatísticos simples (média aritmética). Isso pode gerar resultados quantitativos aparentemente satisfatórios, mas resultados financeiros questionáveis, principalmente considerandose a alternativa de Classificação ABC, que pode utilizar todas variáveis disponíveis - quantidades consumidas, tempo e custo de contabilização (STRAUCH e BORBA, 2003a; 2003b).

A partir das...

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