Da disciplina ao controle: novos processos de subjetivação no mundo do trabalho

AutorAttila Magno e Silva Barbosa - Angelo Martins Jr.
CargoDoutor em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)? São Paulo ? Brasil e professor adjunto do Instituto de Sociologia e Política da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) ? Rio Grande do Sul ? Brasil - Mestre em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos ? São Paulo ? Brasil
Páginas75-92
Política & Sociedade - Vol. 11 - Nº 22 - Novembro de 2012
7575 – 92
Da disciplina ao controle:
novos processos de subjetivação
no mundo do trabalho
Attila Magno e Silva Barbosa
Angelo Martins Jr.1
Resumo
Partindo do pressuposto de que as relações de poder são contextuais, históricas e em constan-
te transformação, este artigo tem como objetivo ref‌letir sobre a passagem da chamada sociedade
disciplinar para a sociedade de controle. Tomaremos como referência o “mundo do trabalho” por
entendermos que nele testemunhamos a constituição de um novo processo de subjetivação em
que a disciplina, antes circunscrita em um sistema fechado – no caso em questão, a fábrica –, deu
lugar a formas de controle que se estendem por todas as esferas da vida social. Para nós, o suporte
discursivo desse novo dispositivo de poder seria o discurso do trabalhador como “empreendedor
de si mesmo”. Iniciaremos nossa discussão versando sobre a analítica do poder de Foucault, mais
precisamente sobre a noção de sociedade disciplinar que teria tido seu apogeu no início do século
XX e desde então teria perdido força e cedido lugar à sociedade de controle, esta noção melhor
desenvolvida por Deleuze. Nesse sentido, ref‌letiremos sobre a ocorrência de um novo processo de
subjetivação e como novas formas de controle passam a ser exercidas no mundo do trabalho.
Palavras-chave: Poder disciplinar. Sociedade de controle. Subjetividade. Relações de trabalho.
Introdução
Partindo do pressuposto de que as relações de poder são contextuais, his-
tóricas e em constante transformação, este artigo, aqui apresentado na forma
de ensaio bibliográco, tem como objetivo reetir sobre a passagem da cha-
mada sociedade disciplinar (XVIII-XX) para a sociedade de controle. Toma-
remos como referência o “mundo do trabalho” por entendermos que nele
1 Attila Magno e Silva Barbosa é doutor em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)– São
Paulo – Brasil e professor adjunto do Instituto de Sociologia e Política da Universidade Federal de Pelotas
(UFPel) – Rio Grande do Sul – Brasil. E-mail: barbosaattila@uol.com.br. Angelo Martins Jr. é mestre em
Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos – São Paulo – Brasil. E-mail: junimktp@gmail.com.
Da disciplina ao controle: novos processos de subjetivação no mundo do trabalho | Attila Magno e Silva Barbosa - Angelo Martins Jr.
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testemunhamos novos processos de subjetivação, visto que a disciplina, antes
circunscrita em sistemas fechados – no caso em questão, a fábrica –, deu lugar
a formas de controle que dispersam por toda a sociedade sem as demarcações
espaciais anteriormente existentes.
Defendemos a hipótese de que entre os suportes discursivos deste novo
dispositivo de poder estão as noções de capital social e de rede, acionadas e
operacionalizadas no meio empresarial com o objetivo de produzir legitimi-
dade ao discurso da responsabilização do trabalhador pela sua condição de
empregabilidade.
Iniciaremos nossa discussão versando sobre a analítica do poder de
Foucault, mais precisamente sobre a noção de sociedade disciplinar que teria
tido seu apogeu no início do século XX e desde então perdido força e após a
Segunda Guerra Mundial e cedido lugar à sociedade de controle, esta noção
mais adequadamente desenvolvida por Deleuze. Reetiremos sobre a ocor-
rência de novos processos de subjetivação e como novas formas de controle
passam a ser exercidas no mundo do trabalho, produzindo, a partir da corre-
lação de forças entre capital e trabalho, aquilo que Zarian, na trilha analítica
deixada por Foucault e Deleuze, chama de “assujeitamento consentido”.
A analítica do poder de Foucault
À luz da analítica do poder de Foucault (1988; 1993; 2007), basicamente
temos dois mecanismos de poder nas sociedades modernas: as disciplinas ou
poder disciplinar, que atuam sobre os corpos individuais e se manifestam pelo
enquadramento das individualidades no interior de um espaço perpassado
por procedimentos de vigilância e de controle, possibilitando uma forma es-
pecíca de normalização dos comportamentos e, por conseguinte, a produção
de corpos dóceis e socialmente úteis; e a biopolítica, conjunto de processos
populacionais que agem sobre o coletivo de indivíduos, originalmente ligados
às questões da natalidade e da mortalidade populacional, mas que com as
transformações do Estado moderno passou a se manifestar via intervenção na
relação entre a espécie humana e o seu meio ambiente.
Para Foucault “o poder está em toda parte; não porque englobe tudo, e sim
porque provém de todos os lugares” (1988, p. 89). O poder em si mesmo não
existiria, mas sim feixes de relações de força. Mais do que algo que se possua,

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