Do Estado empreendedor ao mito da não-intervenção: A inovação como instituição nos Estados Unidos

AutorHermes Moreira Jr
CargoDoutor em Relações Internacionais pela UNESP
Páginas263-285
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DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2017v24n38p263
Do estado empreendedor ao mito da não-intervenção: a
inovação como instituição nos estados unidos
From entrepreneur state to myth of non-intervention: Innovation
as an institution in the united states
Hermes Moreira Jr.1
Resumo: Os Estados Unidos consolidaram durante o século XX um ecossistema
de inovação responsável por garantir a liderança econômica do ciclo sistêmico
do capitalismo mundial. A despeito das reformas nesse ecossistema implantadas
durante as desregulamentações neoliberais do governo Reagan, o sistema
nacional de inovações norte-americano continua competitivo em virtude da
sólida trajetória institucional construída.
Palavras-chave: Sistemas Nacionais de Inovação. Estratégia de
Desenvolvimento. Estados Unidos.
Abstract: During the 20th century United States consolidated an ecosystem
of innovation responsible for ensuring the economic leadership of world
capitalism systemic cycle. Even with neoliberal reforms in this ecosystem that
were implemented during the Reagan administration the US national innovation
system remains competitive because of the solid institutional trajectory it has
built.
Keywords: National Innovation System. Development Strategy. United States.
Artigo
264
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p. 263-285, dez. 2017.
Introdução
Joseph Nye, um dos mais destacados defensores das estratégias para a
renovação da liderança norte-americana no sistema mundial, arma que não
basta aos rivais do poder americano “a posse de um hardware sosticado ou de
sistemas avançados, e sim a capacidade de integrar um sistema dos sistemas”2.
Assim, ele sinaliza que a liderança hegemônica internacional depende de uma
trajetória que seja capaz de congregar outras ações para além da competição
no nível da produção e consumo. Com efeito, seria necessário ao competidor
pela condição líder no atual ciclo hegemônico: 1) centralização de poder
para coordenar os rumos da pesquisa e do desenvolvimento tecnológico; 2)
alargamentos de mercados com períodos de estimulo à competitividade de
maneira acirrada; 3) coordenação de pesquisas setoriais para o avanço na
dianteira da condução da trajetória tecnológica; 4) imposição de um padrão
tecnológico de consumo à periferia do sistema; 5) projeção do poder global
mediante a liderança na competição a nível global;
Nye faz esta observação devido à capacidade que os Estados Unidos
tiveram ao longo do século XX de exercer de forma conjugada todas estas
condições. Isto signica que é preciso reconhecer que, além de possuir
capacidade concreta de ocupar a dianteira dos processos de avanço tecnológico,
os principais competidores norte-americanos precisam construir uma trajetória
institucional e um modus operandi que torne efetivo o potencial de inovação de
suas economias. Ou seja, construir uma trajetória similar àquela estabelecida
pelos Estados Unidos, seja no ambiente doméstico ou no plano internacional.
Desde sua etapa de industrialização, até sua consolidação como única
potência de alcance global, a economia norte-americana perseguiu alcançar a
fronteira mais avançada do sistema econômico-produtivo internacional. Para
isto, integrou os lucros derivados de sua produção ao desenvolvimento de novas
aplicações cientícas e tecnológicas, o que, em grande medida, permitiu que
suas empresas pudessem se expandir globalmente. Com este objetivo, constituiu
um sistema nacional de inovação altamente moderno e dinâmico, capaz de
contemplar as condições indicadas por Joseph Nye para a conquista do posto
de principal centro irradiador de inovações da economia global.
Para que ocorra a inovação, sobretudo as “inovações radicais”3, é
necessário que sejam criados elementos capazes de interagir na produção,
difusão e aplicação do conhecimento gerado e do produto desenvolvido. Para
isso funcionar, o chamado ecossistema de inovação, é preciso que todos os
atores e instituições que conformam o sistema nacional de inovação atuem
de forma convergente com o propósito de ampliar o desempenho inovativo
desse ecossistema. Nos Estados Unidos, o ecossistema de inovação funciona
a partir do modelo da triple helix, ou hélice tripla, que sintetiza a interação
simbiótica entre governo, universidade e indústria4. Segundo esta interpretação,
a interação se sustenta em torno de três compromissos basilares: proeminente

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