O espaço neoliberal: uma análise do discurso dos editoriais da revista Veja (1985-1989)

AutorJoão Paulo Rossatti
CargoMestre em História pela Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá/MT, Brasil
Páginas431-448
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DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2017v24n38p431
O espaço neoliberal: uma análise do discurso dos editoriais
da revista veja (1985-1989)
The neoliberal space: a discourse analysis of editorial veja
magazine (1985-1989)
João Paulo Rossatti*
Resumo: A revista Veja é, atualmente, um dos baluartes que perpetram o
discurso de defesa das políticas neoliberais, já que defende o livre mercado, as
liberdades econômicas e encolhimentos do Estado. Mas, para entender como
esse discurso funciona hoje em nossa democracia, é preciso voltar ao começo
da “Nova República” para perceber como a revista criou o que chamamos de
“espaço neoliberal”, utilizando suas páginas para semear ideias próprias a essa
política e que, de modo geral, iriam nortear as políticas nacionais na década
de 1990.
Palavras Chave: Política; revista Veja; neoliberalismo.
Abstract: Veja magazine is currently one of the stalwarts who perpetrate
the discourse of defense of neoliberal policies, as it defends the free market,
economic freedoms and shrinks the state. But to understand how this discourse
works today in our democracy, we must return to the beginning of the “New
Republic” to see how the magazine created what we call “neoliberal space”,
using its pages to sow own ideas to this policy and that in general, would guide
national policies in the 1990s.
Keywords: Politics; Veja magazine; neoliberalism.
* Mestre em História pela Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá/MT, Brasil.
E-mail: jprossatti@gmail.com
Artigo
432
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p.431-448, dez. 2017.
Introdução
Durante a década de 1980 a revista Veja viveu grandes momentos e se
consagrou como a mais importante revista semanal do país. Sua audiência média
variou num número entre quatro e cinco milhões de leitores (cálculo feito pela
própria revista), o que denota sua grande penetração no mercado publicístico.
Ler uma revista desse porte e entender seu posicionamento, a partir dessas
informações, é muito importante, pois apesar de em diversos momentos seu
discurso estar alinhado às posições do governo militar1, ela defendeu a abertura
política e a normalização das instituições democráticas. Para esta análise, sem
desconsiderar a grande importância das reportagens em uma revista, escolhemos
trabalhar apenas com o discurso perpetrado pelos editoriais do periódico, na
seção chamada de “carta ao leitor”, que à época eram redigidos pelo jornalista e
diretor de redação José Roberto Guzzo (o jornalista ocupou este cargo de 1976
até 1991). Porém, antes de adentrarmos na análise do discurso vamos fazer
uma pequena incursão pelo funcionamento do discurso jornalístico em revistas
semanais e depois de feito isso tentaremos delimitar o espaço de atuação do
editorial no interior do discurso jornalístico de periódicos.
Os veículos de comunicação trabalham especicamente com uma
mercadoria: informação. O contrato midiático implícito entre o público
consumidor e o produtor de notícias pré-estabelece algumas regras básicas que
delimitam os espaços internos e externos de atuação do agente informativo. O
ato de informar, nesse sentido, supõe a transmissão de um saber, ou seja, alguém
que sabe algo transmite essa informação para alguém que não sabe, tirando o
sujeito da situação de desconhecimento e lhe concedendo benevolamente um
saber2. Contudo, informar é um ato que faz um recorte da realidade. O sujeito
informador seleciona os fatos em função de seu público alvo, o que denota a
escolha de alguns assuntos e a exclusão de outros. A ação de selecionar o que
se deve comunicar, portanto, é uma escolha e como arma o linguista francês
Patrick Charaudeau:
[…] não somente escolha de conteúdos a transmitir, não
somente escolha das formas adequadas para estar de acordo
com as normas do bem falar e ter clareza, mas escolha de
efeitos de sentido para inuenciar o outro, isto é, no m das
contas, escolha de estratégias discursivas.3
Podemos armar, junto com Charaudeau, que todo discurso representa
uma relação (de intencionalidade) com o mundo, isto é, a informação
midiática não pode ser colocada em termos de delidade aos fatos narrados,
pois as estratégias discursivas utilizadas, na escolha dos acontecimentos,
impossibilitam, por denição, a transparência e a neutralidade, de modo
que podemos congurar isso como uma relação processual entre a mídia e
o consumidor da seguinte maneira: existe o “mundo a descrever” no qual a

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