Esporte LGBT e Condição Pós-Moderna: notas antropológicas
| Autor | Wagner Xavier Camargo - Carmen Silvia de Moraes Rial |
| Cargo | Doutorando da Pos-Graduacao em Ciencias Humanas (DICH), na area de Estudos de Genero. - Prof. Dra. dos Deptos de Antropologia e Interdisciplinar do CFH/UFSC |
| Páginas | 271-289 |
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Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.10, n.97, p. 269-286, jul./nov. 2009
Esporte LGBT e Condição Pós-Moderna: notas antropológicas
LGBT Sport and Post-Modern Condition: anthropological notes
Wagner Xavier Camargo1
Carmen Silvia de Moraes Rial2
RESUMO
Tomando como referência as características de uma dada condição pós-moderna e
partindo-se de considerações de uma antropologia multisituada, este artigo tem
como meta pensar sobre competições e práticas esportivas de atletas lésbicas,
gays, bissexuais e transgêneros (LGBT). Para tanto, parte-se de uma cena como
mote introdutório à discussão e entretece considerações que tem por finalidade
questionar a matriz de inteligibilidade heteronormativa do esporte convencional. Para
além de reforçar ou afastar alternativas binárias recorrentes no ambiente esportivo,
coloca-se como fundamental refletir sobre as práticas de esporte correntes no
segmento LGBT e, assim, analisar essas manifestações e o que as caracterizam
como esporte. Por fim, tece considerações finais sobre tais cenários competitivos
como manifestações do pós-moderno, além ponderar sobre as performances dos
corpos naquele espaço.
Palavras-chave: Estudos de Gênero. Esportes LGBT. Condição Pós-moderna.
Antropologia Multisituada.
ABSTRACT
Compared with some of the characteristics of post-modern condition and starting
from considerations of a multi-sited anthropology, this article aims to reflect on
competitions and games for lesbian, gay, bisexual and transgender athletes (LGBT).
For this purpose, an introductory scene is chosen as a theme for discussion and
interweaves considerations which aim to challenge the heteronormative matrix of
intelligibility of the conventional sports. Beyond the boundaries of improving or
rejecting applicants binary alternatives in the sports arena, is essential to consider
the current practice of sport LGBT segment and, finally some comments will be done
on competitive scenarios such as manifestations of the postmodern, reflecting on the
performance of bodies in that space.
Key-words: Gender Studies. LGBT Sports. Post-Modern Condition. Multi-sited
Anthropology.
1 Doutorando da Pos-Graduacao em Ciencias Humanas (DICH), na area de Estudos de Genero. Sub-
area de especialidade: Antropologia Social e Antropologia do Esporte. camargow@ymail.com
2 Prof. Dra. dos Deptos de Antropologia e Interdisciplinar do CFH/UFSC; Pesquisadora do CNPq;
Coordenadora do Núcleo de Pesquisas Audiovisuais e Estudos da Imagem (NAVI) e GAUM (Grupo
de Antropologia Urbana e Marítima). carmensilviarial@gmail.com
Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.10, n.97, p. 271-289, jul./dez. 2009
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1. INTRODUÇÃO
Como fenômeno sociocultural contemporâneo e multifacetado, o esporte
engendra uma vasta gama de possibilidades analíticas — apesar de pouco
exploradas pelas Ciências Humanas em geral —, que configuram os campos de
estudos sociológicos e antropológicos, tanto no Brasil, quanto no mundo.
Antes de atentar para tais possibilidades analíticas, há que se perceber que
não só o mundo não é o mesmo de quando Pierry de Fredy — o aristocrata francês
conhecido como Barão de Coubertin (RAMOS, 1982) — reeditou o esporte em sua
versão moderna em 1896, como o próprio ―esporte moderno‖ também se expandiu,
se diversificou e sofreu metamorfoses intrínsecas3.
O presente artigo interessa-se por uma manifestação esportiva específica: os
jogos e competições voltados para atletas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e
transgêneros). Aqui será tratado como ―esporte queer‖4. O argumento central a ser
desenvolvido é o de que tais competições só podem ser tratadas como produtos de
uma dada condição pós-moderna, entendida no sentido lyotardiano como um estado
indefinido de transformações culturais e políticas que afetaram a vida e a arte e
trouxeram a instabilidade de certezas instituídas e de explicações condensadas e
incrustadas em boxes explicativos (LYOTARD, 1986).
Então, o mote introdutório para o desenvolvimento da análise é uma cena
retirada da 7ª edição das Olimpíadas Gays (Gay Games), que tiveram lugar na
cidade de Chicago (EUA), em 20065. O recorte é circunscrito à prova de 400 metros
rasos com barreiras, na modalidade atletismo. A seguir passa-se à descrição da
mesma e à proposta a ser engendrada.
3 Quando se fala em ―expansão‖ pode-se pensar em aumento de modalidades e subdivisões das
mesmas em inúmeros torneios e campeonatos; por ―diversificação‖, entende-se o aparecimento do
EPT (Esporte para Todos), do esporte paraolímpico, dos festivais de ginástica geral; e, por
―metamorfoses intrínsecas‖, alterações de regra s e regulamentos para fins de transmissão televisiva.
Tais dimensões, no entanto, extrapolam as fronteiras deste manuscrito.
4 O queer é uma designação subversiva: ao mesmo tempo que engloba todas as categorizações
relativas à população LGBT, não nomeia nenhuma delas. Por sua vez, ―esporte queer‖ é a
manifestação esportiva praticada por indivíduos do segmento anteriormente mencionado e, apesar de
paradoxal em relação ao que se chamou queer, de forma organizada e sistem ática.
5 O evento foi realizado entre 15 e 22 de julho do ano de 2006 e contou com aproximadamente
12.000 atletas participantes, oriundos de 70 países, distribuídos em 40 modalidades. Além deste
montante, havia também entre 1.500 e 2.000 voluntários, que eram da região metropolitana de
Chicago, e que deram suporte aos jogos. Esses são dados coletados e resumidos dos seguintes
jornais: ―Windy City Times‖, Chicago Free Press, Red Eye (publicação do Chicago Tribune). Com
exceção da edição de fim de semana do ―Red Eye‖, os outros do is são jornais da Comunidade de
Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais e Travestis (GLBTT) de Chicago.
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