Descaminhos da Europa na atualidade: a Europa está toda errada; é preciso passá-la a limpo

AutorAntónio José Avelãs Nunes
Páginas20-50
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PALESTRA RED|UNB
Descaminhos da Europa na atualidade: a Europa está toda
errada; é preciso passá-la a limpo
Palestra proferida pelo Prof. Dr. Antônio José Avelãs Nunes, no Auditório
Joaquim Nabuco, na Faculdade de Direito da Universidade de Brasília, em 11.05.2017,
com o apoio da RED|UnB. Antônio Avelãs é Professor Catedrático Jubilado da
Faculdade de Direito de Coimbra, Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de
Alagoas, pela Universidade Federal do Paraná e pela Universidade Federal da Paraíba,
Sigillo d’Oro da Università Degli Studi di Foggia e Membro Honorário da Academia
Brasileira de Letras Jurídicas.
O Professor nos abrilhantou com sua exposição sobre a atual situação da União
Europeia, a partir de uma contextualização histórica originária da 1a Guerra Mundial,
onde destacou-se, dentre outros temas, o papel central dos Estados Unidos da América e
da Alemanha durante os conflitos bélicos do século XX e suas respectivas ideologias,
vertentes que alicerçaram a expressividade dessas potências à época dos confrontos
armados. Ademais, foram trazidas importantes reflexões acerca da atual ditadura do
capital financeiro e da crise do Capitalismo.
CRISE DA ‘EUROPA’, CRISE DA DEMOCRACIA
1. Muito mais do que em 1914-1918, a 2ª Guerra Mundial foi, por parte da
Alemanha, uma guerra de ocupação, de extermínio de populações civis, de pilhagem de
estruturas fabris e de recursos naturais, de exploração dos cidadãos dos países ocupados
como mão-de-obra escrava. Para além dos que eram forçados a trabalhar para a
economia de guerra alemã nos seus próprios países, em setembro de 1944 trabalhavam
na Alemanha, em regime de trabalho forçado, cerca de 7,5 milhões de cidadãos
provenientes de países ocupados pelo exército nazi (21% da força de trabalho do país).
Foram muitos os prejuízos causados pela Guerra no plano económico. Mas as
perdas mais dramáticas foram as perdas humanas: pelo menos 36,5 milhões de mortos
entre 1939 e 1945, a maioria dos quais mortos civis (só a União Soviética perdeu 25
milhões de pessoas, mais de 16 milhões de civis). A estas perdas temos de acrescentar a
das crianças que não nasceram por causa da Guerra e dos problemas que tiveram de
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enfrentar, no final da Guerra, os muitos milhões de pessoas deslocadas (civis e
militares) em vários países, uma boa parte das quais não teve condições de regressar ou
não quis regressar (por diversas razões) aos seus países e/ou às suas terras de origem. A
Europa perdeu uma geração.
A Guerra alterou profundamente a geografia política do mundo: durante a
Guerra o PIB dos EUA duplicou; em 1945 a América possuía metade da capacidade de
produção industrial instalada em todo o mundo; dispunha da maioria dos excedentes
alimentares; controlava a quase totalidade das reservas financeiras; tinha uma frota
maior do que as dos outros países em conjunto; dispunha da única moeda que podia
funcionar como meio de pagamentos internacionais.
Dentro do mundo capitalista, os EUA emergem como potência hegemónica, nos
planos económico, política e militar, o que significou “rebaixar a Grã-Bretanha e a
França à posição de sócios menores do imperialismo norte-americano.”
O livre cambismo foi, desde o início e até à 1ª Guerra Mundial, um instrumento
ao serviço dos interesses da Inglaterra imperial e industrializada, e tem sido sempre a
ideologia das potências hegemónicas e dos interesses dominantes. No final da 2ª Guerra
Mundial, ele foi utilizado pelos EUA para consolidar o seu estatuto de potência
hegemónica no mundo capitalista. Por isso fizeram consagrar os seus princípios nos
Acordos de Bretton Woods (1944), dos quais resultou o sistema monetário
internacional (alicerçado na conversão do dólar em ouro, no Fundo Monetário
Internacional e no Banco Mundial) e o GATT (General Agreement on Trade and
Tariffs). E o Plano Marshall foi igualmente utilizado para facilitar a imposição do
livrecambismo nas relações comerciais em todo o mundo capitalista.
Sobretudo após a chamada contra-revolução monetarista (a partir de meados da
década de 1970), o livrecambismo, enquanto elemento fundamental da ideologia
dominante, foi difundido e apoiado por campanhas alimentadas pelos poderosos
aparelhos ideológicos ao serviço do grande capital. O imperialismo do livre comércio
foi, claramente, um instrumento ao serviço da consolidação da posição hegemónica dos
EUA em todo o mundo capitalista, no plano económico e no plano militar. Na primeira
linha de combate, o FMI e o Banco Mundial (mais tarde, a OMC).

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