Estado, economia e democracia no Brasil e na América Latina

AutorRenato Francisco dos Santos Paula
Páginas9-11
EDITORIAL
R. Katál., Florianópolis, v. 21, n. 1, p. 09-13, jan./abr. 2018 ISSN 1982-0259
Estado, economia e democracia no Brasil e na
América Latina
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Historiadores de todo o mundo afirmam que mudanças significativas aconteceram nos rumos da huma-
nidade a partir do momento em que os homens colocam em questão as explicações teocêntricas que ilumina-
ram o conhecimento humano durante muito tempo, marcando assim a passagem da Era Medieval para a
Modernidade. Essa passagem incidiu em várias áreas do conhecimento como nos enciclopedistas franceses;
na Astronomia e Física, com Pascal e Newton; na Química, com Lavoisier; na Matemática, com Descartes; na
Medicina e Biologia, de Hipócrates a Darwin; nas Artes, na Cultura, Literatura, nas Engenharias e em todos os
objetos cognoscíveis, possíveis de serem submetidos à racionalidade humana tendo o homem como o centro
das preocupações. É por evidente que se alteraram, a partir daí, as formas tradicionais de exercício de poder e
por consequência os modos de organização das diferentes sociedades. Assim, Estado, Economia e Democra-
cia passam a ter suas formas e conteúdos ressignificados no bojo do processo de constituição das classes
sociais, das economias liberais e das democracias burguesas.
Se no velho continente esse processo é temporalmente situado na transição dos regimes feudais para as
sociedades burguesas, na América Latina processo semelhante não apenas ocorre em um distinto tempo
histórico, como também é marcado pela violenta expropriação colonialista e imperialista dos nossos povos
originários, pela constituição dependente e subordinada de nossas economias – caracterizadas pela degradante
e exponencial superexploração da força de trabalho – e pela formação claudicante dos regimes democráticos
que se revezaram, ao longo da história, com regimes autoritários civis-empresariais e/ou militares.
Essas particularidades, bem como os sentidos gerais e as características universalizantes do Estado, da
Democracia e das diferentes formas econômicas – embora sejam os elementos centrais da luta de classes ao
redor do mundo – não foram por muito tempo temas dignos de prestigio científico nos meios acadêmicos e
intelectuais. O déficit entre nós com relação a estudos e pesquisas nessas áreas vem sendo apenas recente-
mente enfrentado com o advento de teorias que resgatam a nossa particularidade de ser um subcontinente
expropriado e de economias dependentes, a exemplo do que demonstra a Teoria Marxista da Dependência
(TMD), associado a experiências recentes de alternância democrática que ofereceram novas formas de fazer
político, distintas das tradicionais orientações (neo)liberais imperialistas, a exemplo de experiências na Venezuela,
Bolívia, Uruguai ou mesmo no Brasil. Essas duas ordens de fatores têm possibilitado com que tratemos com
maior atenção não apenas as grandes temáticas citadas, mas outras que delas decorrem, como a configuração
das políticas públicas, as formas de gerenciamento e alcance dos aparelhos de Estado, as transformações das
instituições e o regulacionismo delas decorrentes, dentre outros temas.
É na esteira desse resgate que a Revista Katálysis nos brinda com uma edição inteiramente voltada
aos temas do Estado, da Economia e da Democracia na América Latina. As reflexões aqui contidas nos dão a
oportunidade de problematizar tanto do ponto de vista teórico quanto prático as dimensões constitutivas de
nossas sociedades que tem o Estado como seu principal agente difusor.
Como elemento de disputa dentro e fora de si mesmo, os Estados burgueses condensam materialmente
as contradições provenientes da correlação de forças dispostas nas sociedades, por isso, por mais que possam
DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1982-02592018v21n1p09
© O(s) Autor(es). 2018 Acesso Aberto Esta obra está licenciada sob os termos da Licença Creative
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