O que se ensina em um curso de direito? Qual a formação do professor?

AutorPaulo Bandeira
Ocupação do AutorAdvogado Mestre em Direito
Páginas55-59

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Quem é esse profissional? Qual sua formação? O que entende de “didática do ensino superior”?

Nos bancos da faculdade de Direito, e já disse isso, conheci os tipos mais diferentes de professores. O “engraçadinho”, o “amiguinho da turma”, “a sofrida”, “a tensa”, o “gago”, o “arrogante”, o “pedante”, professores autoritários, enfim, uma gama de personagens. Todos eles, sem exceção, pelo menos na minha ótica, tinham em comum uma coisa: não sabiam lecionar. Nunca ouviram falar em didática do ensino superior,

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aliás, nunca ouviram falar em didática. Boa parte dos professores permanecia sentado, falando sozinho, como se não tivesse ninguém ali. Outros, em pé, somente liam o código ou algumas anotações. Sobre esse assunto, lembro-me de uma professora que só sabia dar aula com suas “fichinhas”. Determinado dia esqueceu as mesmas em casa. Foi um “Deus nos acuda!” A mulher passou mal (ou fingiu) e saiu de sala. Por fim, tínhamos os professores famosos, grandes escritores, Desembargadores, Juízes, Promotores etc. Esses, bem...esses, nem lembro direito o nome. Eram de uma arrogância a toda prova. Passavam a aula toda contando “causos”, vitórias (ninguém contava derrota) e, de vez em quando, faltavam e mandavam um “substituto”, algo que nunca entendi bem, pelo menos aqueles substitutos. No dia da prova, quando não exigiam que seus livros fossem comprados, mandavam (isso mesmo, mandavam!) que os alunos arrancassem uma folha de caderno e sacavam uma questão do tipo: “discorram sobre...”. Diz a lenda que os professores pediam para seus estagiários corrigirem as provas e, até, segundo contam, alguns jogavam as provas em uma escada. A que caísse no alto tiraria dez. Não sei se é verdade mas, ao que me lembre, nunca vi uma prova corrigida, muito menos discuti algo. Eu era o aluno “crediário”, parcelado em três vezes. Duas notas principais e o exame final. “Passa a régua”! Já que não entendia o que eles falavam, tentava buscar nos livros (não nos deles) e, de alguma forma, me saía na média.

Exatamente por conta desses professores, em meados dos anos 1990 resolvi ingressar no magistério superior (lecionei também no ensino médio). Assim como o susto inicial em sala de aula, na qualidade de aluno, fiquei deveras assustado, ou talvez preocupado, com o que vi. Em um momento inicial pensei (e até hoje, às vezes, ainda penso) que o problema era meu. Não parecia crível que o tal “ambiente acadêmico” do Direito fosse tão chato, monótono e conservador...

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