Decisão judicial e valoração da prova oral: alguns aportes teóricos oriundos da psicologia do testemunho

AutorTiago Gagliano Pinto Alberto
CargoJuiz de Direito
Páginas175-192
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Revista Judiciária do Paraná – Ano XV – n. 20 – Novembro 2020
Decisão judicial e valoração da prova oral: alguns
aportes teóricos oriundos da psicologia do
testemunho
Tiago Gagliano Pinto Alberto1
Juiz de Direito
I did my best, it wasn’t much
I couldn’t feel, so I tried to touch
I’ve told the truth, I didn’t come to fool you
(“Hallelujah” – Leonard Cohen)
Resumo: A valoração da prova oral não tem sido objeto de
análise no ambiente da dogmática jurídica. Ao contrário,
as análises jurídicas em geral e judiciais em especíco
não têm sido voltadas a qualquer tipo de abordagem
técnica ou cientíca acerca de critérios de racionalidade
para compreensão do testemunho. Diante desse cenário,
aportes teóricos hauridos de outros ramos do conhecimento
cientíco devem ser utilizados, a m de suprir a lacuna
existente no ambiente jurídico. A psicologia do testemunho,
que já pesquisa o tema há mais de três décadas, apresenta
sugestões temáticas e metodológicas muito consolidadas
no ambiente da ciência, além de comprovados sob o ponto
de vista empírico. Este artigo identica algumas situações
de insuciência jurídica (e judicial) de exame da prova oral e
apresenta diversos aportes teóricos oriundos principalmente
da psicologia do testemunho.
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Tiago Gagliano Pinto Alberto
Introdução
A,     da prova oral
se encontram curiosamente pouco – ou quase nada – desenvolvidas na
tomada de decisão judicial. Mesmo em aspecto teórico, a dogmática
jurídica pertinente aos ramos processuais, civil e penal não destina à
temática a importância que efetivamente ostenta para ns decisórios.
A teoria da decisão judicial, se isoladamente considerada, tampou-
co resolve a problemática da valoração da prova oral. Isso porque, em
que pese o contexto argumentativo da justicação auxiliar na busca
pela estabilidade do direito a partir da prolação de decisões judiciais
que esquadrinhem argumentos lançados no provimento decisório, o
contexto da descoberta permanece algo enigmático, inclusive para o
tomador de decisões, que ou simplesmente o desconhece, ou não se
encontra seguro quanto às abordagens derivadas de outros ramos do
conhecimento afora o direito.
Em assim sendo, a proposta deste artigo gira em torno da correla-
ção entre a psicologia do testemunho e a tomada de decisão, por inter-
médio da compreensão argumentativa do contexto da descoberta.
I. Psicologia do testemunho e valoração da prova oral
O reconhecimento de que a psicologia do testemunho produz co-
nhecimentos que reverberam de maneira decisiva na análise da pro-
va oral se faz imperativo, de sorte a alertar o juiz para a existência de
diversos fatores que inuenciam na tomada de decisão e que podem
estar simplesmente ocultos nesse ambiente. E, para além de eventual
manejo subjetivo da prova por meio de questionáveis padrões intuiti-
vos, ou raciocínios falaciosos, este ramo do estudo da psicologia logra
demonstrar a existência de dados objetivamente consistentes em rela-
ção às questões mais sensíveis ao desenvolvimento da prova oral em
especíco e daquelas dependentes da memória em geral.
A memória, por exemplo, gura como um dos exemplos mais can-
dentes, já que a sua compreensão, ademais de não ser estudada, traba-
lhada e tampouco testada no ambiente judicante, atua como eixo cen-
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