Dinâmicas Identitárias no Rural-Urbano-Rural: Território e Fronteira entre Agricultores do Rio De Janeiro

AutorCecilia Moreyra Figueiredo - Maria Inácia D´Ávila Neto
CargoDoutoranda em Psicossociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social, Programa EICOS da Universidade Federal do Rio de Janeiro - Doutorado em Psicologia Social pela Université Paris Diderot, Paris 7, França
Páginas180-199
http://dx.doi.org/10.5007/1807-1384.2015v12n2p180
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não
Adaptada.
DINÂMICAS IDENTITÁRIAS NO RURAL-URBANO-RURAL: TERRITÓRIO E
FRONTEIRA ENTRE AGRICULTORES DO RIO DE JANEIRO
Cecilia Moreyra Figueiredo
1
Maria Inácia D´Ávila Neto
2
Resumo:
O município do Rio de Janeiro é considerado eminentemente urbano, posto que esta
é a condição de 100% de sua população. No entanto, a realidade que observamos
transpassa os dados censitários oficiais, e a agricultura de caráter familiar
permanece ativa em algumas comunidades. Este estudo se realiza no campo
psicossociológico a partir de uma perspectiva interdisciplinar e analisa as dinâmicas
identitárias entre agricultores da cidade do Rio de Janeiro a partir das noções de
fronteira e identidade próprias da teoria pós-colonial. Focalizamos uma comunidade
que apresenta histórias centenárias de práticas ligadas à agricultura, que evidenciam
forte consciência coletiva sobre seu papel social: afirmam sua permanência no lugar
como fator de preservação da floresta da região e atribuem ao seu trabalho a devida
importância em suas relações sociais. Neste sentido abordaremos o tema a partir
das perspectivas teóricas da sociologia das ausências e da ecologia de saberes,
conforme nos apresenta Boaventura de Sousa Santos.
Palavras-chave: Interdisciplinaridade. Comunidades. Identidades. Fronteira. Pós-
colonialismo.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo busca investigar as dinâmicas identitárias entre agricultores no
território rural-urbano-rural, a partir de uma comunidade de agricultores familiares da
cidade do Rio de Janeiro, onde estes atores, bem como a própria prática da
agricultura estão invisibilizados. A pesquisa, realizada em nível de doutorado no
âmbito do programa EICOS, Psicossociologia de Comunidade e Ecologia Social,
que tem como objetivo cartografar as identidades de agricultores em dois municípios
da região metropolitana do Rio Janeiro buscando, através de imagens fotográficas,
1
Doutoranda em Psicossociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicossociologia de
Comunidades e Ecologia Social - Programa EICOS da Universidade Federal do Rio de Janeiro
pesquisadora no Laboratório de Imagens: gênero, corpo, espaço, participação e desenvolvimento no
mesmo Programa. Pesquisadora dos grupos de pesquisa Núcleo Ambiente, território e identidade da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ. E-m ail: cissafig@gmail.com
2
Doutorado em Psicologia Social pela Université Paris Diderot, Paris 7, França. Professora Titular da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, coordenando uma UNESCO chair on sustainable
development sediada no Programa de Pós-Graduação em Psicossociologia de Com unidades e
Ecologia Social - Programa EICOS, Rio de Janeiro, RJ. E-mail: davila@gm ail.com
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R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.12, n.2, p.180-199, Jul-Dez. 2015
captar os sentidos e os sentimentos destes atores sociais em relação ao trabalho na
agricultura e suas identidades psicossociais em contexto de forte urbanização. Os
depoimentos que servem de base para as reflexões apresentadas neste artigo foram
retirados de um documentário realizado pela pesquisadora em 2012 e que serviu
como ponto de partida para o desenvolvimento do projeto de pesquisa. Os
participantes deste documentário assinaram um termo de uso de imagem e voz e
optaram por utilizar seus nomes verdadeiros.
Partirmos da crítica realizada por Monteiro, Ericeira, Froelich e Silva (2013),
sobre os estudos realizados nas cidades, que ao enfatizarem os aspectos
macrossociológicos desagregadores dos espaços urbanos (deficiência da rede de
transportes, falta de moradia, saneamento básico precário, etc), não promovem a
visibilidade dos atores sociais que circulam nas e pelas cidades.
O município do Rio de Janeiro é um exemplo claro desta visão. Com uma taxa
oficial de 100% de urbanização, ou seja, tendo seus mais de 6 milhões de habitantes
residindo em áreas urbanas, a cidade está planejada política, administrativa e
economicamente a partir desta visão de urbanidade. Os dados numéricos muitas
vezes encobrem a visão mais profunda de uma realidade sociocultural, que é
produzida no cotidiano vivido pelos que se auto designam agricultores, vivem
segundo este autoconceito e adotam a atividade agrícola como modo de existência.
São estes grupos que hoje mantém viva a agricultura familiar na cidade e
representam um importante setor populacional, que tem na agricultura uma de suas
estratégias de reprodução social. Aqui observamos um fenômeno que se estabelece
fora da lógica hegemônica de urbanização que caracteriza a cidade do Rio de
Janeiro. Configura-se aqui uma situação psicossocial onde a agricultura familiar se
destaca tanto como um modo de existência quanto como uma atividade econômica.
Na primeira parte do artigo, produzimos uma revisão de referenciais teóricos
que fundamentam a discussão sobre a dinâmica rural-urbano-rural dos espaços
humanos nas cidades como um processo de modernização que se dá, em grade
medida, por um fluxo informacional que se encontra em meio caminho entre o rural e
o urbano (MARTÍN-BARBERO, 2002). Optamos aqui por caracterizar esta fronteira
como rural-urbano-rural, como uma crítica a simplificação apresentada por uma
dicotomia de separação rural-urbano. Entendemos assim, que entre rural e urbano

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