Internacionalização de empresas russas no Brasil: configurações de transação para o fornecimento de carne bovina

AutorKarim Marini Thomé - Fabrício Oliveira Leitão - José Márcio Carvalho - Enzo Lenine Nunes Batista Lima - Patrícia Santana Costa Gomes - Marcus Alexandre Rodrigues Ruzzon
CargoDoutorando em administração pela UFLA - Mestre em agronegócio pela UnB, professor no INESC. - Doutor em Administração pela Universidade de Reading - UK - Bacharel em Relações Internacionais pela UnB - Bacharel em Relações Internacionais pela UNICEUB - Economista pela UNEB, analista de negócios internacionais ThunderTrade.
Páginas169-189

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Karim Marini Thomé 1

Fabrício Oliveira Leitão 2

José Márcio Carvalho 3

Enzo Lenine Nunes Batista Lima 4

Patrícia Santana Costa Gomes 5

Marcus Alexandre Rodrigues Ruzzon 6

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1 Introdução

Dentre os países de maior expressão na produção de carne bovina estão Estados Unidos da América (EUA), Brasil, União Europeia (UE) e China, que juntos corresponderam a 67% da oferta de carne bovina no ano de 2006. Quando se analisa em uma perspectiva global, percebese que de 2001 a 2005 a produção de carne bovina cresceu 4,7%. Notase, entretanto que neste período a produção brasileira aumentou 21,2% e a chinesa 30,8%. Por motivos de problemas sanitários de momentos anteriores, EUA e União Europeia tiveram uma redução de produção de 5,5% e 3,2%, porém, mesmo com tal redução, esses centros de produção permanecem entre os grandes produtores mundiais de carne bovina (SABADIN, 2006).

Estimativas da FAO (2008) colocam o mercado mundial de carne bovina desossada e industrializada como responsável pela circulação de aproximadamente 40 bilhões de dólares no ano de 2007. Esse mercado vem crescendo mais rapidamente do que o aumento populacional, ou seja, essa informação dá conotação de que o consumo de carne bovina não cresce apenas em função do aumento populacional, mas também devido à mudança de hábitos. Podese afirmar que no mundo aumenta o consumo per capita de carne bovina.

O Brasil firmouse neste cenário, em 2006, como maior exportador mundial de carne bovina, sendo o responsável pelo envio ao mercado externo de 2.420 mil toneladas em 2007. Esse valor representa assim mais de 50% do volume mundial, resultando em 4.552 milhões de dólares que trouxeram resultados expressivos à balança comercial do país. Apenas para ilustrar a evolução, no período de 2000 a 2007, o Brasil teve um crescimento de 579% nas exportações desse produto (CNPC, 2008).

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Internacionalização de Empresas Russas no Brasil: configurações de transação para o fornecimento de carne bovina

O principal parceiro comercial do Brasil neste setor é a Rússia, que importou o montante de 967 milhões de dólares no ano de 2007 (MAPA, 2008). Inseridas nesse macroambiente contemporâneo estão as empresas, as quais tiveram que agilmente se adaptar a essa nova situação de parcerias e comércio internacional. Freitas (2006) frisa em seu trabalho que a internacionalização de empresas não é mais apenas transpor fronteiras, ressalta que o conceito abrange o foco de aprendizagem, aporte econômico, processos de evolução e preparo de novos ambientes e melhoria do relacionamento organizacional (network).

Diante dessa situação, fazse necessário um modo diferente de pensar, entender e interpretar estímulos presentes em tal cenário. Organizações russas atuantes no comércio de carne bovina brasileira são o objeto do presente estudo, que visa configurar e analisar a maneira que elas se internacionalizaram no sentido do mercado fornecedor brasileiro. As configurações das transações internacionais são visualizadas por meio da metodologia de Representação Gráfica e interpretadas pelo aporte da Economia dos Custos de Transação.

2. Referencial Teórico
2. 1 Internacionalização

A globalização, intensificada no pósguerra, teve um suporte institucional na Conferência de Bretton Woods. O mapa econômico mundial sofreu alterações e as fronteiras perderam muito de seu poder. Indubitavelmente, a tecnologia acelerou o processo de internacionalização, quer seja pela volatilização do capital, quer pela simplificação da troca de informações. Nunca se teve um patamar tão grande de interligação, chegandose a ter uma situação de aldeia global ou globalização (WOODS, 2001).

As organizações inseridas nesse novo sistema macroambiental tiveram que se adaptar à nova situação, que impunha novas diretrizes e competências para o alinhamento de organizações no ato de transpor fronteiras (ANDERSSON, 2004). Assim, admitese um vasto leque de possibilidade de estudos, tendo como objetivo a internacionalização. No presente estudo foi adotada como referencial teórico a economia organizacional.

