Desafios para a equidade racial nas universidades: os processos de continuidade da colonização na esfera epistemológica de formação

AutorJessica Santana Bruno - Claudio Orlando Costa do Nascimento
CargoMestre pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre a Universidade em Salvador, BA, Brasil - Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA. Professor/Pesquisador do Centro de Estudos Interdisciplinares em Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas da Universidade Federal do ...
Páginas16-34
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.16, n.1, p. 17-35 Jan-Abr 2019
ISSN 1807-1384 DOI: https://doi.org/10.5007/1807-1384.2019v16n1p16
Artigo recebido em: 02.09.2017 Revisado em 17.10.2018 Aceito em: 27.11.2018
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons
DESAFIOS PARA A EQUIDADE RACIAL NAS UNIVERSIDADES: OS
PROCESSOS DE CONTINUIDADE DA COLONIZAÇÃO NA ESFERA
EPISTEMOLÓGICA DE FORMAÇÃO
Jessica Santana Bruno
1
Claudio Orlando Costa do Nascimento
2
Resumo
O diálogo aqui proposto visa discutir os processos de continuidade da colonização
na esfera epistemológica e as vinculações dessa realidade à formação dos
indivíduos de grupos sociais historicamente marginalizados que atualmente estão
acessando as Universidades a partir das políticas e ações afirmativas. O acesso de
estudantes negras/os, indígenas, oriundas/os de bairros periféricos, pequenas
cidades do interior, de camadas sociais que historicamente foram marginalizadas e
privadas do direito a uma educação pública de qualidade e as Universidades vêm
contrariando a lógica meritocrática e excludente que muito é um marcador da
educação no Brasil. A entrada destas/destes estudantes nas Universidades vêm
rompendo a frequente tradição de baixa escolaridade a qual estes grupos sociais
vêm sendo sistematicamente submetidos. A nova realidade dessas Instituições
evidencia a necessidade de estratégias de formação que atendam as necessidades
de transformação, que altere suas ações de maneira a acolher e afiliar essas/esses
novas/os estudantes.
Palavras-chave: Descolonização do Conhecimento. Racismo Epistêmico. Cotas
Raciais
CHALLENGES FOR RACIAL EQUITY IN UNIVERSITIES: THE PROCESSES OF
CONTINUITY OF COLONIZATION IN THE EPISTEMOLOGICAL SPHERE OF
FORMATION
Abstract:
The dialogue proposed here aims at discussing the processes of continuity of
colonization in the epistemological sphere and their linkages to the formation of
individuals from historically marginalized social groups who are currently accessing
Universities from affirmative actions and policies. The access and admissions of
black students, indigenous persons, people from outlying districts, from small cities of
the interior, persons with background from social strata that have been historically
marginalized and deprived from the right to quality public education, and the
1
Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre a Universidade em
Salvador, BA, Brasil. E-mail: jessicabruno2@hotmail.com
2
Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Feder al da Bahia, Salvador, BA.
Professor/Pesquisador do Centro de Estudos Interdisciplinares em Cultura, Linguagens e Tecnologias
Aplicadas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, do Mestrado Profissional em História da
África, da Diáspora e dos Povos Indígenas, do Mestrado Acadêmico Estudos Interdisciplinares sobre
Universidade, do Instituto de Hum anidades, Artes e Ciências em Cruz das Almas, BA, Brasil. E-mail:
claudiorlando@ufrb.edu
17
universities themselves have been against the meritocratic and excluding logic that
has long been a marker of education in Brazil. The admissions of these students into
universities has broken the frequent tradition of low schooling to which these social
groups have been systematically submitted to. As findings, the new reality of these
Institutions highlights the need for training strategies for effective transformation, also
there is an urge to change their actions in order to welcome and affiliate these new
students.
Keywords: Decolonization of Knowledge. Epistemic Racism. Racial Quotas
DESAFÍOS PARA LA EQUIDAD RACIAL EN LAS UNIVERSIDADES: LOS
PROCESOS DE CONTINUIDAD DE LA COLONIZACIÓN EN LA ESFERA
EPISTEMOLÓGICA DE FORMACIÓN
Resumen:
El diálogo aquí propuesto pretende discutir los procesos de continuidad de la
colonización en la esfera epistemológica y las vinculaciones de esa realidad a la
formación de los individuos de grupos sociales históricamente marginados que
actualmente están accediendo a las Universidades a partir de las políticas y
acciones afirmativas. El acceso de estudiantes negras/os, indígenas, oriundas/os de
barrios periféricos, pequeñas ciudades del interior, de capas sociales que
históricamente fueron marginadas y privadas del derecho a una educación pública
de calidad y las Universidades vienen contrariando la lógica meritocrática y
excluyente que desde hace mucho es un marcador de la educación en Brasil. La
entrada de estas/os estudiantes en las Universidades viene rompiendo la frecuente
tradición de baja escolaridad a la cual estos grupos sociales vienen siendo
sistemáticamente sometidos. La nueva realidad de estas Instituciones evidencia la
necesidad de estrategias de formación que atiendan las necesidades de
transformación, que altere sus acciones de manera a acoger y afiliar a esas/es
nuevas/os estudiantes.
Palabras clave: Descolonización del Conocimiento. Racismo Epistémico. Cotas
Raciales
1 INTRODUÇÃO
O Brasil foi um país sustentado pelo sistema escravocrata por mais de três
séculos e foi também o último país a abolir a escravidão. Estas abomináveis
características da formação histórica da nação brasileira, até os dias de hoje,
inscreveram suas marcas na memória e no modo de vida de toda população, as
heranças da escravidão é uma mácula constitutiva das relações sociais entre todos
os indivíduos na sociedade.
Um século e meio após a abolição da escravidão, o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) da população autodeclarada negra/parda no Brasil
é 15% inferior ao da população autodeclarada branca. Pretas/os e pardas/os, que
somam 54% da população correspondem aos 75% das/os brasileiras/os mais

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT