Do women in top management affect the value and performance of Brazilian firms?/Mulheres em cargos de alta administracao afetam o valor e desempenho das empresas Brasileiras?

Autorda Silva, Andre Luiz Carvalhal
CargoTexto en portugu
  1. Introducao

    A participacao de mulheres no conselho de administracao e na diretoria das empresas e um tema bastante discutido e estudado na literatura internacional. No Brasil, no entanto, esse tema e ainda pouco estudado. Esse artigo visa analisa a relacao entre a presenca feminina no conselho de administracao e diretoria, valor e desempenho das empresas brasileiras de capital aberto.

    A diversidade de genero no conselho de administracao vem ganhando importancia nas discussoes sobre as melhores praticas de governanca corporativa, na medida em que acoes afirmativas vem sendo adotadas por diversos paises, tais como Noruega, Espanha, Franca, Belgica, Italia, entre outros. No Brasil, foi proposto em 2010 um projeto de lei pelo Senado Federal para estabelecer um percentual minimo de mulheres nos conselhos das empresas estatais, visando aumentar a proporcao para 40% ate 2022.

    A literatura internacional sobre diversidade no conselho de administracao e vasta. O efeito da presenca de mulheres em cargos de alta administracao sobre o valor e desempenho das empresas e ambiguo. Por um lado, a presenca de mulheres na alta administracao das empresas aumenta a diversidade, proporciona pontos de vistas diversos e torna o processo de tomada de decisao mais eficiente, o que deveria aumentar o valor e desempenho da empresa (Carter et al., 2003, Brammer, 2007, Nelson e Quick, 2011). Por outro lado, a diversidade na alta administracao das empresas pode levar a mais conflitos e tomar o processo decisorio lento e ineficiente (Hambrick et al.,1996).

    Muitos estudos mostram uma relacao positiva entre presenca feminina em cargos de alta administracao, valor e desempenho das companhias (Adler, 2001, Carter et al., 2003, Bell, 2005, e Krishnane Park, 2005), enquanto outras pesquisas nao encontram relacao significativa ou encontram relacao negativa entre essas variaveis (Shrader et al., 1997, Kochan et al., 2003, Du Rietz e Henrekson, 2000, Rose, 2007, e Farrelle Hersch, 2005, Adam e Ferreira, 2009, Dobbin e Jung, 2011).

    No Brasil ainda existem poucos estudos sobre a participacao das mulheres nos conselhos de administracao e diretoria (Bruschini, 2004, Madalozzo, 2011, Fraga, 2012, Martins et al., 2012, Almeida et al., 2013, Silveira et al., 2014). Este trabalho tem como objetivo identificar se a participacao das mulheres nos conselhos de administracao e diretoria afeta o valor e desempenho das empresas brasileiras.

    Esse estudo utilizou uma ampla base de dados (383 companhias abertas no periodo de 2002 a 2009) com o objetivo de analisar a relacao entre a presenca de mulheres em cargos de alta administracao, valor e desempenho das empresas brasileiras. Este estudo se diferencia das demais pesquisas sobre o tema no Brasil ao utilizar modelos dinamicos de regressao linear multipla, estimados pelo Metodo dos Momentos Generalizado Sistemico, para mitigar possiveis fontes de endogeneidade como a omissao de variaveis, o efeito-feedback e a simultaneidade.

    Nossa analise indica que, em geral, nao existe uma relacao significativa entre a participacao das mulheres no conselho de administracao e diretoria, o valor das empresas (indices preco/valor contabil e preco/lucro), rentabilidade (ROA e ROE) e crescimento das vendas no Brasil, ou seja, empresas que possuem mais mulheres em cargos de alta administracao nao possuem maior valor de mercado e melhor desempenho. No entanto, vale ressaltar que os resultados de alguns modelos indicam que empresas com pelo menos duas mulheres no conselho de administracao parecem ter maior valor e melhor desempenho.

    Esse artigo esta organizado da seguinte forma. A proxima secao apresenta a revisao de literatura, e a secao 3 mostra os dados e metodologia empregados no estudo. A secao 4 analisa os resultados empiricos, e a secao 5 discute as principais conclusoes.

  2. Revisao de Literatura

    O conselho de administracao e um dos instrumentos mais importantes de governanca corporativa (Monks e Minow, 2001, Forbes e Milliken, 1999). Em geral, podemos identificar quatro fatores que afetam o conselho de administracao e contribuem para o desempenho da firma: composicao, caracteristicas, estrutura e processo de atuacao.

    A composicao do conselho se refere ao seu tamanho e aos tipos de conselheiros (Castaldi e Wortman Jr., 1984). O tamanho diz respeito ao numero de membros existentes no conselho. O tipo se refere a dicotomia existente entre os conselheiros internos e externos a organizacao e a participacao e representacao das minorias etnicas e mulheres como membros (Jones e Goldberg, 1982, Chaganti et al., 1985, Zahra e Pearce II, 1989).

    As caracteristicas do conselho se referem a experiencia e formacao dos conselheiros, independencia para o trabalho nos conselhos, propriedade ou nao de acoes da empresa e outras variaveis que influenciam os interesses e o desempenho dos conselheiros em suas atividades e tarefas (Kesner et al., 1986).

