Da colônia ao capitalismo dependente: o neoliberalismo na América Latina

AutorBruno de Oliveira Cruz, Juliano Glinski Pietzack
CargoGraduando em Direito pela Universidade Federal do Paraná. Integrante do Programa de Educação Tutorial (PET Direito), UFPR/Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Paraná. Pós-Graduando em Direito Eleitoral pelo CERS. Pesquisador do Núcleo de Investigações Constitucionais (NINC), UFPR
Páginas429-447
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 45, n. 250, p. 429-447, maio/ago., 2020 | ISSN 2447-861X
DA COLÔNIA AO CAPITALISMO DEPENDENTE: O
NEOLIBERALISMO NA AMÉRICA LATINA
From Colony to Dependent Capitalism: Neoliberalism in Latin America
Bruno de Oliveira Cruz
UFPR, Curitiba-PR, Brasil
Juliano Glinski Pietzack
UFPR, Curitiba-PR, Brasil
Informações do artigo
Recebido em 28/07/2020
Aceito em 25/10/2020
doi>: 44https://doi.org/10.25247/2447-861X.2020.n250.p429-
447
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Como ser citado (modelo ABNT)
CRUZ, Bruno de O.; PIETZACK, Juliano Glinski.
Da Colônia ao capitalismo dependente: o neoliberalismo
na América latina. Cadernos do CEAS: Revista Crítica
de Humanidades. Salvador/Recife, v. 45, n. 250, p. 429-
447, maio/ago. 2020. DOI: https://doi.org/10.25247/2447-
861X.2020.n250.p429-447
Resumo
A implementação do neoliberalismo na América Latina é um
processo contraditório que só pode ser compreendido sob a
avaliação da relação de classes no subcontinente. O presente
artigo busca relacionar as ideias de Capitalismo Dependente,
conforme a teorização de Florestan Fernandes, com o
desenvolvimento histórico das doutrinas neoliberais sob a
perspectiva da sociologia marxista. A necessidade de expansão
desenfreada do Capital é compreensão clássica das
perspectivas críticas das ciências sociais; perante tais aportes
teóricos, esse fenômeno levaria necessariamente a uma
expansão territorializada dos mecanismos capitalistas, sob a
égide do colonialismo, que alcança também os países
politicamente independentes da América Latina sob o formato
do Capitalismo Dependente, em que a inexistência de uma
Revolução Burguesa aos moldes europeus leva ao
aburguesamento da oligarquia tradicional, que preserva seus
métodos de repressão violentos, mas fagocita os ideais e as
inovações do capitalismo central, pois é subserviente ao capital.
Frente a tal cenário, o neoliberalismo se consolida, alimentando-
se da contradição típica da classe dominante local, promovendo
o desenvolvimento de uma nova hegemonia pelo
convencimento e pela força.
Palavras-Chave: Colonialismo. Imperialismo. Capitalismo
Dependente. Neoliberalismo.
Abstract
The implementation of neoliberalism i n Latin America is a
contradictory process that can only be understood under the
account of the class relationship in the subcontinent. This article
seeks to relate the ideas of Dependent Capitalism, as theorized
by Florestan Fernandes, with the historical development of
neoliberal doctrines from the perspective of Marxist sociology.
The need for unbridled expansion of Capital is already a classic
understanding of the critical perspectives of the social sciences,
in view of such theoretical contributions this phenomenon
would necessarily lead to a territorialized expansion of capitalist
mechanisms, under the aegis of colonialism, which also reaches
the politically independent countries of Latin America under the
format of Dependent Capitalism, in which the lack of a
European-style Bourgeois Revolution leads to the
transformation of the traditional oligarchy into bourgeoisie,
which preserves its methods of violent repression, but
phagocytes the ideals and innovations of central capitalism,
because it i s subservient to capital. In face of such scenario,
neoliberalism is consolidated, feeding on the contradiction
typical of the local ruling class, promoting the development of a
new hegemony through persuasion and force.
Keywords: Colonialism. Imperialism. Dependent Capitalism.
Neoliberalism.
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 45, n. 250, p. 429-447, maio/ago., 2020
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Da Colônia ao capitalismo dependente: o neoliberalismo na América latina | Bruno de O. Cruz; Juliano Glinski Pietzack
Introdução
A introdução do neoliberalismo na realidade latino-americana não ocorreu sem que
houvesse uma narrativa de promessas concretamente irrealizáveis e que mascarava suas
reais intenções para com um submundo subordinado à divisão internacional do trabalho.
Dentre tantas, a racionalização econômica, a superação do subdesenvolvimento, a igualdade
política com o Norte Global, o afastamento do fantasma comunista, a superação do passado
oligárquico e autoritário compunham um cenário discursivo que permeou espaços políticos e
estavam na agenda das agências internacionais emergidas pós-1945.
Contudo, quase 50 anos passados desde o início da primeira experiência de
desestruturação dos frágeis elementos de defesa da classe trabalhadora existentes na
América Latina, o neoliberalismo se estabeleceu como uma política hegemônica, sem
entregar nenhuma de suas promessas. Aliás, suas repercussões imediatas apenas
aprofundaram uma constatação iminente: o capitalismo retardatário do Sul Global e a
condição de sobre-explorados das trabalhadoras e trabalhadores latino-americanos.
Compreender os motivos que permitem que uma visão econômico-política
largamente rejeitada se consolide no Terceiro Mundo não é uma tarefa fácil de se realizar e
perpassa por uma compreensão das dinâmicas de classe no capitalismo periférico latino-
americano, marcado essencialmente por seu passado colonial. As relações de classes, as
dimensões da dominação burguesa nacional, as demandas dos conglomerados econômicos
internacionais e o caráter profundamente complexo da Revolução Burguesa dos países
latinos não permitem exames apriorísticos e abstratos, isto é, a complexidade exige um
diagnóstico pormenorizado dos elementos concretos que estiver am presentes em uma
ascensão burguesa que não se desagarrou dos dinamismos sociais da colonização.
Em verdade, a impossibilidade de desenvolvimento econômico da região pelos
instrumentos capitalistas não é novidade e está diretamente envolvida nas relações de
surgimento de nossa burguesia intranacional e como essa se relaciona com a burguesia
internacional. Não se trata, portanto, de uma mera constatação da precariedade que se
estampa sobre as classes sociais frágeis, afinal, a exploração do trabalho é gl obal, mas de
oportunizar reflexões que se refiram aos elementos sociais, políticos, econômicos,
geográficos, culturais e étnicos próprios do mundo periférico, e não análises impruden tes e
desfocadas do objeto.

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