Dialogismo e Reflexidade: uma análise da contribuição dos Centros e Programas de Estudos de Gestão Social no Brasil

AutorJúnia Guerra - Armindo dos Santos de Sousa Teodósio
CargoMestre em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, UNA-BH - Doutor em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas do Estado de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas
Páginas45-62
Artigo recebido em: 1º/10/2014
Aceito em: 10/05/2015
http://dx.doi.org/10.5007/2175-8077.2015v17nespp45
Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
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DIALOGISMO E REFLEXIDADE: UMA ANÁLISE DA CONTRIBUIÇÃO
DOS CENTROS E PROGRAMAS DE ESTUDOS DE GESTÃO SOCIAL
NO BRASIL
Dialogism and Reflexivity: an analysis of the contribution of the
Centers and Programs of Study Social Management in Brazil
Júnia Guerra
Mestre em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local – UNA-BH. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em
Administração da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC –MG. Belo Horizonte, MG, Brasil. E-mail: juniafcg71@
gmail.com
Armindo dos Santos de Sousa Teodósio
Doutor em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas do Estado de São Paulo da Fundação Getúlio
Vargas. Professor do Programa de Pós-Graduação em Administração da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Belo
Horizonte, MG, Brasil. E-mail: teodósio@pucminas.br
Resumo
Este artigo tem como objetivo central analisar as
possibilidades dialógicas e reflexivas para o ensino
e a pesquisa de Gestão Social no Brasil a partir da
atuação de Centros e Programas de Estudo desse
campo no país. Para tanto, foram discutidas temáticas
que envolvem o construto teórico da Gestão Social e as
suas implicações para o exercício do ensino e pesquisa
acadêmicos por meio da perspectiva interdisciplinar. De
cunho qualitativo, esta pesquisa investigou seis Centros
e Programas de Estudo sobre Gestão Social no Brasil.
Adotou a entrevista semiestruturada em profundidade
com seus fundadores e coordenadores, bem como a
pesquisa documental como instrumento de coleta de
dados. Os resultados demonstraram que os Centros
e Programas de Estudo investigados reconhecem a
Gestão Social como gestão da coletividade social de
um dado território, no qual são assumidas relações
intersetoriais que, por sua vez, refletem em práticas
dialógicas e reflexivas.
Palavras-chave: Dialogismo e Reflexidade. Gestão
Social. Centros e Programas de Estudos.
Abstract
This article is aimed mainly at analyzing dialogic and
reflexive possibilities for teaching and research in Social
Management of Brazil from the operation of Centres
and Study Programs of this field in the country. To do
so, we discuss issues involving the theoretical construct
of social management and its implications for the
practice of teaching and academic research through
interdisciplinary perspective. A qualitative study, this
research investigated six Centers and Programs Study on
Social Management in Brazil. Adopted a semi-structured
in-depth interview with its founders and coordinators,
as well as documentary research as instruments of
data collection. The results showed that the Centers
and Programs of Study investigated acknowledge the
Social Management as managing social collectivity of
a given territory in which it is assumed intersectoral
relationships that, in turn, reflected in dialogical and
reflective practices.
Keywords: Dialogism and Reflexivity. Social
Management. Centres and Study Programs.
46 Revista de Ciências da Administração • v. 17, Edição Especial, p. 45-62, 2015
Júnia Guerra • Armindo dos Santos de Sousa Teodósio
1 INTRODUÇÃO
A Gestão Social pode ser apreendida como uma
forma de compreensão das organizações e do geren-
ciamento que surge em um contexto marcado por uma
“sociedade managerial”, cujas características decorrem
das ideias capitalistas como categorias dominantes do
pensamento econômico e do mercado, atribuindo à
empresa e as práticas de gestão um espaço central, de
dominação e alienação da maioria (CHANLAT, 2000,
p. 16; SACHS; LOPES; DOWBOR, 2010).
Esse fenômeno coloca em evidência as expres-
sões: gestão, gerir e gestor vinculadas aos princípios
administrativos da empresa privada, que elegeriam
atributos como a eficácia, produtividade, performan-
ce, competência, empreendedorismo, qualidade total,
cliente, produto e desempenho como prerrogativas de
excelência organizacional (AKTOUF, 1996).
