Envolvimento com o crime e cotidiano

AutorHerminia Castro Silva - Hilda Daniela Oliveira
CargoCientista social, mestre e doutora em Educação pela UFRJ. Atualmente vinculada ao Programa de Mestrado Profissional em Desenvolvimento Local da UNISUAM/RJ. Autora de literatura infanto juvenil. Editora da Revista Augustus - B4 na área interdisciplinar - de 2004 até 2010 - Bolsista do Programa de Bolsas de Iniciação Científica UNISUAM e aluna do...
Páginas105-125
DOI:10.5007/1984-8951.2011v12n100p105
Envolvimento com o crime e cotidiano
Involvement with crime and daily life
Herminia Castro Silva
1
Hilda Daniela Oliveira2
RESUMO
Partindo e uma pesquisa realizada com adolescentes infratores internados no
Departamento Geral de Ações Sócio-educativas DEGASE, o presente texto tem
por objetivo discutir o papel desempenhado pelo jovem no processo de
estabelecimento das interações vivenciadas no cotidiano de sua vida na
criminalidade, tentando perceber as influências, os modelos de conduta, disponíveis
para eles durante o seu processo de socialização, dentro do contexto das
comunidades ocupadas pelos comandos envolvidos com o comércio de varejo de
drogas ilegais.
Palavras chave: Comércio de drogas. Adolescentes. Cotidiano. Socialização.
ABSTRACT
Considering a research on young offenders confined at the General Department of
Social and Educational Actions (DEGASE), this paper aims to discuss the role played
by these teenagers in the building of their own everyday interactions inside criminal
life, trying to realize the influences and behavior models available for them during
their socialization process, inside communities occupied by gangs ("comandos")
involved in the illegal drugs trade.
Key words: Trade in drugs. Teenagers. Daily life. Socialization
1 INTRODUÇÃO
A infração infanto-juvenil é um dos problemas fundamentais para sociedade
brasileira atual. Principalmente quando percebemos que o aumento dos índices de
1 Cientista social, mestre e doutora em Educação pela UFRJ. Atualmente vinculada ao Programa de
Mestrado Profissional em Desenvolvimento Local da UNISUAM/RJ. Autora de literatura infanto
juvenil. Editora da Revista Augustus - B4 na área interdisciplinar - de 2004 até 2010.
hcsilva@unisuam.edu.br
2 Bolsista do Programa de Bolsas de Iniciação Científica UNISUAM e aluna do Curso de Serviço
Social. daniela_22melo@hotmail.com
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não Adaptada.
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Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.12, n.100, p.105-125, jan/jul 2011
criminalidade está associado ao comércio de varejo de drogas ilegais e a mão-de-
obra de crianças e adolescentes é a mais usada nessa atividade.
Nesse texto, apresentamos uma tentativa de dar resposta a seguinte
indagação: porque o comércio de varejo de drogas ilegais é um mercado ocupado,
de forma preponderante, por jovens e adolescentes? De forma específica, ao
formularmos esta pergunta, estamos no cerne de uma das mais perenes questões a
acompanhar os autores que trabalham com essa problemática: ao buscarmos a
explicação da inserção de determinados jovens naquela atividade, nos perguntamos,
quem é o responsável, o ambiente ou as inclinações pessoais? A delinqüência
juvenil é um produto das estruturas sociais ou é uma resposta particular do indivíduo
na sua relação com o mundo?
As discussões travadas na sociedade onde se busca compreender a relação
do jovem com a delinqüência podem passar por dois focos distintos: em um deles o
jovem é, antes de tudo, um produto do meio, no outro, ele fez uma escolha racional,
em algum momento e por isso escolheu essa entre as opções oferecidas.
Focalizar o sujeito ou a estrutura não nos interessa aqui. Vamos trabalhar
com uma matriz sociológica que considera o sujeito e a sociedade como fenômenos
indissociáveis. Dentro dessa matriz as interações estabelecidas em tempo real em
cenários específicos são o foco da abordagem. O sujeito não é um produto do meio,
um objeto onde as forças sociais atuam, nem um dado, uma verdade imanente que
se relaciona com a realidade exterior a partir de suas tendências inatas. Sujeito e
sociedade, indivíduo e interações, são produzidos ao mesmo tempo, e mesmo o
cenário onde as interações acontecem, é um elemento constitutivo das ações e das
situações que nele se desenrolam.
Essa abordagem teórica é mais fecunda porque ela foge das explicações que
indiferenciam contextos, possibilitando focalizar a importância que a ação dos
comandos, e de seus associados do poder público, tem nos cenários onde o
envolvimento de crianças e adolescentes com o crime se desenrola. Ela também
busca fugir da associação frequente entre pobreza e crime, focalizando a exposição
direta de determinados sujeitos, dos estratos sociais médios e inferiores, à ação das
facções e do embate entre essas facções e os agentes de segurança, muitas vezes
corruptos ou violentos. Essa abordagem também potencializa as bases para se
definir uma intervenção. Ter como pressuposto teórico a indissociabilidade entre
sujeito e sociedade fortalece a importância das relações intersubjetivas nas

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