    A estrutura do conselho se refere a sua organizacao, divisao do trabalho, formacao de comites e eficiencia de suas operacoes. Especificamente, esses atributos se materializam no numero e tipos de comites, no fluxo de informacoes entre os conselheiros, comites, diretores executivos, acionistas e o ambiente externo, e principalmente, no modo como se configura a lideranca do conselho (Vance, 1983, Zahra e Pearce II, 1989).

    O processo de atuacao no conselho se refere, principalmente, as atividades de tomada de decisao: frequencia e duracao das reunioes, interface do conselho com o principal executivo da empresa (CEO), nivel de consenso entre os conselheiros, formalidade dos procedimentos e preocupacao e envolvimento do conselho com sua propria avaliacao (Vance, 1983, Zahra e Pearce II, 1989).

    A homogeneidade do conselho vem sendo bastante estudada na literatura internacional. Nelson e Quick (2011) argumentam que conselhos mais homogeneos, com pouca diversidadeentre os membros, sao mais propensos a sofrer de groupthinking. Janis (1982) alega que esse pensamento, caracteristico de gruposcoesos, pode ser disfuncional na tomada de decisao e levar a julgamentos falhos. Benabou (2009) mostra que o groupthinking estava presente nos escandalos da Enron e Worldcom.

    Conselhos mais homogeneos tendem a pertencer a mesma rede social do CEO e a possuir visoes semelhantes sobre a empresa, aumentando a passividade e reduzindo o questionamento das decisoes do principal executivo por parte dos conselheiros (Subrahmanyam, 2008, Burch, 2008, Dorff, 2007), o que pode levar a reducao do valor da empresa.

    A presenca de mulheres nos conselhos de administracao e na diretoria aumenta a diversidade e diminui o groupthinking, o que pode aumentar o valor e desempenho da empresa, pois uma equipe diversificada proporciona pontos de vistas diversos e consequentemente torna o processo de tomada de decisao mais eficiente (Bantel e Jackson, 1989, Murray, 1989, Carter et al., 2003, Brammer, 2007).

    Por outro lado, existem argumentos contra a diversidade na alta administracao das empresas. Se a heterogeneidade do conselho e diretoria produzir muitas opinioes e questionamentos, o processo decisorio pode ficar lento e nao ser efetivo, principalmente em firmas que operam em um ambiente altamente competitivo. Uma alta administracao com diversidade cultural e de genero pode levar a mais conflitos e, mesmo que a decisao tenha melhor qualidade, isso pode nao compensar os feitos negativos de um processo decisorio mais lento e conflituoso (Hambrick et al.,1996).

    Portanto, pelos motivos explicados anteriormente, o efeito da presenca de mulheres em cargos de alta administracao no valor e desempenho das empresas e indeterminado. De fato, muitos estudos mostram uma relacao positiva entre presenca feminina na alta administracao, valor e desempenho das companhias. Por outro lado, existem varias pesquisas que nao encontram relacao significativa ou encontram relacao negativa entre essas variaveis.

    A maioria dos estudos foi feita nos Estados Unidos. Adler (2001), Carter et al. (2003), Bell (2005), e Krishnan e Park (2005) encontram relacoes positivas entre presenca de mulheres na alta administracao e desempenho das empresas norte-americanas. Kramer et al. (2008) mostram que conselhos com mais de duas mulheres sao mais eficientes.

    Por outro lado, Shrader et al. (1997) analisam empresas norteamericanas e nao encontram relacao positiva entre a presenca de mulheres no conselho e desempenho da firma. Em alguns casos, eles encontram relacoes negativas (Adam e Ferreira, 2009, Dobbin e Jung, 2011). Kochan et al. (2003) tambem nao encontram relacao positiva entre a presenca de mulheres na alta administracao e desempenho das empresas nos Estados Unidos.

    As evidencias em outros paises desenvolvidos sao semelhantes as encontradas nos Estados Unidos. Du Rietz e Henrekson (2000) nao encontram relacao estatisticamente significativa entre a presenca de mulheres no conselho e desempenho das empresas na Suecia. Rose (2007) e Farrelle Hersch (2005) encontram resultados semelhantes na Dinamarca. Por outro lado, Smith, Smith e Verner (2005) analisam encontram que a proporcao de mulheres em cargos de alta administracao tem efeito positivo no desempenho das empresas dinamarquesas. Luckerath-Rovers (2010) mostram que empresas com mulheres no conselho possuem desempenho superior na Holanda.

    Ryan e Haslam (2005) encontraram que as firmas com mulheres no conselho apresentaram pior desempenho durante os cinco meses antes da participacao das mulheres no conselho. Os autores concluem que, muitas vezes, as mulheres sao nomeadas para os conselhos de administracao quando as companhias estao com problemas.

    Lee e James (2003) observam a queda no preco de determinada acao apos a nomeacao de um novo CEO e mostram que essa queda e maior apos uma mulher ser nomeada. De acordo com os autores, os investidores normalmente associam a nomeacao de novo CEO com um aumento da incerteza, e esta incerteza e maior quando o CEO e uma mulher.

    No Brasil ainda existem poucos estudos sobre a relacao...

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