Détente e détentes na época da guerra fria (décadas de 1960 e 1970)

AutorSidnei José Munhoz - José Henrique Rollo
CargoDoutor em História Econômica (USP) e Professor Associado do Departamento de História e do Programa de Pós-graduação em História da UEM, Maringá, Paraná, Brasil - Doutor em História Comparada (UFRJ) e Professor Adjunto do Departamento de História da UEM, Paraná, Brasil
Páginas138-158
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2014v21n32p138
DÉTENTE E DÉTENTES NA ÉPOCA DA GUERRA FRIA
(DÉCADAS DE 1960 E 1970)
DÉTENTE AND DÉTENTES DURING THE COLD WAR
(1960s AND 1970s)
Sidnei J. Munhoz*
José Henrique Rollo**
Resumo: Este artigo tem como objetivo o estudo da Détente durante a Guerra
Fria. Isto será efetuado pela análise de diferentes modelos analíticos utilizados
por especialistas para examinar aquele período histórico. Desse modo, neste
trabalho, o desenvolvimento da noção de détente durante a Guerra Fria e as
diferentes détentes sublinhadas por diferentes perspectivas serão objeto de
escrutínio. Para a consecução desses objetivos, o artigo explora as diferentes
características da chamada Détente Francesa, da Ostpolitik e da détente
Estadunidense Soviética.
Palavras-chave: Guerra Fria; Détente;
Abstract: This article has as subject the study of Détente during the Cold
War. It will be done by the analysis of different frameworks used by scholars
to examine that historical period. Thus, in this work, the development of a
notion of Détente during the Cold War and the different détentes highlighted
by diverse points of view will be subject of scrutiny. To do that, the article
explores the main characteristics of the so-called French Détente, the
Ostpolitik, and the US-USSR Détente.
Keywords: Cold War; Détente;
** Doutor em História Econômica (USP) e Professor Associado do Departamento de História
e do Programa de Pós-graduação em História da UEM, Maringá, Paraná, Brasil. Agradeço
ao CNPq pela Bolsa Produtividade em Pesquisa que possibilitou o desenvolvimento destes
estudos. E-mail: sidneimunhoz2010@gmail.com
** Doutor em História Comparada (UFRJ) e Professor Adjunto do Departamento de História
da UEM, Paraná, Brasil. E-mail: zrollo@uol.com.br
139
Revista Esboços, Florianópolis, v. 21, n. 32, p. 138-158, out. 2015.
Entre aproximadamente 1947 e 1989-1991, EUA e URSS competiram
pela construção e consolidação de esferas de inuência, lastreados em
diferentes projetos políticos. Foi o período da Guerra Fria, época que é
vista, predominantemente, sob a perspectiva de um mundo dividido por um
conito bipolar a envolver dois blocos organizados e dinamizados pelas duas
únicas superpotências globais. Essa imagem, bastante verossímil, merece
ser matizada de forma adequada. Se, de um lado, a Guerra Fria signicou a
intensicação de conitos em escala planetária, de outro, ela produziu, após
a fase inicial, certa estabilidade, além de padrões toleráveis e previsíveis de
confronto. Os dois Estados confrontaram-se de forma indireta por intermédio
dos países que compunham as suas respectivas esferas de inuência, mas, ao
mesmo tempo, impediram que conitos regionais escapassem ao controle e se
transformassem em guerras de dimensões mundiais. Assim, produziram certa
estabilidade mundial mesmo que sob o risco e a ameaça de um permanente
confronto nuclear.
A busca de estabilidade, a denição de padrões toleráveis de conito
e, ao mesmo tempo, a criação de canais para a negociação, deram origem
a uma fase do conito que foi denominada détente, distensão ou, ainda,
desanuviamento. Uma fórmula jornalística para deni-la foi produzida por
André Fontaine:
[...] os vinte anos transcorridos após o m da prova de força
que engajou, em outubro de 1962, Kruschev e Kennedy a
propósito dos mísseis de Cuba. O medo de ambas as partes
foi tal que elas se prometeram de tudo fazer para evitar que
doravante se reencontrassem a beira do abismo. Foi assim
que a uma fase de “tensão” extrema se sucedeu uma fase
de indiscutível “distensão”1
Para o então editor-chefe do diário parisiense Le Monde, o marco
temporal mais recuado do período estava em 1962. Contudo, ele mesmo
observou, mais adiante, que os anos transcorridos entre a morte de Stalin,
em março de 1953, e os acontecimentos de 1956 na Hungria (intervenção
soviética) e no Egito (intervenção franco-britânico-israelense durante a assim-
chamada crise de Suez) também conheceram um “degelo” que bem poderia
ser denominado “distensão”2). As hesitações do experiente jornalista francês
indicam-nos que, no que diz respeito à détente, há fortes polêmicas quanto à
datação dessa fase bem como quanto ao signicado que se pode atribuir ao
próprio termo. Convém, então, discutir melhor essas questões.
Em um estudo de grande valia, embora, como é comum entre os
pesquisadores anglo-saxões, limitado à bibliograa em língua inglesa, Brian
White3 estabeleceu as principais variações nos usos prossionais da palavra
détente. Segundo ele, podemos compreendê-la em três claves, basicamente.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT