Desastres em massa

AutorJeidson Antonio Morais Marques
Páginas343-379

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Desastre é a consequência de um evento adverso, podendo ocorrer de forma natural ou induzida pelo homem ou de uma relação entre ambas. Assim, a intensidade de um desastre depende da interação entre a magnitude do evento adverso e o grau de vulnerabilidade do sistema afetado.

Desastres em massa, de acordo com a INTERPOL, é todo evento que resulta na quantidade de vítimas fatais maior que a capacidade instalada para resposta.

Há inúmeras classificações para desastres, mas no Brasil a Defesa Civil divide os tipos de desastres em três categorias: quanto à origem, quanto à evolução e quanto à intensidade.

Quanto à origem, os desastres podem ser classificados como Naturais, quando são provocados por desequilíbrios e fenômenos da natureza, por fatores externos, independentes da ação do ser humano; Humanos ou antropomórficos, quando são provocados pelas ações ou omissões humanas. São a atuação do próprio homem, enquanto agente e autor. Esses desastres podem produzir situações capazes de gerar grandes danos à natureza, ao habitat humano e ao próprio homem, enquanto espécie; e Mistos, quando as ações e/ou omissões humanas contribuem para intensificar, complicar ou agravar os desastres naturais. Além disso, também se caracterizam quando intercorrências de fenômenos adversos naturais, atuando sobre condições ambientais degradadas pelo homem, provocam desastres (BRASIL, 2007).

Quanto à evolução, tem-se os desastres súbitos, os de evolução gradual e os desastres por soma de efeitos parciais. Os desastres súbitos ou de evolução aguda caracterizam-se pela velocidade com que o processo evolui e, normalmente, pela violência dos eventos adversos, causadores dos mesmos, exemplos: deslizamentos, enxurradas, vendavais, terremotos, erupções vulcânicas, chuvas de granizo e outros. Os desastres de evolução crônica ou gradual, ao contrário, caracterizam-se por

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evoluírem através de etapas de agravamento progressivo, os exemplos são: seca, erosão ou perda de solo, poluição ambiental e outros. Os desastres por somação de efeitos parciais são caracterizados pela somação de numerosos acidentes ou ocorrências, com características semelhantes, os quais, quando somados, ao término de um período definem um grande desastre. Cólera, malária, acidentes de trânsito e acidentes de trabalho são exemplos desse tipo de desastre (BRASIL, 2007).

Quanto à intensidade, os desastres são classificados em: acidentes; desastres de médio porte; desastres de grande porte; e desastres de muito grande porte. Os acidentes são caracterizados quando os danos e prejuízos consequentes são de pouca importância para a coletividade como um todo, já que, na visão individual das vítimas, qualquer desastre é de extrema importância e gravidade. Os desastres de médio porte são caracterizados quando os danos e prejuízos, embora importantes, podem ser recuperados com os recursos disponíveis na própria área sinistrada. Os desastres de grande porte exigem o reforço dos recursos disponíveis na área sinistrada, através do aporte de recursos regionais, estaduais e, até mesmo, federais. Os desastres de muito grande porte, para garantir uma resposta eficiente e cabal recuperação, exigem a intervenção coordenada dos três níveis do Sistema Nacional de Defesa Civil - SINDEC - e, até mesmo, de ajuda externa (BRASIL, 2007).

Histórico

Os desastres têm acompanhado a história da humanidade. Diversos foram os tipos e localizações por todo o mundo. Dentre os incidentes destacam-se os que marcaram a história da odontologia legal e dos métodos de identificação de vítimas.

Em 1897, um incêndio no Bazar da Caridade, em Paris, levou o Dr. Oscar Amoedo, dentista, cubano, ao interesse da Odontologia Legal e, subsequentemente, ele foi condecorado como o fundador deste ramo da Ciência Forense. Este evento resultou na morte de 126 parisienses, em sua maioria, carbonizados (VANRELL, 2009). Os dados odontológicos ante mortem, fornecidos pelos Cirurgiões-dentistas envolvidos nesta tragédia, possibilitaram a identificação das vítimas (BOTHA, 1986).

Em 1912, o transatlântico Titanic naufragou, durante a sua viagem inaugural, após chochar-se com um iceberg. Dos 2.200 passageiros a bordo, 1.513 foram a óbito. Muitos desses corpos foram identificados por meio do exame das arcadas dentárias (VANRELL, 2009).

Outro desastre de grande repercussão ocorreu em \° de fevereiro de 1974. Um curto circuito no ar condicionado do 12° andar levou o edifício Joelma, na cidade de São Paulo, às chamas, deixando 191 mortos e mais de 300 feridos.

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Em 11 de setembro de 2001, o mundo parou para assistir a uma das cenas mais chocantes já vistas, o ataque terrorista às Torres Gêmeas em New York — EUA. Foram identificados 1.640 corpos, de um total de 2.753 pessoas dadas como mortas. Um grande número de vítimas só pôde ser identificado através das arcadas dentárias (BUDOWLE et al., 2005).

