Divisão do Trabalho e Individualismo Moral

AutorFlávio Saliba Cunha, Roberto Dutra Torres Júnior
Páginas47-58
Capítulo II
Divisão do Trabalho e Individualismo Moral
A análise que aqui será empreendida, ainda que se atenha às
considerações teóricas a respeito do individualismo moral,
procurará, para além disso, identificar nas abordagens de Georg
Simmel e Èmile Durkheim[50], elementos comuns que viabilizem a
elaboração de construções teóricas em que o domínio do
“pluralismo paradigmático” possa ser matizado pelo diálogo
verificado entre autores cujas abordagens são, com frequência,
consideradas irreconciliáveis. Portanto, se os clássicos ainda
servem para explicar questões contemporâneas, mesmo quando
tratados isoladamente, cabe, agora, investigar o que eles teriam a
dizer sobre essas questões se, mesmo em situações específicas,
pudessem dialogar.
De início, iremos enfatizar que a moderna noção de indivíduo é
uma categoria moral construída socialmente. Para isso, cumpre
analisá-la de forma um pouco mais detalhada, considerando as
diversas dimensões que a constituem. Se, por um lado, o
individualismo está ligado ao avanço de determinados processos
sociais de caráter nitidamente estrutural, ele não deixa, por outro
lado, de estar relacionado com a emergência de uma ordem moral
específica, com um conjunto de valores próprios da modernidade
ocidental. Assim, uma interpretação mais acurada do que seja o
fenômeno do individualismo não admite discursos unilaterais que,
normalmente, privilegiam uma de suas dimensões, negligenciando
as demais. Aqui, o que pretendemos é identificar as principais
dimensões do indivíduo moderno, recorrendo, sobretudo, à análise
de Georg Simmel na qual esse fenômeno aparece associado à
multiplicação e ampliação dos círculos sociais (Kulturkreislehre)[51] e
ao advento, à generalização e à institucionalização da economia
monetária. É também em Simmel que o fenômeno do individualismo

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