Educação superior e trabalho em Santa Catarina: um enfoque nas carreiras de aplicação direta de ciência e tecnologia
| Autor | Carolina Custodio, Patricia Bonini |
| Páginas | 82-112 |
82
http://dx.doi.org/10.5007/2175-8085.2019v22n1p82
Rev. Text. Econ., Florianópolis, v. 22 n. 1, p. 82 – 112, 2019.1 ISSN 2175-8085
Educação Superior e Trabalho em Santa Catarina: um enfoque nas
carreiras de aplicação direta de ciência e tecnologia - STEM1
Tertiary education and work in Santa Catarina: a focus on the STEM careers
Carolina Custodio
carolinafcustodio@gmail.com
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)
Patricia Bonini
patriciabonini@gmail.com
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)
Resumo: Este artigo apresenta o perfil de carreiras e gênero dos cursos de graduação e emprego em Santa
Catarina, destacando as áreas de formação de aplicação direta de ciência e tecnologia, agrupados no acrônimo
STEM (Science, Technology, Engeneering and Mathematics). Estabelece-se uma correspondência entre os
códigos da CBO (Classificação Brasileira de Ocupações) e o grupo de carreiras STEM, conforme definido pelo
Departamento de Comércio Americano. As mulheres são 32% dos ingressantes nos cursos STEM, apesar de
serem 56% do total de ingressantes. As mulheres ocupam 21% dos empregos STEM, enquanto são 45% do total
da força de trabalho. Estimando o prêmio STEM controlando para variáveis de idade, escolaridade e
experiência, obtém-se que, na média do estado, as mulheres STEM ganham 64% a mais do que as Não STEM,
um prêmio maior do que o dos homens, que é de 62%.
Palavras-chave: Ensino superior; Diferenciais Salariais; Ciência e Tecnologia
Abstract: This article presents the gender profile of undergraduate courses in Santa Catarina, highlighting the
STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics) careers. In addition, in order to describe the STEM
labor force, we establish a correspondence between the Brazilian CBO (Classificação Brasileira de Ocupações)
codes and the STEM group of careers defined according to the US Department of Commerce – ESA (Economics
and Statistics Administration). At the university, women are 32% of the students entering in STEM courses,
despite being 56% of the total incomings. Women hold 21% of the STEM jobs, although they fill 45% of all jobs.
Controlling for pruductivity variables, such as age, scholarly and experience, on average, in Santa Catarina,
women in STEM jobs earn 64% more than women in non STEM jobs, while men in STEM job earn 62% more
than men in non STEM jobs.
Keywords: Higher education; Wage Differential; Science and Technology
Recebido em: 05-08-2018. Aceito em: 21-11-2018.
1. INTRODUÇÃO
1 As autor as agradecem ao a poio da FAPESC, que financia o projeto de pesquisa que deu or igem ao presente
artigo
83
http://dx.doi.org/10.5007/2175-8085.2019v22n1p82
Rev. Text. Econ., Florianópolis, v. 22 n. 1, p. 82 – 112, 2019.1 ISSN 2175-8085
A moderna teoria do crescimento econômico prognostica que a capacidade das nações
de gerar prosperidade material progressivamente – ou seja, o crescimento sustentado – é
determinada pela capacidade da força de trabalho de gerar e de aprender a lidar com novas
tecnologias. Por sua vez, tal capacidade resulta do acúmulo de capital humano, na forma de
educação e de treinamento no trabalho, como argumenta teoricamente Romer (1990) e Barro -
Lee (2000) em um tratamento empírico.
Justificam-se, então, duas fortes tendências, sobre as quais repousa o foco deste artigo,
observadas mundialmente. A primeira é o persistente crescimento da demanda mundial por
educação em nível terciário, apesar de a população em idade entre 18 e 22 anos estar estável
nos países desenvolvidos ou crescer apenas marginalmente, nos países em desenvolvimento.
Em parte, esse persistente crescimento decorre de um fenômeno ainda em curso em muitos
países, que é a convergência de capital humano entre gênero. A segunda tendência é a
preocupação, por parte de governantes e administradores, com a educação e o trabalho nas
atividades de aplicação direta de ciência e tecnologia, porque são atividades que rendem os
melhores frutos em termos de crescimento econômico. Essas atividades têm sido agrupadas,
nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no
acrônimo STEM – (Science, Technology, Engeneering and Mathematics) – definição dada,
por exemplo, por Langdon (2014) e por Acola (2013) para uma comparação internacional. As
economias fortemente baseadas nas atividades STEM apresentam um melhor desempenho em
diversos indicadores econômicos e em termos de inovação e criação de empregos. As taxas de
emprego, de patentes registradas, de salários e até mesmo de exportações são mais elevadas
nessas economias (ROTHWELL, 2013).
A literatura tem reportado algumas características da força de trabalho STEM. A
primeira é o crescimento persistente da demanda por esses trabalhadores em ritmo mais
intenso do que o aumento da demanda pelos por trabalhadores nas demais áreas. Esse
crescimento forte tem garantido aos profissionais com qualificação nas STEM maior média
salarial do que o restante do mercado de trabalho, vantagem esta que tem sido chamada de
prêmio salarial STEM. Uma segunda característica, generalizadamente observada, é a
reduzida participação feminina nas atividades STEM. Uma terceira característica é que o
prêmio STEM das mulheres é maior do que o dos homens, o que implica que o gap salarial
entre homens e mulheres que atuam na força de trabalho STEM é menor do que na média do
mercado de trabalho (BEEDE, 2013). Em algumas ocupações STEM, nos Estados Unidos, a
desvantagem feminina é, de fato, revertida (GOLDBERG; HILL, 2007).
Para continuar a ler
PEÇA SUA AVALIAÇÃO