Djuna Barnes e a arte de No Bosque da Noite

AutorJair Ferreira dos Santos
Páginas93-100
Niterói, v. 9, n. 2, p. 93-100, 1. sem. 2009 93
DJUNA BARNES E A ARTE
DE NO BOSQUE DA NOITE
Jair Ferreira dos Santos
Universidade de São Paulo
E-mail: jairfs@uninet.com.br
Resumo: A escritora norte-americana Djuna
Barnes (1892-1982) é uma personalidade
cult da famosa lost generation, o grupo de
americanos que se expatriou em Paris nos anos
1920 para melhor cultivar o talento artístico,
e entre suas obras o romance No bosque da
noite ocupa um lugar de destaque pela temá-
tica audaciosa – estupro, lesbianismo, o amor
como impossibilidade – e pela originalidade
estilística de sua prosa intensa. Modernista,
tem na transcendência vazia a ambiência
ideológica que iria interpretar a seu modo em
textos nos quais a intuição poética dá acesso a
verdades tão luminosas quanto inquietantes.
Palavras-chave: Djuna Barnes; sexualidade;
literatura.
Cult já foi definido como “carisma oculto”. A expressão é perfeita mas insuficien-
te para caracterizar Djuna Barnes. A menos que o monossílabo inglês tenha também
o dom de transformar a obscuridade em autocongratulação e ironia, permitindo
à grande escritora americana dizer de si mesma, já velha, que era “a mais famosa
desconhecida do mundo”.
A blague se deve basicamente à sua estranha obra-prima No bosque da noite,
romance publicado em 1936 e desde então objeto de culto para um pequeno séqui-
to de abnegados. Sem a inevitabilidade dos clássicos, mas sustentado pela audácia
moral e inventiva a cada linha, o livro permanece até hoje envolto num halo de im-
plausibidade e excelência, o que pode significar um atalho para o cult em qualquer
parte: foi exótico na forma o bastante para ser uma inovação, ostentando um estilo
inclassificável ao tratar do lesbianismo e suas ramificações pela patologia sexual; des-
pertou adesões algo inesperadas, pois ninguém menos que T. S. Eliot apadrinhou e
prefaciou a primeira edição, na Faber&Faber londrina, para depois ser incensado por
gente como Dylan Thomas e William Burroughs; e, incompreensão oblige, amargou
por décadas a ausência nas reedições de Exile’s return, de Malcolm Cowley, o texto-

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