Diretrizes para a análise da conjuntura contemporânea: uma agenda de investigação
Autor | Theotônio dos Santos - Carlos Eduardo Martins |
Cargo | Professor titular da Universidade Federal Fluminense, Coordenador de Cátedra da Unesco e Membro de corpo editorial da Monitor Mercantil. - Doutor em Sociologia (USP) e pesquisador da REGGEN e LPP. |
Páginas | 119-134 |
DIRETRIZES PARA A ANÁLISE DA CONJUNTURA
CONTEMPORÂNEA: UMA AGENDA DE INVESTIGAÇÃO
Theotonio dos Santos1
Carlos Eduardo Martins2
Resumo
O objetivo principal deste artigo é apresentar uma agenda de investigaçao
para a análise da conjuntura contemporânea, tendo como fundamento te-
órico-metodológico as tendências seculares e os ciclos de longa duração,
com suas distintas fases. Nesse sentido, é feita tanto uma sucinta descrição
dos grandes processos sistêmicos da conjuntura contemporânea, quanto
uma listagem dos principais indicadores (inclusive macroeconômicos) da
conjuntura. Na seção final, alguns resultados da agenda de pesquisa são
igualmente apresentados.
Palavras-chave: ciclos de Kondratiev, conjuntura contemporênea, indica-
dores macroeconômicos.
1. A CONJUNTURA E A LONGA DURAÇÃO
Neste texto, temos a preocupação de definir uma agenda de investigação
da conjuntura contemporânea. Para isso, situamos os instrumentos teórico-
metodológicos fundamentais, as principais variáveis empíricas e os objetos
de investigação mais relevantes.
No plano teórico-metodológico, buscamos situar, de um lado, as ten-
dências estruturais e seculares em curso, e de outro lado, os ciclos de longa
duração e suas distintas fases.
1 Professor titular da Universidade Federal Fluminense, Coordenador de Cátedra da Unesco e Membro de corpo
editorial da Monitor Mercantil.
2 Doutor em Sociologia (USP) e pesquisador da REGGEN e LPP.
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Theotonio dos Santos • Carlos Eduardo Martins
Textos de Economia, Florianópolis, v.10, n.2, p.119-133, jul./dez.2007
Por tendências seculares e ciclos não entendemos forças determinísticas
e automáticas que atuam de forma independente da vontade humana. São
expressões relacionais de certos padrões sociais dominantes de organização
da vida humana e podem ser verificados no desenvolvimento do capitalis-
mo. Não devemos qualificar estas tendências e ciclos como econômicos,
mas sim como sociais, no sentido de que abarcam o amplo espectro da vida
econômica, política, social e ideológica das sociedades.
Os grandes processos sistêmicos da conjuntura contemporânea são:
a) A revolução científico-técnica: Ela designa uma modificação nas
estruturas sociais com profundos impactos civilizacionais. Sua origem está
no papel dominante que a ciência passa a ter no processo produtivo. Ela
surge em alguns países centrais no pós-guerra e a partir dos anos 1970, com
o paradigma microeletrônico, as tecnologias de comunicação e a biotecnolo-
gia, ganha projeção global. Durante a revolução industrial, a ciência foi uma
força auxiliar e subordinada à técnica e à tecnologia. A indústria alavancou
o crescimento econômico e o emprego, realizando um amplo movimento
de urbanização do globo terrestre. A revolução científico-técnica desloca a
fonte da produtividade para o setor de serviços qualificado e elimina cada
vez mais o emprego diretamente produtivo em benefício do indiretamente
produtivo, generalizando o princípio da automação. A ciência passa a ser
cada vez mais determinante em relação à tecnologia e à técnica e não o
inverso. Uma análise dos profundos impactos societários deste processo
deve destacar principalmente, suas repercussões sobre:
* A formação taxa de lucro, a concentração e a centralização de capital;
* Os níveis de emprego, os salários, a qualificação dos trabalhadores
e dos setores médios;
* A gestão empresarial, estatal, e as formas de organização da socie-
dade civil; e
* A produção e a distribuição de riquezas em nível mundial.
b) Os ciclos sistêmicos: designam os ritmos e as fases que assumem os
processos de organização do mundial do sistema capitalista. Estes se estabe-
lecem em torno de hegemonias estatais, vinculadas a grupos e organizações
capitalistas determinadas. Observa-se nos ciclos sistêmicos a ocorrência de
duas fases: a expansão e a crise. Durante a expansão, a hegemonia exerce
uma liderança virtuosa e impulsiona o desenvolvimento do sistema mundial.
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