O descarte do trabalhador idoso no capitalismo contemporaneo e sua reutilizacao: elementos que os conduzem ao mercado informal de trabalho/The discard of the elderly worker in contemporary capitalism and their reusability: elements leading to the informal labor market.

AutorSantos Alves, Claudia Nubia dos

Introducao

O presente trabalho tem como objeto de estudo a "problematica social do envelhecimento" do trabalhador no capitalismo contemporaneo, tendo como tela de fundo as particularidades que revelam o retorno do trabalhador idoso ao mercado de trabalho.

Cabe ressaltar que a expressao "problematica social" da velhice ou do envelhecimento e utilizada sob aspas pois nao se considera que o envelhecimento ou a velhice pelas restricoes fisicas, nos papeis sociais, comportamental, dentre outros, seja um problema social para todos os idosos de uma populacao. Ao contrario, constitui um problema social para determinada classe destituida de propriedade, exceto da sua forca de trabalho. Considerando-se sua vulnerabilidade em massa, essa classe, principalmente quando envelhece, perde o valor de uso para o capital (TEIXEIRA, 2008).

Desse modo, problematiza-se aqui o envelhecimento dos trabalhadores destituidos dos meios de producao. Atenta-se a uma exposicao do movimento do capital que e submetido as necessidades de acumulacao e reproducao ampliada atraves do trabalho, buscando-se compreender de que modo a forca de trabalho e expropriada e explorada pelo capital com o advento da aposentadoria.

Tendo em vista que a forca de trabalho e o unico bem de que o trabalhador dispoe para o capital, quando ele envelhece e se afasta do processo produtivo de mercadorias, cabe questionar: como tem vivenciado esse afastamento? Que elementos contribuem para o seu ingresso em uma nova jornada de trabalho? E por motivacoes economicas ou subjetivas?

Dada a quantidade de trabalhos e suas variadas formas de abordagem, escolhemos estudar o emprego informal desenvolvido por idosos.

1 Concepcoes acerca da velhice e do envelhecimento

Para entendermos a questao do envelhecimento no Brasil, faz-se necessario perceber que este fenomeno e mundial e que nos anos mais recentes ganhou mais visibilidade nos paises em desenvolvimento. Dados da ONU afirmam que, em 2050, pela primeira vez havera mais idosos que criancas menores de 15 anos. Em 2012, ja se estimava a populacao idosa em 810 milhoes de pessoas com 60 anos ou mais, constituindo 11,5% da populacao global (IBGE, 2012).

A questao do crescimento da populacao idosa e apresentada por Veras (1999) como consequencia do aumento da expectativa de vida e do declinio da taxa de fecundidade gracas aos avancos da medicina. Com isso, a participacao ascendente dos idosos demanda novos desafios para o Estado, governos, sociedade e familia, no que se refere a necessaria tomada de consciencia da presenca dos sujeitos sociais que podem e devem ser tratados enquanto cidadaos. Portanto, que merecem, como todos, dignidade, respeito e condicoes materiais que lhes permitam uma qualidade de vida digna.

Sobre a realidade estigmatizada dos idosos, Beauvoir (1990, p. 8) considera que "[...] essa sociedade nao e apenas culpada, mas criminosa. Abrigada por tras do mito da expansao e da abundancia, trata os velhos como parias". Por isso entende-se que nosso modelo societario impoe aos idosos estereotipos que nos conduzem, por meio de processos alienantes, a enxergar o velho como improdutivo, ultrapassado, que vive doente, entre outros estigmas. Sendo assim, "[...] o carater descartavel do idoso e funcional a sociedade de consumo, reproduzindo, sem mascaras, as mazelas do capitalismo" (GOLDMAN, 2000, p. 19).

1.1 O envelhecimento e o mundo do trabalho: limites e desafios

As mutacoes no mundo do trabalho acarretaram consequencias muito fortes no modo do trabalho operario. Vivemos, na decada de 1970, um quadro de crise estrutural do capital, que fez com que o trabalhador adotasse estrategias de restauracao do seu poder de reproducao e que afetaram diretamente o mundo do trabalho.

Com a sua expansao e a consequente crise do Welfare State (1), o neoliberalismo passou a ditar o ideario dos programas a serem implementados pelos paises capitalistas, contemplando reestruturacao produtiva, privatizacoes, diminuicao do poder estatal e desmonte dos direitos sociais dos trabalhadores. Para Antunes (1999, p. 179), dessa forma,

A centralidade do processo de reestruturacao produtiva recai sobre a necessidade de recuperacao do ciclo de reproducao do capital, no entanto foi ausente nesse processo o questionamento do modo de producao capitalista. Particularmente nas ultimas decadas, como respostas do capital a crise dos anos 1970, intensificaram-se as transformacoes no proprio processo produtivo. Isso aconteceu atraves do avanco tecnologico, da constituicao das formas de acumulacao flexivel e dos modelos alternativos ao binomio taylorismo/fordismo, no qual se destaca, para o capital, especialmente o modelo "toyotista", ou modelo japones.

As consequencias das transformacoes do processo de producao no seculo XX, citadas por Antunes (1999), foram a diminuicao do operariado manual, fabril, o aumento do trabalho parcial, o subcontratado, a terceirizado, a expansao dos assalariamentos medios e no setor de servicos, que inicialmente alimentou o desemprego tecnologico, bem como a exclusao dos trabalhadores jovens e dos mais velhos do mercado de trabalho nos paises de capitalismo central.

Para enfrentar a crise e manter a lucratividade, o capital se reinventa, de modo a garantir a sua dinamica de acumulacao. Essas alteracoes atingem diretamente aqueles que, nas palavras de Antunes (1999), sao a classe-que-vive-do-trabalho, operarios, vendedores de servicos, todos os que nao dispoem dos meios de producao.

Um traco marcante do processo de exploracao da nova organizacao de producao e a captura da nossa subjetividade, em que e disseminada apenas a ideologia baseada em valores sociais economicos capitalistas. Dessa maneira, o sujeito e obrigado a submeter-se a compreensoes que fogem dos seus proprios desejos, se inscrevendo num campo puramente racional, embora possa assumir um carater fantasioso quando assim interessar ao capital. Sao desejos reprimidos.

A subjetividade do...

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