Economia feminista, economia social e solidária, paradigma paraeconômico: repensando o paradigma hegemônico e a importância das mulheres

AutorVanêssa Pereira Simon
CargoUniversidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Brasil
Páginas1-29
Artigo
Original
Textos de Economia, Florianópolis, v. 23, n. 1, p. 1-29, jan./jul., 2020. Universidade Federal de Santa Catarina.
ISSN 2175-8085. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8085.2020.e71451 .
ECONOMIA FEMINISTA, ECONOMIA SOCIAL E
SOLIDÁRIA, PARADIGMA PARAECONÔMICO:
REPENSANDO O PARADIGMA HEGEMÔNICO E A
IMPORTÂNCIA DAS MULHERES
Feminist Economy, Social and Solidarity Economy, Paraeconomic Paradigm: Rethinking the
Hegemonic Paradigm and the Importance of Women
Vanêssa Pereira SIMON
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Brasil
vanessapsimon@gmail.com
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo propor uma re flexão a respeito da imprescindibilidade de se reconfigurar o
entendimento ac erca do paradigma h egemônico, unidimensional, centrado no m ercado. Para isso, reflete -se sobre a
premência de se romper com os binarismos e as linhas divisórias da sociedade atual e o paradigma paraeconômico, ao
propor uma análise multicêntrica, sem a predominância de nenhum dos enclaves que a compõe, apresenta-se como uma
possibilidade. Deste modo, aproxima-se da economia feminista e da economia social e solidária por ambas entenderem
a necessidade de se incorporar as atividades não mercantis e não monetárias a esse contexto. Especificamente, ambas
trazem um destaque necessário para o papel das mulheres ne ssa reconfiguração paradigmática e, por conseguinte, a
eliminação do viés androcêntrico atual.
PALAVRAS-CHAVE: Economia feminista. Economia social e solidária. Paradigma paraeconômico. Sociedade
multicêntrica.
ABSTRACT
This article aims to propose a reflection on the need to reconfigure the understanding about the hegemonic, one -
dimensional, market-centered paradigm. For this, it reflects on the urgency of breaking with the binarisms and dividing
lines of the current society and the paraeconomic paradigm, when proposing a multicentric analysis, without the
predominance of any of the enclaves that compose it, it is presented as a possibility. In this way, it approaches the feminist
economy and the social and solidarity economy because both understand the need to incorporate non-market and non-
monetary activities in this context. Specifically, both highlight the necessary role of women in this paradigmatic
reconfiguration and, therefore, the elimination of the current androcentric bias.
KEYWORDS: Feminist economics. Social and solidarity economy. Paraeconomic paradigm. Multicentric society.
Classificação JEL: B54
Recebido em: 12-02-2020. Aceito em: 12-05-2020.
2
Textos de Economia, Florianópolis, v. 23, n. 1, p. 1-29, jan./jul., 2020. Universidade Federal de Santa Catarina.
ISSN 2175-8085. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8085.2020.e71451
1 INTRODUÇÃO
A sociedade atual está configurada de maneira unidimensional, com a centralidade
no mercado, valorizando o trabalho remunerado, público e majoritariamente produzido
pelos homens em detrimento do trabalho privado, não remunerado e não monetário
desenvolvido pelas mulheres. Isto é, uma sociedade dividida em linhas em que uns são
tidos como superiores a outros, uns são considerados nas análises, em desvantagem de
outros.
Faz-se, portanto, necessário rever esse paradigma hegemônico estabelecendo outro
que contemple uma sociedade multicêntrica, que não nega a importância do econômico,
porém não é moldada por ele. Imprescindível integrar às análises, questões normalmente
desconsideradas como aspectos sociais, ecológicos, políticos. Portanto, serão primordiais
as reflexões de Chanlat, Guerreiro Ramos e Boaventura Santos na reavaliação desse
sistema prevalecente.
Ao se repensar o paradigma, um aspecto crucial a ser acrescido nessas análises é
a questão das mulheres e sua atuação. No sistema vigente, o trabalho doméstico, de
cuidado, de afeto, de reprodução e sustentação da vida, que é desenvolvido pelas mulheres
no ambiente da casa, é invisibilizado. Assim, as discussões da economia feminista serão
imprescindíveis para essa reavaliação do paradigma atual, principalmente pelas análises
desenvolvidas sobre a invisibilidade em Sprecht, a sustentabilidade da vida em Carrasco e
em Teixeira, o trabalho doméstico e de cuidado em Nobre e em Quintela, entre outras
autoras que se dedicaram a desenvolver o tema.
Como outra linha de frente nesse enfrentamento ao paradigma posto, encontra-se a
economia social e solidária que traz, em seus fundamentos, a solidariedade em oposição
ao individualismo utilitário dominante no sistema atual centrado no mercado. Incorpora
valores sociais, políticos e ecológicos em seus preceitos e estrutura-se de maneira mais
igualitária em que todos têm o mesmo espaço e as mesmas possibilidades. Assim, torna-
se uma importante aliada para a economia feminista ao possibilitar retirar a invisibilidade
das mulheres em seus empreendimentos ao considerar, e se embasar, em valores
mercantis, mas também não mercantis e não monetários, como mostram os estudos de
Guérin, Aguayo e Ramírez, Nobre e Faria, Hillenkamp, Verschuur entre outras. Importante
destacar que este trabalho se insere em uma linha de investigação, bastante consolidada,
que objetiva mostrar as confluências entre as abordagens da economia

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