O Boeing Gol 1907 decolou de Manaus às 13:35 no dia 29 de setembro de 2006, tendo a bordo 148 passageiros e seis tripulantes, rumo ao Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro, tendo uma escala em Brasília. Neste mesmo dia, as 13:15 (horário de Brasília), um jato Embraer Legacy 600 viajava de São José dos Campos para os Estados Unidos, com uma escala em Manaus. No Legacy havia cinco passageiros, o piloto e o co-piloto.

Na sexta-feira (29 de setembro de 2006), ocorreu uma colisão entre essas duas aeronaves. A asa esquerda e a extremidade esquerda do jato Embraer Legacy 600 chocou-se com a da Gol. Apesar das duas naves serem equipadas com um sistema de alerta e prevenção de colisões, não foi possível impedir o acidente. O jato conseguiu fazer um pouso de emergência no Campo de Provas Brigadeiro Velloso (CPBV), uma base da Força Aérea Brasileira (FAB) na Serra do Cachimbo. No entanto, o avião da Gol não teve o mesmo destino, ele mergulhou verticalmente na Região conhecida como Serra do Cachimbo (Pará), isso levou os 154 passageiros do Boeing à morte.

Na manhã do dia 30 de setembro de 2006 os destroços da aeronave Gol foram encontrados, mais de cem homens foram disponibilizados para as operações de busca e salvamento. Para ter acesso à área os soldados tiveram que abrir clareiras na mata, para que helicópteros pudessem pousar. Foram encontrados todos os corpos, e foram identificados pelo Instituto Médico Legal (IML) de Brasília.

No dia 17 de julho de 2007, a tripulação do Airbus da TAM decolou de Porto Alegre as 17:16 com destino ao Aeroporto de Congonhas em São Paulo, havia no voo 187 pessoas. O acidente com esse voo aconteceu durante o pouso, pós reforma da pista do Aeroporto de Congonhas.

Neste dia, após pouso com sucessiva hidroplanagem, o Airbus atravessa a Av. Washington Luís e colide com o prédio da TAM EXPRESS e com um posto de combustível. O acidente gerou um incêndio que levou os 187 passageiros, 11 trabalhadores da TAM EXPRESS e um taxista que estava no local à morte; o incêndio durou aproximadamente 24 horas e foi combatido pelos bombeiros da cidade de São Paulo.

Devido ao incêndio, a identificação das vítimas ficou prejudicada, o Instituto Médico Legal (IML) usou técnicas de identificação por impressão digital, exames de DNA e por arcada dentária.

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O Airbus da Air France partiu do Rio de Janeiro no dia 31 de maio de 2009 em direção a Paris. Durante o voo noturno, aproximadamente 2 horas e 14 minutos após a decolagem, a aeronave caiu sobre o Oceano Atlântico com 228 pessoas a bordo. Este acidente gerou uma comoção mundial e uniu esforços do Brasil e da França na procura dos destroços e possíveis sobreviventes.

Os destroços do Airbus só foram localizados no dia 02 de julho de 2009 através de um avião radar da EMBRAER. Além de aviões, helicópteros, navios, submarinos e robôs submergíveis, foram usados no recolhimento dos corpos e destroços. As caixas pretas do avião só foram encontradas no início de maio de 2011 (dois anos após o acidente).

Em 5 de julho de 2012, o BEA apontou que a tragédia foi causada por uma combinação de erros de avaliação dos pilotos, com problemas técnicos ocorridos por congelamento nos sensores de velocidade (Sondas Pitot). O relatório confirma a hipótese que as sondas Pitot, obstruídas pelo gelo formado pelo frio em altas altitudes (11 mil pés), com isso não conseguiram informar a velocidade correta da aeronave, o que causou a desconexão do piloto automático.

O Boeing da Malaysia Airlines (VOO MH 17) saiu de Amsterdã com destino à Kuala Lumpur, na Malásia, a bordo estavam 298 pessoas. A Torre de Controle Aéreo Ucraniana perdeu contato com a aeronave as 14:15, próximo à fronteira entre a Ucrânia e a Rússia. Logo após a perda de contato descobriu-se que o avião havia caído no vilarejo de Hrabove, testemunhas registraram o momento da queda.

Neste desastre não houve nenhum sobrevivente. Os corpos dos passageiros e destroços foram rapidamente encontrados, alguns deles caíram sobre casas e plantações. Análises dos destroços apontam que o Boeing foi perfurado em vários pontos, tendo seu combustível inflamado, levando a uma explosão.

Através da análise da caixa-preta da aeronave, os investigadores concluíram que o avião não sofreu nenhuma falha técnica ou operacional, mas apontam que um objeto com alta energia de impacto atingiu externamente o avião, levando à explosão e queda. Chegou-se à conclusão de que o avião foi derrubado por um míssil (míssil SA-11), projetado para pulverizar aeronaves com o impacto.

O maior acidente aéreo do mundo ocorreu em 27 de março de 1977, na ilha turística de Tenerife, na Espanha. Devido ao grande número de pousos e decolagens no aeroporto da ilha, ocasionado pela alta estação e fechamento do aeroporto Las Palmas, houve uma...

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