Entre denominações geracionais: o que as narrativas acadêmicas nos ensinam sobre crianças e jovens digitais

AutorSandro Faccin Bortolazzo
Páginas108-123
108
BORTOLAZZO, Sandro Faccin. Entre denominações geracionais: o que as narrativas acadêmicas nos...
A partir da emergência de diversas
denominações geracionais e da intensa relação de
crianças e jovens com artefatos digitais (tablets,
smartphones, entre outros), este artigo – inscrito
sob o referencial teórico dos Estudos Culturais em
Educação – tem por objetivo investigar em que
contexto e sob quais condições têm sido possível
a produção de crianças e jovens digitais. O estudo
contemplou três movimentações: apresentação
de um panorama sobre o conceito de geração; o
mapeamento das narrativas acadêmicas; uma
análise de como tais narrativas estão implicadas
em produzir um tipo de geração e de educação
ao estilo “digital”. O aporte teórico se apoia em
autores como Feixa e Leccardi, Tapscott, Prensky,
Carr e Buckingham. As narrativas sinalizam os
benefícios e perigos da imersão tecnológica, o que
vem permeando igualmente a convocação ao uso
dos aparatos tecnológicos nos espaços escolares.
Palavras-chave: geração; tecnologias digitais;
crianças; jovens.
From the emergency of many generational
denominations and the intense relationship of
children and youth with the digital artifacts
(tablets, smartphones, among others), this article
- registered under the theoretical framework of
Cultural Studies in Education - aims to investigate
in what context and under which conditions the
production of digital children and young people
has been possible. The study presents three
movements: an overview of the generation concept;
the mapping of academic narratives; an analysis of
how these narratives are implicated in producing a
type of generation and a “digital” education. The
theoretical referential is based on authors such as
Feixa and Leccardi, Tapscott, Prensky, Carr and
Buckingham. The narratives also point out the
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which has permeated the convocation for the use
of technological devices in school spaces.
Keywords: generation; digital technologies;
children; youth.
Introdução
É recorrente encontrar nas capas de jornais e revistas, nos programas
televisivos, nas pesquisas de mercado, incontável número de expressões que
indicam uma naturalização da relação entre os mais jovens e as tecnologias.
Geração digital e geração Google são apenas alguns exemplos em que os
adjetivos geracionais têm sublinhado a destreza de crianças e jovens em
operar computadores, tablets, smartphones 
– entretenimento, aprendizagem, consumo, participação em redes de
sociabilidade.
Inscrito no referencial teórico dos Estudos Culturais em Educação, este
artigo tenta compreender e investigar em que contexto e sob quais condições
têm sido possível a produção de crianças e jovens – marcados por certas
Entre denominações geracionais: o que as narrativas acadêmicas
nos ensinam sobre crianças e jovens digitais
Between generational denominations: what the academic narratives
teach us about digital children and youth
http://dx.doi.org/10.5007/2178-4582.2017v51n1p108
Sandro Faccin Bortolazzo
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS, Brasil
109
Revista de Ciências HUMANAS, Florianópolis, v. 51, n. 1, p. 108-123, jan-jun 2017
denominações geracionais – a partir da intensa relação que mantêm com
artefatos tecnológicos digitais tais como smartphones e computadores.
Esta investigação contempla três movimentos. No primeiro movimento, é
apresentado um breve panorama sobre o uso e a apropriação do conceito de
geração, das teorias tradicionais às contemporâneas. No segundo movimento
de investigação, se dá o mapeamento de algumas narrativas, aquelas mais
recorrentes, e utilizadas na literatura especializada para demarcar uma
geração conectada às tecnologias. Com base nos dois movimentos anteriores,
investigam-se os modos como tais narrativas estão implicadas em produzir
um tipo de geração e de educação ao estilo digital, muitas vezes, amparada em
argumentos de ordem determinista e polarizada.
Por que geração?
Estaria o fenômeno geracional baseado na década de nascimento em
comum de uma determinada população ou vinculado a eventos completamente
aleatórios e sem intervalos regulares? Seria possível tratar as gerações ao
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uma época?
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geração à idade biológica, ou seja, o período de sucessão entre descendentes
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(1985), foi Auguste Comte, entre 1830 e 1840, o primeiro a desenvolver um
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existe, de acordo com Comte, na medida em que se baseia na morte, como o
renovador eterno da sociedade humana”.
Na mesma direção, Feixa e Leccardi (2010) desenvolveram um trabalho
sobre o conceito de geração, focado, principalmente, nas teorias da juventude.
Para os pesquisadores, no entendimento de Comte, o ritmo das gerações poderia
ser calculado simplesmente a partir da “medição do tempo médio necessário
para que uma geração seja substituída – na vida pública – por uma nova”
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anos era a média de tempo que se estimava para calcular a idade de formação
entre uma geração e outra. Essa tem sido a noção clássica do conceito de
geração, em que o progresso é visto como o resultado equilibrado entre as
mudanças produzidas pela nova geração e certa estabilidade mantida pelas
gerações mais antigas.

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