Dialogando com os conceitos de transdisciplinaridade e de extensão universitária: caminhos para o futuro das instituições educacionais

AutorJosé Ivo Follmann
CargoDoutor em sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Jesuíta, Vice-Reitor e Professor Titular do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS, Brasil
Páginas23-42
1807-1384.2014v11n1p23
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não
Adaptada.
DIALOGANDO COM OS CONCEITOS DE TRANSDISCIPLINARIDADE E DE
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: CAMINHOS PARA O FUTURO DAS
INSTITUIÇÕES EDUCACIONAIS
1
José Ivo Follmann2
Resumo:
Após um pequeno preâmbulo estabelecido a partir de três referências concretas da
realidade presente, o texto pauta, num primeiro momento, um questionamento
amplo sobre a defasagem existente entre academia e sociedade, para, em seguida,
num segundo momento, estabelecer alguns pontos de reflexão sobre a importância
e pertinência da transdisciplinaridade para ajudar a dirimir esta defasagem, dentro
da discussão proposta, realçando para tal a importância do papel da extensão
universitária. Num terceiro momento, são apresentados alguns desafios,
oportunidades e perspectivas dentro do tema da institucionalização da
transdisciplinaridade no meio acadêmico, com a apresentação de alguns exemplos
concretos.
Palavras-chaves: Academia e sociedade. Interdisciplinaridade.
Transdisciplinaridade. Extensão universitária. Ressignificação da academia.
ABRINDO JANELAS...
A maneira como vou iniciar a minha participação neste evento, talvez soe
estranha e eu espero que, também, possa ser provocativa. Hoje tenho consciência
de que, apesar de ter quarenta anos de atuação no meio acadêmico, não preciso
esforçar-me muito para, às vezes, nele parecer estranho. Isto, talvez, se deva ao
fato de estar marcado por uma trajetória religiosa e de militância no campo religioso,
fazendo com que me transforme, às vezes, numa espécie de profanador do espaço
sagrado da academia... Ser estranho é fácil, mas a minha humilde pretensão aqui é
poder ser provocativo...
Antes de entrar no debate das questões que me foram colocadas, vou falar do
povo nas ruas do Brasil, vou falar do Papa Francisco e vou falar de uma Mãe de
Santo.
1 Este texto foi apresentado oralmente no Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no
Ensino, na Pesquisa e na Extensão Região Sul, em outubro 2013, Florianópolis, SC, Brasil.
2 Doutor em sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Jesuíta, Vice-Reitor e
Professor Titular do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade do Vale do
Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS, Brasil. E-mail: jifmann@unisinos.br
24
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.11, n.1, p. 23-42, Jan./Jun. 2014
Iniciemos com as “manifestações de junho e suas repercussões na
academia. Quando as “manifestações de junho” aconteceram, os políticos, a
sociedade e a academia se sentiram pegos de surpresa. Vou ater-me à academia.
Nós, da academia, fomos surpreendidos. E falo isto enquanto sociólogo. Ouviram-se
muitos comentários. Obviamente, também, muitos acadêmicos e professores
participaram das manifestações. Não poderia ser diferente. No entanto, será que a
academia deixou-se interrogar pelas manifestações? Muitos talvez digam que sim.
Muitos talvez digam que não. Alguns disseram: “A Academia fez a sua parte. Fez
reflexões em sala de aula. Aconteceram mesas de debate com professores. Houve
elaboração de muitos papers”. Outros disseram: “A Academia fez-se ausente. Lavou
as mãos. Só faturou academicamente em cima dos eventos. Entendeu que é
problema dos políticos e da sociedade”.
Em formaturas que eu presidi no início deste semestre (agosto, 2013), repeti
diversas vezes as seguintes palavras, revestidas de empáfia característica: “A partir
das ‘manifestações de junho’ deste ano, um dos muitos comentários que se ouviu
foi: ‘Depois desses eventos o Brasil não voltará mais a ser o mesmo; a sociedade
brasileira não voltará mais a ser a mesma’ [...] E eu acrescento: ‘A universidade
brasileira não poderá mais ser a mesma; as profissões não poderão mais ser as
mesmas; a profissão de vocês não poderá ser mais a mesma!’ [...] Fiquei sempre
muito satisfeito e até impressionado com o efeito evidente que este discurso
repercutia nos rostos concordes do público e dos novos profissionais em festa.
Passada a euforia daqueles momentos de discurso impactante, já me perguntei,
muitas vezes, sobre a verdadeira efetividade daquelas palavras. Uma nova
universidade é possível? Quais devem ser as características desta nova
universidade?
Depois de aberta esta primeira janela, vou para outra. Atendamos para um
homem, cujo jeito de ser e de se posicionar, em sua função, vem chamando a
atenção de muitos: Falo do Papa Francisco. Recentemente, em uma importante
entrevista para a Revista Civiltá Cattólica
3 e, com ela, para uma Rede de Periódicos
no mundo todo, ao se dirigir aos jesuítas e ao mundo intelectual em geral, falou de
três palavras chaves fundamentais: diálogo, discernimento e fronteiras, e
3 Entrevista na íntegra disponível em: http://fratresinunum.com/2013/09/19/integra-da-entrevista-de-
francisco-a-civilta-cattolica/.

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