Observação do conselho municipal de carpentras

AutorAudrey Hernandez
Ocupação do AutorAluna do terceiro ano do curso de Ciência Política da Université de Montpellier 1
Páginas19-38
OBSERVAÇÃO DO CONSELHO MUNICIPAL DE CARPENTRAS
AUDREY HERNANDEZ1
Introdução
Assistir a um Conselho (Municipal, Regional, Geral) parece fácil, a princípio.
De fato, é aberto ao público, então, não deveria haver problemas. Entretanto,
eu nunca tinha tomado a iniciativa de ir assistir. Mas, desde o início, me deparei
com inúmeros obstáculos.
O primeiro obstáculo é justamente encontrar um conselho, qualquer que
seja. Procurei vários endereços: Ganges, Saint Bouzille de Putois, (onde eu
moro), Brissac, Montpellier e todos os entornos. Na maior parte das cidades
ele não se reúne durante a semana ou não tem data ainda  xada. São exceções
o Conselho Municipal de Montpellier e o Conselho Geral do Hérault, que
funcionam há pouco tempo.
Eu escolhi, entretanto, o de minha cidade natal (Carpentras) para não me
encontrar com todos os estudantes que tinham o mesmo objeto de estudo.
O segundo obstáculo é a suspeição em relação ao meu estudo. Entre todas
as cidades contactadas, antes mesmo de me dar uma data para o conselho, o
empregado da prefeitura me perguntou “mas para quê?“. Ainda, a partir de
meu contato com o Conselho Regional do Languedoc-roussilon, sempre que
eu apresento meu objetivo, explico somente que a visita faz parte de meus es-
tudos, que é observar o desenrolar de um conselho municipal. Eu escolhi dizer
“o desenrolar” para não revelar que eu quero observar seus integrantes (os con-
selheiros, etc.), a  m de não desnaturar seus comportamentos. Os trabalhos de
Elton Mayo o demonstram: é o efeito “haustorne”2. Os operários, sobre quem
se tratava a experimentação de Mayo, modi caram seus comportamentos por-
1 Aluna do terceiro ano do curso de Ciência Política da Université de Montpellier 1. Trabalho entregue para
a disciplina “Sociologia Política”.
2 O efeito Haustorne ou Hawthrone descreve a situação segundo a qual os resultados de uma experiência
não se devem a fatores experimentais, mas sim aos atores que tomam consciência de participar da respec-
tiva experiência, geralmente através de uma grande motivação.
20 CADERNOS DE DIREITO 2012
que eles se sentiam observados. O estudo se chama “O problema humano na
civilização industrial”.
Depois dessas reações de descon ança, eu me perguntei se teria muito
público, grande audiência no conselho. Acreditando que essa hipótese não se
con rmaria, decidi ir ao conselho acompanhada, a  m de que minha presença
não fosse objeto de curiosidade. Não tendo ainda nenhuma ideia do estilo de
vestimenta adequada neste gênero de conselho, meu amigo e eu usamos roupas
do cotidiano. Escolhi tomar notas para melhor associar gestos e palavras (eu
não tinha material para gravar som nem vídeo). Mas eu não iria escolher levar
uma câmera porque traria muitos questionamentos e chamaria muita atenção.
Então, eu quis permanecer ali discretamente. A gravação de áudio não me pre-
ocupou também porque não me permitiria associar e visualizar integralmente
as cenas.
Eu, então, escolhi observar o Conselho Municipal de minha cidade natal,
Carpentras, por comodidade: o conselho aconteceria numa data próxima e eu
não morava longe.
Carpentras é uma cidade de aproximadamente 30.000 habitantes, com
reputação de ali terem ocorrido diversos escândalos (profanação do cemitério
judeu nos anos 1980). Sempre foi conhecida como um recanto da extrema
direita. Mas desde as últimas eleições (municipais de 2008), a cidade, antes da
direita (UMP/FN), passou a ser de esquerda (PS). Na época destas eleições, eu
tinha feito um relatório sobre a teorização da “langue de bois3 em meio eleito-
ral, e tinha encontrado os mentores da lista, dentre os quais F. Adolphe (hoje
prefeito de Carpentras) para uma entrevista de alguns minutos. Eu me pergun-
tava se eles saberiam, mas não foi o caso.
Para expor meu trabalho de campo, numa primeira parte, puramente des-
critiva (I), descreverei a estrutura a  m de compreender e analisar as relações e
de teorizar minhas observações (II).
I — Descrição do Conselho Municipal
Esta descrição se refere ao estado inicial do conselho (A) para explicar a estrutu-
ra, descrever o público, os jornalistas, os conselheiros, o prefeito e o ambiente,
para depois melhor descrever o desenrolar do conselho em si (B).
3 NT: Trata-se de forma uma pejorativa de se referir à linguagem típica da propaganda política; maneira
de se expressar mediante formas super ciais e estereotipadas, que não comprometem o locutor. Numa
tradução literal: “língua de pau”.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT