Os direitos humanos e o cosmopolitismo no panorama das cidades globais: desafios e paradoxos da contemporaneidade

AutorGilmar Antonio Bedin - Elenise Felzke Schonardie - Aline Michele Pedron Leves
CargoUniversidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), Programa de Pós-Graduação em Direito, Ijuí, RS, Brasil. Doutor em Direito. E-mail: gilmarb@san.uri.br - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos, Ijuí, RS, Brasil. Doutor em Ciências Sociais....
Páginas107-126
Direitos Culturais Santo Ângelo v. 13 n. 30 p. 107-126 maio/agos. 2018
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DOI: http://dx.doi.org/10.20912/rdc.v13i30.2638
OS DIREITOS HUMANOS E O COSMOPOLITISMO NO PANORAMA DAS
CIDADES GLOBAIS: DESAFIOS E PARADOXOS DA
CONTEMPORANEIDADE
HUMAN RIGHTS AND COSMOPOLITANISM IN THE PANORAMA OF GLOBAL
CITIES: CHALLENGES AND PARADOXES OF CONTEMPORANEITY
Gilmar Antonio BedinI
Elenise Felzke SchonardieII
Aline Michele Pedron LevesIII
I Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), Programa de Pós-
Graduação em Direito, Ijuí, RS, Brasil. Doutor em Direito. E-mail: gilmarb@san.uri.br.
II Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), Programa de Pós-
Graduação em Direitos Humanos, Ijuí, RS, Brasil. Doutor em Ciências Sociais. E-mail:
elenise.schonardie@unijui.edu.br.
III Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), Ijuí, RS, Brasil.
Mestranda em Direito. E-mail: alineleves@hotmail.com
Resumo: Esse artigo busca contextualizar a
temática da construção de uma sociedade
cosmopolita a partir do panorama das cidades
globais do século XXI. Na medida em que se
verificaram os avanços intrínsecos da
modernização, a contemporaneidade trouxe
consigo uma série de paradoxos e desafios
oriundos do fenômeno da globalização, os quais
transformaram os sistemas de referência e
passaram a exigir respostas às inúmeras
complexidades sociais. O problema fundamental
reside na ideia de encontrar possibilidades reais
para constituir e consolidar espaços cosmopolitas
no âmbito das cidades globais frente às
heterogeneidades, intolerâncias e individualismos
que transpõem a ordem nacional do modelo
estatal soberanista e territorial, sintetizando tanto
o local como o global. Nesse sentido, objetiva-se
analisar, por meio d o emprego do método
hipotético-dedutivo e da técnica de pesquisa
bibliográfica, a dimensão cosmopolita de
coexistência dos sujeitos e das tendências
macrossociais da sociedade globalizada, com
vistas à proteção dos direitos humanos e à
inclusão das diferenças que se materializam
mundialmente. Portanto, nessa era marcada por
profundas transições paradigmáticas, repleta de
riscos e inseguranças, torna-se u rgente a
necessidade de combinar o modelo das cidades
globais com as perspectivas de um
cosmopolitismo que reconheça a essência das
diversidades socioculturais e o ideal do cidadão
Abstract: This article seeks to contextualize the
thematic of the construction of a cosmopolitan
society from t he panorama of the global cities of
the XXI century. In so far as are verified t he
intrinsic advances of modernization, the
contemporaneity brought with it a series of
paradoxes and challenges originating from the
phenomenon of globalization, which transformed
the systems of reference and began to demand
answers to the numerous socia l complexities. The
fundamental problem resides in the idea of finding
real possibilities to constitute and consolidate
cosmopolitan spaces within the global cities in the
face of heterogeneities, intolerances and
individualisms that transposes the national order
of the sovereignty and territorial state model,
synthesizing both local and global. In this sense,
the objective is to analyze, through the use of the
hypothetical-deductive method and the technique
of bibliographical research, the cosmopolitan
dimension of coexistence of subjects and
macrosocial tendencies of globalized society, with
a view to the protection of human rights and the
inclusion of differences that materialize
worldwide. Therefore, in this era marked by deep
paradigmatic transitions, full of risks and
insecurities, it becomes urgent the necessity to
combine the model of global cities with the
prospects of a cosmopolitanism that recognizes
the essence of sociocultural diversities and the
ideal of the world's citizen.
Direitos Culturais Santo Ângelo v. 13 n. 30 p. 107-126 maio/agos. 2018
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do mundo.
Palavras-chave: Cosmopolitismo. Cidades
Globais. Direitos Humanos. Globalização.
Keywords: Cosmopolitanism. Global Cities.
Human Rights. Globalization.
Sumário: 1 Introdução; 2 Globalização e Cidades Globais: as particularidades emergentes dos espaços
transnacionais; 3 As Cidades Globais e o Cosmopolitismo: uma nova consciência do “cidadão do
mundo” em defesa dos direitos humanos e da heterogeneidade cultural; 4 Conclusão. Referências..
1 Introdução
O mundo e m que v ivemos mostra-se, atualmente, cada vez mais complexo e
interdependente. Com o avanço dos processos da globalização social, econômica,
política e cultural, os fatores internos e externos das n ações se confundem e
transcendem as fronteiras territoriais, redefinindo as concepções espaço-temporais e
corroborando para o crescimento exponencial da complexidade da vida em
sociedade. Essa conjuntura traz à tona uma vasta gama de transformações que
desafiam a ordem mundial e, ao mesmo tempo, permitem uma sucessiva ampliação
dos horizontes de possibilidades para as mais variadas coletividades humanas que
compõem as teias sociais do nosso planeta.
Em diferentes contextos, repensar as relações sociais da contemporanei dade
exige uma abordagem interdisciplinar, capaz de identi ficar que as questões de
âmbito universal impactam diretamente em lo calidades distintas e, de um modo
especial, nas cidades globais que se constituem como verdadeiros polos de
convergência. Na medida em q ue se redesenhou a nova co njuntura social, a partir da
segunda metade do século XX e do início do século XXI, modificaram -se os
modelos de referência soberanista e territorial dos Estados westfalianos e, por
conseguinte, a sociabilidade humana passou a considerar, cada vez mais, a
necessidade de uma combinação com os paradigmas cosmopolitas que atestam a
existência de uma comunidade mundial.
A história da civilização humana sempre foi marcada po r profundas
transições paradigmáticas, as quais se evidenciam, sobretudo, no epicentro das
grandes cidades do mundo. O atual cenário de interconexões sociais demonstra que a
temática abordada no presente artigo é d e grande relevância, uma vez que é
justamente nas cidades globais que podem emergir alguns d os principais ideais para
a construção e, mais do que isso, para a concretização de sociedades cosmopolitas.
Entretanto, o problema fundamental desse estudo reside nas possibilidades de se
encontrar alternativas reais para a consolidação de espaços cosmopolitas no âmbito
das cidades globais, isso porque, esses grandes centros urbanos de influência se
apresentam na ordem internacional repletos de heterogeneidades culturais, de
extremismos e de egocentrismos entre os padrões nacionais e internacionais,
externos e internos, locais e globais.
De fato, com a internacionalização dos riscos e a emergência de uma
infinitude de problemas globais como os relacionados às migrações, ao meio
ambiente, às intolerâncias, aos crimes transfronteiras e ao uso massivo das novas
tecnologias intensificaram-se, em boa medida, os projetos cosmopolitas de
cooperação interestatais em busca d e respostas para as extremas vulnerabilidades a
que são submetidas todas as for mas de vida presentes no planeta. Desse modo,

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