Curva de Maturidade

AutorBenedito Rodrigues Pontes
Páginas227-244

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APLICAÇÃO

A questão da aplicabilidade das técnicas tradicionais de avaliação de cargos para cientistas, pesquisadores e engenheiros de projetos tem dado margem a polêmicas. As críticas mais comuns ao uso dos sistemas tradicionais para esses profissionais são:

· A divisão do trabalho em funções, tarefas e operações baseia-se nas habilidades e qualificações individuais.

· O homem delineia o cargo a partir da divisão do trabalho. As técnicas tradicionais avaliam o cargo e não o homem.

· Em determinado período de tempo, podem haver variações na complexidade das tarefas. Por exemplo: um profissional concluiu uma tarefa complexa e, por falta de projetos de alto grau de dificuldade, pode ser atribuída a esse profissional uma tarefa mais modesta.

· As tarefas desenvolvidas por esses profissionais sofrem variações ao longo do tempo e são difíceis de ser descritas.

· Adotado um sistema tradicional, as avaliações teriam de ser constantemente revistas.

· A contribuição individual não é definida no conjunto de atividades que compõem o cargo.

Histórico do método

Por volta de 1930, a curva de maturidade foi utilizada pelos Laboratórios de Telefones Bell. Em 1946, a Comissão de Potencial Humano do Conselho Associado dos Engenheiros (Engineers Joint Council - EJC) iniciou a primeira pesquisa de salários de engenheiros pela metodologia de maturidade, intitulada "A Profissão de Engenharia em Transição". Desde essa época o EJC tem repetido esse trabalho a cada dois anos.

Essa mesma metodologia foi utilizada pelo Battelle Memorial ins-titute, num estudo para a Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos, sobre a remuneração de cientistas e engenheiros contratados para trabalhos de pesquisa e desenvolvimento.

No Brasil, o primeiro artigo sobre a matéria, de que temos conhecimento, foi publicado em 1970, e é de autoria de Gilnei M. Teixeira1.

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Em 1978, o autor deste livro, que atuava em uma grande empresa de engenharia consultiva, desenvolveu a primeira pesquisa salarial de engenheiros, por maturidade, nesse ramo de atividade. Participaram dessa pesquisa, além de empresas do segmento de engenharia consultiva, empresas de outros ramos de atividades, tais como construção, serviços, industriais e correlatas. Esse trabalho foi repetido por vários anos seguidos.

No Brasil, e em vários países, a metodologia adaptada da curva de maturidade tem sido adotada por empresas de engenharia ou empresas de alta tecnologia e pesquisas.

O método simples

A curva de maturidade, ou curva de carreira, tem como premissa que os indivíduos se desenvolvem em sua área de atuação, pelo acúmulo de experiência.

Na sua forma mais simples, maturidade é entendida como os anos de experiência profissional após a formatura. O salário é atribuído ao profissional em função do tempo de experiência e do desempenho do profissional.

Em termos práticos, a curva de maturidade é um gráfico no qual são plotados salários versus anos de experiência e traçadas separatrizes (1º decil, 1º quartil, mediana, 3º quartil e 9º decil), por parábolas do 2º grau, cuja inclinação é negativa. O Quadro 10.1 apresenta uma curva típica de maturidade. As curvas (separatrizes) representam o desempenho individual. Por exemplo, se um profissional apresentar um desempenho considerado bom, ele será enquadrado na curva mediana e seu salário será definido com base nessa curva. Se o seu desempenho for inferior ao normal, será enquadrado em uma das curvas 1º decil ou 1º quartil. Se o seu desempenho for ótimo ou excepcional, será enquadrado na curva do 3º quartil ou 9º decil. Portanto, para um mesmo tempo de experiência, existe uma faixa salarial que considera o desempenho do profissional.

O pressuposto do método é que, a cada ano que passa, o indivíduo cresce como resultado da experiência acumulada e, portanto, o seu salário também deve aumentar. O Quadro 10.2 auxilia na explicação desse crescimento. Um profissional que, de acordo com seu desempenho, tenha sido enquadrado na curva mediana e que tenha oito anos de experiência deve ter um salário de 13.000 unidades monetárias. Um ano depois, esse mesmo profissional terá nove anos de experiência e, caso seu desempenho não tenha sido alterado, automaticamente seu salário deverá ser aumentado para pouco menos de 14.200 unidades monetárias.

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Quadro 10.1

Curva de maturidade

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Quadro 10.2

Crescimento do profissional pela curva de maturidade

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As curvas geralmente são construídas a partir de dados obtidos por pesquisa salarial de mercado. Podem ser construídas curvas por especialidade dos profissionais, cidade, etc.

A metodologia ignora totalmente as atribuições do cargo ocupado pelos profissionais e somente tem validade em atividades cuja contribuição individual e criatividade sejam mais importantes do que a atribuição imposta pelo cargo, como pesquisa, projetos, etc.

Em nossas pesquisas, realizadas durante vários anos, observamos sempre alta correlação entre salários e tempo de experiência (entre 0,95 e 0,99), independente da utilização do método pelas empresas pesquisadas, o que valida estatisticamente a curva de maturidade. Numa de nossas...

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