Deixa o direito falar!

AutorMônica Sette Lopes
Páginas11-12
Deixa o direito falar!
Não foi na escola que aprendi a ler.
A emenda das letras no be-a-bá quem me ensinou foi
minha mãe, nas manhãs de julho, do mês de férias, em Santa
Cruz do Escalvado, Minas Gerais, de que me lembram a terra
vermelha, a gamela de laranja, o vento fresco e a oferta constan-
te do café adoçado com rapadura, com o qual nunca me acostu-
mei. A menina de 8 anos, que eu era, não conseguia aprender a
ler nas fórmulas da pedagogia geral da sala de aula, onde a pro-
fessora era uma e os alunos, muitos, eram diferentes até mesmo
na pulsão para assimilar os processos básicos da língua escrita.
E aprendi a escrever com os jornais que meu pai
comprava. O Diário de Minas e a Última Hora. Lá, como agora,
devo confessar, preferia os segundos cadernos. Foram as crôni-
cas que me ensinaram como se poderia descrever a experiência
do mundo da maneira pessoal que era a única a fazer sentido.
Carlos Drummond de Andrade. Fernando Sabino. Stanislaw
Ponte Preta. E depois, o maior, Rubem Braga. E todos os de-
mais.
No período de estágio como professora residente do
Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares da Universi-
dade Federal de Minas Gerais, essa constatação veio bem fun-
do. Um dos exercícios mais estimulantes daquele período foi

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