Da Revolução Cubana à Era Obama: das tensões à normalização

AutorAlfredo Juan Guevara Martinez
CargoMestre em Relações Internacionais pela PUC-MG
Páginas315-338
Direito autoral e licença de uso: Este artigo está licenciado sob uma Licença Creative
Commons. Com essa licença você pode compartilhar, adaptar, para qualquer m, desde que atribua a
autoria da obra, forneça um link para a licença, e indicar se foram feitas alterações.
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2017v24n38p315
Da Revolução Cubana à Era Obama: das tensões à
normalização
From the Cuban Revolution to the Obama Era: from strains to
normalization
Alfredo Juan Guevara Martinez1
Resumo: Desde a Revolução de 1959, as relações dos Estados Unidos com
Cuba entraram em uma era de antagonismo e tensões políticas. Após quase meio
século de uma proximidade íntima, os dois países passaram a ser inimigos em
pleno contexto de Guerra Fria. O resultado disso foi que os Estados Unidos se
engajaram em uma estratégia austera de política exterior com Cuba, cortando
relações diplomáticas e impondo um embargo comercial que viria a se perpetuar
por meio século. Mesmo com o m do conito bipolar, as relações antagônicas
entre os dois países se mantiveram inalteradas e Cuba permaneceu um país em
isolamento graças ao embargo comercial estadunidense. Foi somente em 2014
que a administração Obama apostou em uma estratégia diferente, quebrando um
paradigma político de décadas e promovendo uma reaproximação com Cuba.
Ainda assim, o processo de normalização nunca foi completo e evidenciou
como a estratégia de política externa dos Estados Unidos para Cuba depende
de diferentes atores domésticos e seus distintos interesses. Para compreender
esse fenômeno é preciso entender como se formou a estratégia antiga, por que
ela se perpetuou e quais foram as condições que levaram a que fosse possível
sua quebra. Este artigo traz um estudo histórico dos principais eventos entre
Cuba e Estados Unidos que ocorreram a partir da Revolução, buscando melhor
explicar a formação e a mudança da estratégia de política externa estadunidense
para Cuba, passando por eventos como a invasão da Baía dos Porcos, a Crise
dos Mísseis, as diversas crises migratórias até o processo de normalização e
ruptura da antiga estratégia promovido pelo governo Obama.
Palavras-chave: Cuba; Estados Unidos; Normalização
Artigo
316
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p. 315-338, dez. 2017.
Abstract: Since the Cuban Revolution in 1959, the relations between the United
States with Cuba have entered an era of antagonism and political tensions. After
more than half a century of close intimacy, both countries come to be enemies
inside the context of the Cold War. As a result, the United States engaged in an
austere strategy of foreign policy towards Cuba, ceasing diplomatic relations
and imposing a commercial embargo that would come to perpetuates itself for
more than fty years. Even with the end of the bipolar conict the antagonist
relations between the countries remained unchanged, and Cuba remained in
isolation thanks to the American embargo. It was only in 2014 that the Obama
administration betted on a dierent strategy, breaking with decades old political
paradigm and promoting a rapprochement with Cuba. Still, the process of
normalization was never fully complete, and evidenced how the strategy of
the United States foreign policy towards Cuba depends of dierent domestic
actors and their diverse interests. To understand this phenomenon, it’s needed
to comprehend how the old strategy was formed, why was it perpetuated
and which were the conditions that led to be possible to break it. This article
brings a historical study of the main events that happened between Cuba and
the United States since the Revolution, seeking to better explain the formation
and changes of the American foreign policy strategy towards Cuba, going
through events like the invasion of the Bay of Pigs, the Missile Crisis, the
diverse migration crisis, up to the normalization process and the rupture of the
old strategy promoted by the Obama government.
Keywords: Cuba; United States; Normalization
Introdução
A história contemporânea das relações entre os Estados Unidos e Cuba é
marcada por mais de meio século de tensões. O início do governo da Revolução
cubana veio acompanhado de uma longa trajetória de inimizades iniciadas
no contexto da Guerra Fria, que se estendeu até dezembro de 2014, quando
os governos de Barack Obama e Raúl Castro anunciaram um reatamento das
relações diplomáticas e a intenção de ir rumo a uma normalização completa.
Desde o século XIX houve vários momentos da história nos quais foi cogitado,
tanto em Cuba como nos Estados Unidos, a anexação da ilha (nessa época,
colônia espanhola) ao território estadunidense Apesar da anexação nunca ter
ocorrido, Cuba foi historicamente vista pela política norte-americana como
um satélite natural, que mesmo não estando sob seu controle direto, deveria
estar sob sua inuência e hegemonia. Durante essa época, os Estados Unidos
não apenas interviram na guerra de independência do país vizinho, assumindo
temporariamente seu governo após a derrota dos espanhóis, como também
agregaram à constituição da recém-nascida República de Cuba a Emenda Platt.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT