O design gráfico como assinatura na Revista Sui Generis

AutorJorge Luís P. Rodrigues
Páginas129-155
129
Niterói, v.12, n.1, p. 129-155, 2. sem. 2011
O DESIGN GRÁFICO COMO ASSINATURA NA
REVISTA SUI GENERIS
Jorge Luís P. Rodrigues
Instituto Federal de Educação, Tecnologia e Ciências - IFRJ
E-mail: cae_rodrigues@globo.com
Resumo: Este trabalho apresenta um resultado da pesquisa sobre as “Im-
pressões de Identidade” recolhidas em alguns periódicos da imprensa gay
do Rio de Janeiro. Partindo de uma perspectiva interdisciplinar, a tese faz
um estudo comparativo entre a linguagem verbal e a linguagem visual des-
ses periódicos, para, a partir deles, ler as histórias e estórias da construção
de diferentes identidades gays. Neste artigo apresento a revista Sui Generis,
que divulgou o conceito GLS e trouxe grandes mudanças no campo do de-
sign gráfico. Tanto quanto narrar a situação social e política de um grupo
em determinada época, jornais e revistas de temática libertária indiciam as
concordâncias que formulam o design identitário desse grupo.
Palavras-chave: homossexualidade, design, imprensa.
Abstract: This work is the result of research on “Impressions of Identity”
gathered from a number of periodicals of the gay press in Rio de Janeiro.
Taking an interdisciplinary view, the thesis makes a comparative study be-
tween the verbal language and the visual language of these periodicals. In
this article I introduce the magazine Sui Generis which popularized the con-
cept of GLS and introduced great changes in the field of graphic design in
the gay press. Not only do they narrate the social and political situation of a
group at a certain time, but libertarian newspapers and magazines indicate
the agreements which formulate the identity design of that group.
Keywords: homosexuality, design, press
130 Niterói, v.12, n.1, p. 129-155, 2. sem. 2011
Um periódico é feito de textos e imagens – elementos textuais e não
textuais – que obedecem a um ordenamento estético-formal determinado
pelo designer. O design gráfico cumpre, assim, seu papel de promover uma
espécie de interlocução, um diálogo entre o objeto e o usuário. Gustavo
Bomfim nos diz que “o design é uma práxis que confirma ou questiona a
cultura de uma determinada sociedade” (2000: 150). Impossível negar que
vivemos hoje numa sociedade cada vez mais dominada pela cultura da
imagem. Nos diferentes aspectos da “aldeia global”, a cultura visual é de
extrema importância.
Os periódicos dirigidos às questões homoeróticas espelham as dúvi-
das, lutas e valores da comunidade gay. E acredito que os periódicos façam
parte da rede de informação de grande número de indivíduos que vivem
clandestinizados, de certa forma invisibilizados no dia a dia da sociedade.
Há muito se discute a homossexualidade de diferentes formas e com
múltiplas abordagens. Dentro dos “novos movimentos sociais” que emer-
giram durante os anos 1960, o movimento gay foi aquele que talvez mais
dificuldades teve para se estabelecer, ou nas palavras de Stuart Hall (2000),
encontrar sua “política de identidade – uma identidade para cada movi-
mento”. Como em toda forma de legitimação, foi necessário criar todo um
aparato de valores, ideias e discursos. E os periódicos, dentre as várias for-
mas de mídia da sociedade moderna, levam estas informações de forma
direta e acessível.
Não tenho dúvida que a imprensa desempenha um papel muito im-
portante na sociedade. Como nos diz Woer e Gregorius: The printed medi-
um makes our affiliation visible. Many people display their favorite magazine
on coffee tables to signal their attitudes to others” (1998: 25).1 Ainda podemos
ver os periódicos como contadores de estórias (storytelling). Aqueles que
recriam o mundo para o leitor e criam um senso de comunidade.
Parafraseando Eric Schollhammer, minha abordagem se situa na re-
lação entre o que o texto “faz ver” e o que a imagem “dá a entender” para
delinear o projeto/design do regime representativo de um determinado
momento histórico e cultural. O design desempenha também um papel
de tradutor e mantenedor da sociedade na qual ele se inscreve. O designer
italiano Alberto Alessi fala que o design tende mais para a arte e poesia
do que tecnologia e mercado (apud Couto & Oliveira, 1999). Na nossa so-
1 “A mídia impressa torna nossa aliação visível. Muitas pessoas colocam sua revista predileta sobre a mesa
de centro para demonstrar suas atitudes para os outros” (1998: 25).

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT