Ecologização na Agricultura Familiar, feiras e produtos artesanais na região Central do Rio Grande do Sul

AutorEverton Lazzaretti Picolotto - Cristina Bremm
CargoProfessor do Departamento de Ciências Sociais e dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Sociais e em Extensão Rural da Universidade Federal de Santa Maria - Mestranda junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Santa Maria
Páginas104-130
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2016v15nesp1p104
104 104 – 130
Ecologização na Agricultura Familiar,
feiras e produtos artesanais na região
Central do Rio Grande do Sul1
Everton Lazzaretti Picolotto2
Cristina Bremm3
Resumo
A perspectiva de ecologização da produção na agricultura familiar vem ganhando importância
nas últimas décadas. Por meio do resgate de práticas de produção artesanais e de conhecimentos
tradicionais, ressignif‌icados sob a ótica da ecologização, os produtos diferenciados oriundos da
agricultura familiar têm adquirido espaço e conquistado consumidores. Este artigo procura ref‌letir
sobre o processo de transição para a agricultura agroecológica entre os agricultores familiares e
assentados da região Central do RS e sobre as experiências das feiras coloniais e agroecológicas
como espaços sociais onde ocorrem transações sociais de produtos e signos culturais entre pro-
dutores e consumidores. As feiras aparecem como espaços de realização dos produtores e dos
produtos agroecológicos e coloniais. Nelas, os agricultores se realizam como sujeitos e são reco-
nhecidos como tais pela comunidade, e os alimentos e produtos chegam ao seu destino f‌inal: a
compra e o consumo consciente.
Palavras-chave: Agricultura familiar. Ecologização. Feiras.Região Central do RS.
1 Introdução
A ecologização da produção na agricultura familiar tem se tornado um
tema importante nas últimas décadas. As organizações de representação de
agricultores e órgãos de assessoria técnica têm incluído em seus projetos de
por vir e em suas ações junto aos agricultores familiares a perspectiva de apoio
1 O artigo é resultado do projeto “As organizações de agricultores no processo de ecologização na agricultura
familiar no Centro do Rio Grande do Sul”, desenvolvido junto ao Departamento de Ciências Sociais da Univer-
sidade Federal de Santa Maria (UFSM) entre 2013 e 2015. Para a sua realização, contamos com apoio decisivo
do Fundo de Incentivo à Pesquisa – FIPE/UFSM e da Fundação de Amparoà Pesquisa do Estado do Rio Grande
do Sul – FAPERGS, aos quais somos muito gratos.
2 Professor do Departamento de Ciências Sociais e dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Sociais e em
Extensão Rural da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: everton.picolotto@ufsm.br
3 Mestranda junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM). E-mail: bremmcristina@gmail.com
Política & Sociedade - Florianópolis - Vol. 15 - Edição Especial - 2016
105104 – 130
a formas e técnicas de produção mitigadoras de impactos ambientais, resgate
de práticas de produção artesanais e de conhecimentos tradicionais, diver-
sicação produtiva, práticas de agricultura de base ecológica, estratégias de
diferenciação de seus produtos com apelo ecológico e cultural, entre outras.
Ao se tratar do tema da ecologização da agricultura familiar ou dos pro-
dutos diferenciados, como os produtos coloniais (caseiros, artesanais, da colô-
nia), algumas das questões que logo emergem dizem respeito às diculdades
de comercialização destes e a “elitização” de seu consumo, seja pela rápida
suposição de que somente uma “elite” poderia pagar pelos mesmos, seja pelas
diculdades proeminentes dos produtores acessarem ou criarem canais de co-
mercialização para produtos diferenciados, visto que eles necessitam de cuida-
dos especiais, certicação da garantia de sua qualidade e canais próprios para
chegar ao consumidor.
Algumas experiências de ecologização da agricultura familiar e de assen-
tamentos de reforma agrária têm mostrado que é possível produzir e comer-
cializar produtos com contornos ecológicos ou artesanais e (re)conectar laços
com grupos de consumidores locais, das comunidades em que os agricultores
pertencem e com os quais partilham identidades e valores. As experiências das
feiras de produtos coloniais e agroecológicos da região Central do Rio Grande
do Sul são os casos escolhidos para reexão.
O presente texto busca reetir sobre o processo de transição para a agri-
cultura agroecológica entre os agricultores familiares e assentados da região
Central do RS e sobre as experiências das feiras coloniais e agroecológicas como
espaços sociais onde ocorrem transações sociais de produtos e signos culturais
entre produtores e consumidores. As reexões aqui sistematizadas são resul-
tados de análise documental, entrevistas com dirigentes de organizações de
representação rurais e com agricultores familiares ecologistas. Com relação a
estes últimos, também se fez visitas nas suas propriedades.
2 Agricultura familiar no Sul do Brasil: entre a modernidade
e a tradição
Compreende-se por modernidade o “estilo, costume de vida ou organi-
zação social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que ulterior-
mente se tornaram mais ou menos mundiais em sua inuência” (GIDDENS,

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT