Entrevista com o ministro Paulo Brossard

AutorFernando de Castro Fontainha/Ângela Moreira Domingues da Silva/Izabel Nuñez
Páginas42-105
42 HISTÓRIA ORAL DO SUPREMO [VOLUME 20]
Entrevista com o
ministro Paulo Brossard
PROJETO > O Supremo por seus ministros: a história
oral do STF nos 25 anos da Constituição (1988 - 2013)
ENTREVISTADO >Paulo Brossard
LOCAL > Porto Alegre - RS - Brasil
ENTREVISTADORES > Fernando de Castro Fontainha,
Ângela Moreira Domingues da Silva, Izabel Saenger
Nuñez.
TRANSCRIÇÃO > Liris Ramos de Souza
DATA DA TRANSCRIÇÃO > 19 de julho de 2013
CONFERÊNCIA DE FIDELIDADE > Izabel Nuñez, Leonardo
Sato, Thiago Filippo
ENTREVISTA > 14 de junho de 2013
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Fundação Getulio Vargas
Centro de Pesquisa e Documentação de
História Contemporânea do Brasil (CPDOC)
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PAULO BROSSARD
Apresentação e origens familiares; Vinda do pai
ao Brasil; Morte do pai; Convite à Alemanha e
visita à Casa Augusto de Freitas (Hamburgo) em
memória ao pai
[FERNANDO FONTAINHA > F.F.] 14 de junho de 2013, esse é o
projeto “O Supremo por seus ministros, a história oral do STF nos
25 anos da Constituição”. Nós estamos aqui em Porto Alegre, no
escritório do ministro Paulo Brossard, esta é a entrevista com ele
mesmo, então presente o ministro; presente eu mesmo, professor
Fernando Fontainha da FGV Direito Rio; presente a professora
Ângela Moreira do CPDOC, presente a Izabel Saenger Nuñez,
assistente de pesquisa da FGV Direito Rio; presente Ítalo Viana,
analista de documentação do CPDOC. Ministro, nós gostaríamos
de começar nossa entrevista pedindo ao senhor que dissesse o seu
nome completo, local e data de nascimento, o nome dos seus pais
[PAULO BROSSARD > P.B.] Paulo Brossard de Souza
Pinto, nascido em Bagé, Rio Grande do Sul, fronteira com o
Uruguai, a 23 de outubro de 1924,  lho de Francisco de Souza
Pinto, português, e de Alila Brossard de Souza Pinto, brasileira,
bageense. O meu pai veio para o Brasil no  m do século XIX, com
13 anos de idade, sem parentes, sem amigos, sem conhecidos.
Veio só. Passou pelo Rio, não gostou, havia febre amarela; passou
por Santos, não gostou, depois foi até o Rio Grande. Ali terminava
a passagem, ali desembarcou. Ficou algum tempo, pouco tempo,
na cidade do Rio Grande, mas ele me disse que não gostava de
cidade marítima e eu descon o − ele nunca me disse e nem eu
perguntei −, mas eu descon o que é na cidade têm os vapores,
e que apitam, não é? Quando chegam, quando saem, etc. e tal,
quando se movimentam. E o apito deve acordar saudades, não é?
Ninguém resiste a um apito na beira do mar assim. Eu acho que
por isso é que dali ele se mudou para Pelotas e depois foi, viveu
toda a sua vida praticamente em Bagé, onde faleceu. Meu pai,
como se pode imaginar, nas condições em que chegou, Portugal
44 HISTÓRIA ORAL DO SUPREMO [VOLUME 20]
naquele tempo, veio de uma aldeia, em Marco de Canaveses.
É um distrito, uma aldeia, Passos de Gaiolo. Eu estive lá, um
século depois, e era isso aqui [faz pequeno círculo com as mãos
em frente ao corpo]. De modo que pode imaginar que era com os
conhecimentos mais rudimentares de uma pessoa do interior
português daquele tempo. Mas trabalhou, aqui, organizou
família, tudo o mais; morreu moço, um problema do coração
etc.. Sempre tinha gozado muita saúde, excelente saúde; morreu
moço. Acho que se não disse tudo, disse o essencial a respeito da
primeira questão.
[F.F.] Sem dúvida, ministro. Então, como é que era o contexto,
ministro, da casa em que o senhor cresceu, como foi sua infância,
o colégio em que o senhor estudou?
[P.B.] Bom, quando eu nasci em (19)24, meu pai já era
comerciante em Bagé, já era estabelecido. Desde 1914. Ele
tinha trabalhado, sempre dizia que tinha trabalhado 16 anos
como empregado, quando se estabeleceu. Tinha junto, parece,
não sei, não me lembro exatamente, meu irmão sabe disso, ele
tinha amealhado lá parece que quatro contos de réis, uma coisa
assim, e com isso se estabeleceu, e fez fortuna etc. e tal, trabalhou
muito. E agora então eu vou abrir um apêndice aí, que esse sim
eu acho muito signi cativo e muito honroso. Em 63, eu recebi
um convite do governo alemão para visitar a Alemanha. E lá...
os alemães recebem a gente de uma forma  dalga... e houve um
almoço num restaurante antigo na beira do Reno, e a pessoa
que presidia o almoço era um senhor mais idoso, maduro, e que
falava um português muito correto, muito bem pronunciado,
e muito bem... coisa que não é comum. Então eu prestei minha
admiração pelo seu português, ele disse: “Não, é que eu trabalhei
muito, quer dizer, viajei muito, muitas vezes a Portugal etc. e tal,
eu fui ao Brasil também”. “Ah, pois é...”, “Rio Grande do Sul, o
meu pai era comerciante, era exportador, e com a crise depois
da guerra então eu comecei a trabalhar, nesse ramo, viajar, como

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