Entretanto, em face aos graves problemas afron-
tados pela sociedade, fragmentação do social, empo-
brecimento, precariedade, exclusão, risco ecológico,
urge a necessidade de se ampliar os horizontes dos
aspectos propriamente humanos. Assim, a dimensão
social do desenvolvimento deixa de ser um “comple-
mento”, para se tornar um dos componentes essenciais
da transformação social (CHANLAT, 2000).
No cenário apontado, seria possível observar o
retorno do ator social ao se destacar que toda pessoa
pode se constituir em um sujeito ativo e que a realidade
das organizações se produz, reproduz e se transforma
por meio da interação dos diferentes grupos e indiví-
duos que as compõem (DOWBOR, 1999).
A partir do reconhecimento desse sujeito coletivo,
imbuído de subjetividade, crítica e
de reflexão de si mesmo, nasce a Gestão Social.
Marcada pela ideia de centralidade do sujeito nas
esferas sociais, suas dinâmicas tentam articular o pen-
samento técnico dos que trabalham com os processos
econômicos com o pensamento imbuído de valores
sociais. Essa perspectiva, ainda que assinalada por
aspectos que buscam mediar as “[...] deformações das
prioridades que levou aos dramas atuais [...]”, (ARAÚ-
JO, 2012, p. 15), sinaliza as dificuldades e os conflitos
presentes em processos no qual se prevê a interação
entre o social, o econômico e o político (ABRAMOVAY,
2012; DOWBOR, 2010).
Tal visão aproximaria a Gestão Social a valores
e práticas fundados na democracia e cidadania, tendo
em vista, o enfrentamento às expressões da questão
social, da garantia dos direitos humanos universais e
da afirmação dos interesses e espaços públicos como
padrões de nova civilidade (DOWBOR, 2005). “Estes
referenciais apontam a práxis da Gestão Social, como
mediação para a cidadania, que se contrapõe à pers-
pectiva instrumental e mercantil que vem sendo dada
a este tema” (MAIA, 2005 p. 16).
Por se tratar de um tema recentemente explorado
no cenário brasileiro e por estar associado às temáti-
cas relativas às transformações do tecido social, o seu
campo se encontra em construção ou “in progress”
(BOULLOSA, 2009). Vários autores, como Tenório
(1997), Fischer (1998), Junqueira (2000), Carrion
(2001), Boullosa e Schommer (2005), França-Filho
(2005), Pinho (2005) e Cançado (2011), revelam que
o termo Gestão Social permeia um campo teórico em
construção cuja indeterminação vem motivando, no
contexto social e científico indagações acerca de seus
fundamentos teóricos e práticos.
A crescente visibilidade e importância percebida
nos últimos anos acerca da Gestão Social, tanto no
meio acadêmico, quanto empresarial e governa-
mental propiciou a oferta de estruturas de formação
acadêmico-profissional cujos pressupostos didático-
-metodológicos, têm sido alvo de discussões. Tais
discussões, impulsionadas por hipóteses construídas
sobre a figura emergente da Gestão Social, elevam
significativas reflexões e críticas sobre as propostas
pedagógicas dos cursos em vigor no país com foco
na formação do gestor social. Segundo Schommer e
Boullosa (2010), essas discussões, ainda, permeiam
tentativas de instrumentalização dos cursos, os quais
detêm processos de ensino e aprendizagem conduzi-
dos hierarquicamente. Esse procedimento contraria
o cerne da Gestão Social e contribui para delimitar
precocemente um conceito ainda em construção.
Todavia, há dinâmicas de ensino-aprendizagem que
buscam consolidar os preceitos da Gestão Social por
meio de práticas que se configuram em dialogicidade
e em reflexidade.
Esse contexto induziu o presente artigo a analisar
as possibilidades dialógicas e reflexivas para o ensino e
a pesquisa de Gestão Social no Brasil a partir da atu-
ação de Centros e Programas de Estudo deste campo

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