Inicialmente devese focar a dimensão da firma, das suas atividades, abrangência, características e estrutura para somente então dimensionar a

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capacidade da firma em se moldar ao ambiente exterior, conforme postulado por Mulvihill (1973). A organização que pretende conquistar avanços na internacionalização inicia um processo de aprendizagem no qual novas competências são construídas a partir de competências anteriores.

Freitas (2006) deixa claro que essas atitudes influenciam a decisão do modo de entrada em um negócio internacional e na escolha do local desse negócio. Outro fator a ser pensado é se essa atuação em negócios internacionais trará o resultado esperado pela firma, e se será compensatório levandose em consideração as mudanças organizacionais necessárias para tal.

Para a iniciação desse processo, no caso a entrada em novos mercados, diversas estratégias podem ser adotadas de acordo com Almeida (2006): a) via agentes importadores ou empresas comerciais exportadoras; b) por meio de rede já estabelecida de outro exportador ou importador; c) via fornecimento de matériaprima ou produtos semiacabados; d) estabelecimento de joint venture; e) criação de consórcio e cooperativas de importação ou exportação.

Nessa contextualização, é importante discutir o limite organizacional e a sua articulação para a gestão de negócios internacionais. Para tanto, tomase neste artigo o conceito de internacionalização de Ghanatabadi (2005, p. 5) como sendo: “um processo específico de atitudes ou orientações que são associadas aos sucessivos estágios de evolução das operações internacionais”.

2. 2 Economia dos Custos de Transação (ECT)

A ECT foi construída por um grande número de pesquisadores com formações e objetivos variados. Alguns desses investigadores contribuíram para o enriquecimento da teoria com a criação e o uso de novas construções capazes de analisar a complexidade das transações econômicas. Coase (1978) conseguiu o mérito no desenvolvimento da teoria por causa de sua proposta adiantada para visualizar mercados e empresas como estruturas alternativas de governança. No mesmo trabalho, houve a indicação da existência de custos envolvidos nas transações no mercado. Os custos da transação de mercado mais comuns são: o custo de encontrar os preços relevantes; os custos de escrever contratos da transação; e os custos de alcançar o acordo. Se a soma de todos esses custos for elevada, a alternativa será manter a transação dentro de uma única organização. Nesse caso todos os problemas do sistema do preço são substituídos pelo mecanismo da coordenação de uma empresa.

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Inversamente, se o mecanismo da coordenação for demasiado caro, as transações serão executadas em um custo mais baixo fora da estrutura de uma organização, no que se denomina de transações do tipo mercado (COASE, 1978; NORTH, 1990; DOUMA; SCHREUDER, 1998).

Para apreciar as transações, Williamson (1985) propõe a sua análise com base na especificidade dos ativos envolvidos, na frequência com que ocorrem as transações e na incerteza delas. Com base nesses atributos, o autor direciona o pensamento para o limite organizacional exemplificado em uma tipologia de contrato que mostra como a organização desempenha suas atividades, sendo expressas em quatro tipos de contrato: a) clássico; b) neoclássico, c) relacional e d) hierárquico.

A configuração do arranjo contratual desenvolvidos pelas organizações

é, basicamente, influenciado pela especificidade dos ativos necessários e com a frequência de ocorrência das transações. O contrato do tipo clássico é empregado principalmente para viabilizar transações que não precisam de ativos específicos e de baixa frequência de ocorrência, no outro extremo, com maior nível de especificidade e frequência, podem culminar na hierarquização de atividades por uma das organizações. As organizações sempre buscam os menores custos de transação (WILLIAMSON, 1993).

2. 3 Comércio Internacional de Carne Bovina

Para Bliska e Gonçalves (1998, p. 164), o comércio de carne bovina é definido como:

[...] um conjunto de componentes interativos, tais como diferentes sistemas produtivos, fornecedores de serviços e insumos, indústrias de processamento e transformação, distribuição e comercialização de produtos e subprodutos, e seus respectivos consumidores finais.

Tratandose do comércio internacional, essa conjuntura é muito mais complexa, uma vez que além dos agentes envolvidos, tratase de interações entre organizações em diferentes ambientes institucionais. No comércio internacional de carne bovina, o maior importador é a Rússia, sendo o seu principal fornecedor o Brasil. Esse comércio movimentou um montante de aproximadamente 1 bilhão de dólares no ano de 2007 (MAPA, 2008).

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A intenção deste artigo é justamente representar e analisar as transações...

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