Os direitos humanos na formação intelectual do jovem marx

AutorMatheus Felipe de Castro
CargoDoutor em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (2009). Professor Adjunto do Curso de Graduação em Direito da UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
Páginas149-175
Rev. direitos fundam. democ., v. 22, n. 1, p. 149-175, jan./abr. 2017.
ISSN 1982-0496
Licenciado sob uma Licença Creative Commons
OS DIREITOS HUMANOS NA FORMAÇÃO INTELECTUAL DO JOVEM MARX
HUMAN RIGHTS IN THE INTELLECTUAL FORMATION OF THE YOUNG MARX
Matheus Felipe de Castro
Doutor em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (2009). Professor Adjunto do
Curso de Graduação em Direito da UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina;
Coordenador Acadêmico Adjunto e Professor Titular do Programa de Mestrado em Direitos
Fundamentais da UNOESC - Universidade do Oeste de Santa Catarina; Professor Visitante da
ESA/SC - Escola Superior da Advocacia de Santa Catarina.
“Fica certo que eu não trocaria nunca
Minha sorte miserável por tua servidão.
Porque prefiro mil vezes a prisão neste rochedo
Que ser, de Zeus pai, fiel lacaio e mensageiro”
(Prometeu Acorrentado, Ésquilo)
Resumo
O presente artigo aborda o humanismo na formação do pensamento
intelectual do jovem Marx. Busca entender como esse humanismo
influenciou a sua obra de maturidade. Como se sabe, Marx foi um
crítico dos Direitos Fundamentais, que para ele eram direitos da
sociedade burguesa. Isso leva ao seguinte problema: apesar dessa
crítica, Marx seria ou não seria essencialmente um pensador
humanista? Para realizar a tarefa proposta, adotamos como método a
análise dos textos escritos entre 1843-1844, destacando nesses textos
elementos que possam subsidiar o entendimento do problema aqui
proposto. O referencial teórico, naturalmente, se circunscreve ao
próprio marxismo.
Palavras-chave: Direitos Fundamentais. Direitos Humanos.
Humanismo. Marxismo.
Abstract
This article discusses the humanism in the formation of intellectual
thought of the young Marx. Seeks to understand how this humanism
influenced his mature work. As we know, Marx was critical of
MATHEUS FELIPE DE CASTRO
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Rev. direitos fundam. democ., v. 22, n. 1, p. 149-175, jan./abr. 2017.
Fundamental Rights, which for him were the rights of bourgeois society.
This leads to the following problem: despite this criticism, Marx would or
would not be essentially a humanist thinker? To complete the proposed
task, we adopted the method the analysis of texts written between 1843-
1844, highlighting those text elements that can support the
understanding of the problem here proposed. The theoretical
framework, of course, is limited to Marxism itself.
KEYWORDS: Fundamental rights. Human rights. Humanism. Marxism.
1. UMA INTRODUÇÃO HISTÓRICA
No poema de Ésquilo, o “Prometeu Acorrentado”, há algo de simbólico que
deve ser descortinado: quando o herói subtraiu o fogo aos deuses entregando-o aos
homens, de alguma forma humanizou os deuses ao mesmo tempo em que divinizou os
homens. De posse da chama sagrada os homens poderiam erguer os olhos para os
céus e dominar, através de seu trabalho, de sua ação, os outros animais, as forças
ocultas da natureza, o aço, a espada, a guerra, o comércio e transformar a vida em
uma nova natureza, uma natureza paralela fundada pela sua autoatividade. A natureza
humana como produto da construção consciente da própria humanidade.
Nessa construção, o fogo se constituía em importante ferramenta de
trabalho, através da qual os homens poderiam promover a transformação da natureza,
amoldando-a às suas finalidades e necessidades. Tal audácia ou petulância ferira
profundamente o orgulho dos deuses, ao ponto de levar Zeus a ordenar que Prometeu
fosse acorrentado em uma rocha onde, pela eternidade, deveria torrar sob o sol e a ter
seu fígado devorado por uma ave de rapina.
Triste sorte a de Prometeu que cometera um crime hediondo: legara aos
homens o destino de construir a sua própria história, apesar de todas as
determinações do passado, fazendo do humanismo, do reencontro do homem consigo
mesmo, o pressuposto de uma nova existência! Séculos mais tarde, uma charge
alegórica publicada após o fechamento da Rheinische Zeitung mostrava Marx, com
aspecto prometéico, acorrentado a uma prensa tipográfica, enquanto uma águia
prussiana lhe devorava o fígado (WHEN, 2001, p. 54).
A força do pensamento desse Prometeu contemporâneo, Karl Marx, não só
influenciou como reconfigurou todas as relações sociais desde o século XIX. Não
área do saber humano, da economia à política, da sociologia às humanidades, da

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