Discussões de gênero e feminilidades na escola contemporânea

AutorMelanie Laura Mariano da Penha Silva - Maria Aparecida Tenório Salvador da Costa
CargoMestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, Brasil - Doutora em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco
Páginas55-72
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.15, n.2, p.55-72 Mai.-Ago. 2018
ISSN 1807-1384 DOI: 10.5007/1807-1384.2018v15n2p55
Artigo recebido em: 20/01/2017 Aceito em: 16/01/2018
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons
DISCUSSÕES DE GÊNERO E FEMINILIDADES NA ESCOLA CONTEMPORÂNEA
Melanie Laura Mariano da Penha Silva
1
Maria Aparecida Tenório Salvador da Costa
2
Resumo:
Diante dos avanços conseguidos pela atuação dos estudos e movimentos feministas
e pelos estudos de gênero, deslocaram-se alguns entendimentos conservadores
sobre ser mulher que possibilitaram a desconstrução de ideias limitantes em relação
às subjetividades femininas. Na contemporaneidade constantemente se vê em pauta
discussões sobre direitos das mulheres, desconstrução de estereótipos de gênero,
luta por equidade de gênero. Assim, é fundamental que novos entendimentos sobre
feminilidades ocupem espaços nos currículos escolares visando a uma educação para
a equidade de gênero desde a infância. Deste modo, este artigo objetiva problematizar
a permanência de padrões sexistas na instituição escolar e o papel da educação
formal na desconstrução dos mesmos, possibilitando aos sujeitos novos
entendimentos sobre subjetividades femininas e modos de ser mulher que não se
limitem aos estereótipos tradicionais. Como forma de compreender a construção de
sentidos e significados utilizou-se a Análise de Discurso. Preliminarmente, foram
identificados discursos progressistas e conservadores, em relação ao debate de
gênero e as questões das mulheres, coexistindo e disputando espaço no ambiente
escolar. Ao mesmo tempo, observou-se o potencial de tais discursos no fomento de
subjetividades desde a mais tenra idade. Os resultados encontrados evidenciaram,
grosso modo: a necessidade de melhorar a formação docente em temas como
diversidade e gênero; a falta de preparo de diversos sujeitos do ambiente escolar para
lidar com questões de gênero; a importância de debates sobre gênero e feminilidades
no espaço escolar como forma de contribuir com a formação cidadã de crianças, das
famílias e dos sujeitos que trabalham no ambiente escolar.
Palavras-chaves: Educação. Gênero. Subjetividades. Feminilidades. Escola.
1 INTRODUÇÃO
Durante a infância surgem os primeiros questionamentos sobre gênero,
sexualidade e os modos de cada um/a ser e estar no mundo. As dúvidas, curiosidades,
anseios sobre essas temáticas estão presentes nos diversos ambientes em que a
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco,
Recife, PE, Brasil. E-mail: melmariano.12@gmail.com
2
Doutora em Sociologia pela Universidade F ederal de Pernambuco. Professora da Universidade
Federal Rural de Pernambuco, Recife, PE. Vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em
Extensão Rural e Desenvolvimento Local em Recife, PE, Brasil. E-mail: aparecidatcosta@hotmail.com
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criança circula, um deles é o escolar. Por ser a escola “o espaço para a socialização
secundária” (Goméz, 1998, p.54), é também diante da cultura escolar estabelecida e
das vivências coletivas e individuais experimentadas durante o período de
escolarização, que as identidades são forjadas e abastecidas nos modos de pensar,
agir, sentir o mundo e as coisas ao seu redor. Ou seja, esta instituição atua como
instância subjetivadora, interpelando os sujeitos e promovendo a construção de
significados. Fischer (2002), define a subjetivação como sendo complexos processos
de veiculação e de produção de significações, de sentidos, os quais, por sua vez,
estão relacionados aos modos de ser, de pensar, de conhecer o mundo, de se
relacionar com a vida, que permitirão aos sujeitos construírem-se. A subjetivação é
sempre um processo histórico e mutável, que, portanto, está contextualizado a uma
época e a um tipo de formação social.
Na escola, uma das dimensões alcançadas por estes processos de
subjetivação incide, pois, na construção de sentidos sobre gênero. Dito isto, o
presente artigo se debruça sobre a discussão de padrões sexistas ainda presentes na
educação escolar, problematizando os entendimentos que a escola contemporânea
tem sobre gênero e, especialmente sobre as subjetividades femininas. Acredita-se
que é preciso perscrutar como a escola produz significados sobre gênero junto às
crianças, visto que em vários espaços pelos quais transitam, os sujeitos apreendem o
que é o feminino, ou o masculino, de forma rígida através de preceitos historicamente
imbuídos de aspectos machistas e sexistas, incidindo sobre a construção das
identidades de gênero e sendo repassados como valores pela educação familiar e/ou
escolar.
A formação do imaginário sobre subjetividades femininas é influenciada pelos
discursos e práticas dos sujeitos sociais que integram o contexto escolar, sendo
construídos a partir da compreensão que os mesmos têm do que é ser mulher e/ou
homem. Ao pretender reformular entendimentos, as concepções de gênero diante de
uma perspectiva de equidade, desenvolvem uma visão relacional entre feminino e
masculino, superando o binarismo e, sobretudo, a hierarquização das relações entre
homens e mulheres, posto que isso acaba por reforçar o sexismo na cultura escolar.
Deste modo, sendo a escola um espaço para construção social e pessoal, é preciso
formar para a equalização das relações de gênero desde a infância, assim como para
o entendimento de que há diversas possibilidades de se performar o gênero, se
construir, ser/estar/atuar na sociedade.

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