Elementos para uma reflexão sociológica sobre o fenômeno da mobilidade de investigadores e cientistas

AutorSandra Moreira - Emilia Rodrigues Araujo
CargoMestre em Políticas Comunitárias e Desenvolvimento Territorial, desenvolve funções no gabinete de relações Internacionais da Universidade do Minho - Professora doutora do Departamento de Sociologia da Universidade do Minho. Tem pesquisas no âmbito da sociologia do tempo e estudos sociais de ciência e tecnologia
Páginas227-254
Política & Sociedade - Florianópolis - Volume 11 - Nº 20 - abril de 2012
Artigos
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Elementos para uma reexão sociológica
sobre o fenômeno da mobilidade
de investigadores e cientistas
Sandra Moreira1
Emília Rodrigues Araújo2
Resumo
O presente texto dedica-se à discussão do conceito de mobilidade de
profissionais altamente qualificados e sua relação com os fenômenos
de fuga e circulação do conhecimento. Num contexto de declínio
demográfico e consequente reforço da mobilidade de estudantes,
investigadores e cientistas, assim como outros profissionais, muitos
países colocam em prática medidas para atrair novos talentos que
possam reforçar as dinâmicas das suas instituições e apoiar o seu
desenvolvimento econômico. As conclusões a que chegamos mostram
a necessidade de repensar a mobilidade destes profissionais a partir
de um quadro analítico que considere os modelos e os processos de
estratificação da ciência no mundo.
Palavras-chave: mobilidade, conhecimento, circulação.
1. Introdução
Este texto constitui uma reflexão sobre o conceito de mobili-
dade de profissionais altamente qualificados, nomeadamente
1 Mestre em Políticas Comunitárias e Desenvolvimento Territorial, desenvolve funções
no gabinete de relações Internacionais da Universidade do Minho.
2 Professora doutora do Departamento de Sociologia da Universidade do Minho. Tem
pesquisas no âmbito da sociologia do tempo e estudos sociais de ciência e tecnologia.
Email: emiliararaujo@gmail.com.
http://dx.doi.org/10.5007/21757984.2012v11n20p227
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investigadores e cientistas. A mobilidade de cientistas e de inves-
tigadores surge nas últimas décadas como um importante motor
de transmissão de conhecimento e inovação e, por conseguinte,
de desenvolvimento, a vários níveis (ACKERS, 2005; ARAÚJO, 2007;
DELICADO, 2008; SOLIMANO, 2008). Este processo pode ser defini-
do como o movimento geográfico de investigadores entre países.
Por norma, considera-se que esta mobilidade tem como objetivo
o desenvolvimento das suas competências, acedendo a melhores
oportunidades na carreira acadêmica científica (MAHROUM, 2000;
ACKERS, 2005; PIRRALHA, FONTES; ASSIS, 2009: 3). Neste contexto,
e nos tempos atuais, abraçar a carreira de investigador e cientis-
ta corresponde, globalmente, a assumir o compromisso de investir
na realização de percursos de mobilidade geográfica internacional
(MEYER et al., 2001). Este imperativo surge a partir da constatação
dos efeitos da crise econômica e financeira sobre os sistemas de ci-
ência e tecnologia, assim como da intensificação dos mecanismos de
avaliação de desempenho que contam, cada vez mais, com a inter-
nacionalização como indicador de desempenho. Múltiplos fatores
podem ser cruzados, na tentativa de descortinar como se adaptam
os indivíduos a este condicionamento e de que forma a mobilidade
influi sobre a capacidade de a ciência e a tecnologia contribuirem
para a melhoria das condições de equilíbrio e de justiça no mundo.
Múltiplos são também os pontos de vista sobre os mecanismos e
os efeitos que as mobilidades desencadeiam para os países e socie-
dades envolvidas. Uns tendem a enfatizar a mobilidade como um
percurso natural essencial à economia do conhecimento. Outros,
olham para esta realidade como resultado de roturas sistemáticas
nos modelos políticos e econômicos, nomeadamente em contexto
de erosão das fronteiras dos estados-nação. Com efeito, no caso da
Europa, existem estudos (COMISSÃO EUROPEIA, 2008) observando
vários obstáculos à manutenção e fortalecimento do estoque regio-
nal de investigadores qualificados necessários para alimentar o sis-
tema de investigação e inovação europeu (COMISSÃO EUROPEIA,
2008; SOLIMANO, 2008). Entre eles, constam a dificuldade de atra-
ção e a frágil capacidade de retenção de investigadores. É certo que
a crescente internacionalização da ciência conduziu a uma maior

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