Entrevista com Axel Honneth - 'As relações de trabalho no mundo atual

AutorElsa Cristine Bevian
CargoDoutora em Ciências Humanas pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil
Páginas165-183
http://dx.doi.org/10.5007/1807-1384.2016v13n2p165
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.13, n.2, p.165-183 Mai-Ago. 2016
ENTREVISTA COM AXEL HONNETH
AS RELAÇÕES DE TRABALHO NO MUNDO ATUAL
Elsa Cristine Bevian
1
O Instituto de Pesquisas Sociais (Institut für Sozialforschung) foi fundado em
1923, como um anexo da Universidade de Frankfurt, hoje intitulada Johann
Wolfgang Goethe-Universität Frankfurt am Main. A Escola de Frankfurt, desde 1930,
foi dirigida por Max Horkheimer, e reunia pensadores como Theodor W. Adorno,
Erich Fromm, Herbert Marcuse, e, contou também como membro do "círculo de fora"
do Instituto, Walter Benjamin. Estes intelectuais formularam, como sabemos, o que
conhecemos como "Teoria Crítica".
Nos anos sessenta, temos a "segunda geração", marcado pela obra de
Jürgen Habermas. Aquele que foi seu assistente entre 1984 e 1990, Axel Honneth,
veio a ser o Diretor do Instituto frankfurtiano desde 2001. Com ele inaugura-se a
"terceira geração" da Escola, cuja proposta consiste em relançar a "Teoria Crítica",
sobretudo a partir do livro Kampf um Anerkennung. Zur moralischen Grammatik
sozialer Konflikte, de 1992 (publicado no Brasil como Luta por reconhecimento - A
Gramática Moral dos Conflitos Sociais. Trad. Luiz Repa. São Paulo: Ed. 34, 2003),
tendo como ponto de partida a Fenomenologia do Espírito de Hegel. Honneth centra
sua reflexão na "teoria do reconhecimento" e, através dela, são apresentados os
limites da obra das gerações de frankfurtianos anteriores. A falta de reconhecimento
passa a ser vista como base dos conflitos interpessoais, sociais e políticos na
atualidade. Mais recentemente, Honneth publicou Das Recht der Freiheit (Berlin,
Suhrkamp, 2011 - O direito à liberdade) e Die Idee des Sozialismus (Berlin,
Suhrkamp, 2015 - A ideia do socialismo), sustentando que o socialismo está vivo
como ideia, e tem como cerne a liberdade social.
1
Doutora em Ciências Humanas pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Humanas da
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil. Mestre em Ciência Jurídica pela
Universidade do Vale do Itajaí. Professora na área do Direito na Fundação Universidade Regional de
Blumenau, Centro de Ciências Jurídicas, Blumenau, SC, Brasil. E-mail: elsabevian@gmail.com
166
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.13, n.2, p.165-183 Mai-Ago. 2016
Foi durante a realização do estágio doutoral, em 2014, no Instituto de
Pesquisas Sociais de Frankfurt, que aconteceu o encontro e a entrevista com o
Diretor do Instituto, Axel Honneth. O foco da breve entrevista, aqui apresentada no
original alemão e em tradução portuguesa
23
, são as análises das relações de
trabalho no mundo atual. Para introdução à entrevista, apresentei o texto que aqui
segue parcialmente:
Elsa C. Bevian: Professor Honneth, estou estudando o reconhecimento como
estrutura própria para aplicação nas estruturas sociais, como categoria social. O
papel do trabalho, na luta articulada para construção do sujeito de direitos e o seu
reconhecimento. Estou investigando como o trabalhador pode encontrar seu espaço
moral e político no mundo do trabalho, com a economia globalizada. Estudo o
fenômeno do adoecimento dos trabalhadores, especialmente com as doenças
ocupacionais (lesões por esforços repetitivos e doenças psíquicas, como a
depressão, decorrente do trabalho).
Na sua obra, Luta por Reconhecimento, o Sr. escreve que o dano físico se
converte em uma injustiça moral, se a pessoa afetada vê nesta atuação um
menosprezo intencional, que afeta seu bem-estar. E esta pode ser considerada a
forma mais básica de humilhação do ser humano, que o priva da autonomia física
em sua relação consigo mesmo, e com isto, destrói parte de sua confiança básica no
mundo.
Estas doenças ocupacionais provocam seqüelas, dores, atrofias do corpo.
Pode-se afirmar que é uma das formas mais cruéis da atual exploração capitalista,
isto sem falar, é claro, no desespero provocado pelo desemprego. O trabalhador não
quer adoecer, mas também não quer perder o emprego. Por esta razão, acaba se
sujeitando a relações desumanas no local de trabalho, com ritmos de trabalho muito
acelerados, longas jornadas de trabalho e ainda com assédio moral, para que ele
produza mais, em menos tempo e com qualidade, e para que os produtos sejam
competitivos no mercado global.
Também estou analisando quais as possibilidades de ação e resistência que
os trabalhadores encontram para a prevenção das doenças ocupacionais, e
2
A entrevista gravada foi transcrita e depois traduzida por Klaus Rehfeld
3
O texto final em português e em alemão contou com a releitura e revisão de Selvino Assmann.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT