Crise do capitalismo global, desmedida do valor e as mutações orgânicas da totalidade viva do trabalho - notas críticas sobre o capitalismo do século XXI

AutorGiovanni Alves
CargoLivre-docente em Teoria Sociológica e Doutor em Ciências Sociais pela UNICAMP. Professor de Sociologia Trabalho da UNESP ? Campus de Marília. E-mail: giovanni.alves@uol.com.br
Páginas4-20
Crise do ca pitalismo global, desmedida do valor...
681
Caderno s do CEAS, Salvador, n. 239, p. 681-697, 2016.
CRISE DO CAPITALISMO GLOBAL, DESMEDIDA DO VALOR E AS
MUTAÇÕES ORGÂNICAS DA TOTALIDADE VIVA DO TRABALHO
- NOTAS CRÍTICAS SOBRE O CAPITALISMO DO SÉCULO XXI
Resumo
O objetivo destas notas críticas é expor as
transformações radicais na forma de ser do
proletariado mundial a partir das alterações na
dinâmica da produção do valor por conta do
aumento da composição orgânica do capital e a
manifestação efetiva da desmedida do valor.
Iremos tratar da alienação universal e a
disseminação da condição existencial de
proletariedade, a crise da sociedade do trabalho
abstrato e o mundo social dos serviçais e a
desfiguração dos parâmetros de produção de
mais-valor e, portanto, do complexo categorial
que explica a exploração da força de trabalho,
por conta da manifestação da desmedida do
valor por conta do salto mortal da
produtividade do trabalho na era do
capitalismo global.
Palavras-chave: Trabalho. Capitalismo.
Exploração. Precariedade. Precarização.
Giovanni Alves
Livre-docente em Teoria Sociológica e Doutor em
Ciências Sociais pela UNICAMP. Professor de
Sociologia Trabalho da UNESP Campus de
Marília. E-mail: giovanni.alves@uol.com.br
INTRODUÇÃO
Nosso objetivo é expor algumas notas críticas sobre mutações orgânicas na totalidade
viva do trabalho por conta da dinâmica da acumulação do capital em sua etapa de crise
estrutural. Existem transformações radicais na forma de ser do proletariado mundial que
expressam alterações na dinâmica da produção do valor por conta do aumento da composição
orgânica do capital e a manifestação efetiva da desmedida do valor. Esta mudança crucial na
relação capital constante/capital variável é a chave heurística capaz de explicar o surgimento
da nova precariedade salarial, expressão social do modo de organizar a exploração e
dominação do capital no plano do consumo da força de trabalho como mercadoria no século
XXI.
A hipótese principal das notas críticas sobre a nova morfologia social do trabalho na
era do capitalismo global é que o surgimento da nova precariedade salarial (ALVES, 2017),
com destaque para as formas de contratação precária e a informalidade salarial, possui
causalidades estr uturais vinculadas à vigência da desmedida do valor e a alterações
profundas na estrutura categorial do trabalho abstrato. Portanto, expô-las apenas como
alterações político-institucionais da ofensiva neoliberal, visando à flexibilização da legislação
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Caderno s do CEAS, Salvador, n. 239, p. 681-697, 2016.
trabalhista, oculta a natureza íntima das mudanças orgânicas da produção do capital que
condicionam a práxis sistêmica.
1
Deste modo, presenciamos, nos primórdios do século XXI, por conta das profundas
mudanças tecnológicas na produção capitalista ocorridas desde o fim da Segunda Guerra
Mundial, o aumento da composição orgânica do capital no plano do mercado mundial e a
efetividade do fenômeno da desmedida do valor, elementos compositivos da nova estrutura
de produção do capital que condiciona m importantes alterações superestruturais no sentido da
organização social do proletariado e modos de exploração do trabalho vivo.
Não nos interessa tratar aqui das controvérsias marxistas sobre a utilização clássica
da teoria da “lei” tendencial de queda da taxa média de lucro proposta por Marx para explicar
a crise do capital nas condições históricas do capitalismo global. Indicamos alguns autores
importantes para discutir esta candente questão como Michael A. Lebowitz (“Marx´s falling
rate of profit: a dialetical view”, The Canadian Journal of Economics. 9, 1976, p.248-9);
Anwar Shaik (Valor, Acumulación y crisis Ensayos de economia política, Buenos Aires:
ediciones ryr, 2006); Manuel Castells (A teoria marxista das crises econômicas e as
transformações do capitalismo, Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1979); Chris Harman
(Zombie Capitalism Global crisis and the relevance of Marx, Chicago: Bookmarks
publication, 2009) e Guglielmo Carchedi (Behind the Crisis - Marx's Dialectics of Value and
Knowledge, Brill, 2011). Estas anotações pretendem apenas apresentar elementos
preliminares (ou hipóteses) sobre as mutações orgânicas da totalidade viva do trabalho
derivadas de alterações na estrutura do ser do modo de produção capitalista por conta da crise
do trabalho abstrato nas condições históricas do capitalismo global. De acordo com cada
formação social historicamente determinada, tais mutações orgânicas da totalidade viva do
trabalho assumem formas particulares e concretas de expressar a nova precariedade salarial
nos limites da luta de classes postas nos modos singulares de entificação capitalista.
1 Afirmar que existem determinações estruturais na dinâmica do desenvolvimento capitalista, tais como, por
exemplo, o aumento da composição orgânica do capital no plano do sistema mundial p or conta do aumento
crescente do capital constante em relação ao capital variável (em termos de valor); e o “salto mortal da
produtividade do trabalho” levando à “desmedida do valor”, o significa que adotamos um viés estrutura lista
na interpretação do desenvolvimento histórico (seria o mesmo que acusar o Marx d’O Capital de
ser...estruturalista). Na ótica dialética, reconhecer que existem determinações estruturais não significa desprezar
o protagonismo do sujeito humano na história. Enfim, e xiste efetivamente uma dialética entre sujeito e estrutura.
Como observou Karl Marx no 18 Brumário de Luis Bonapa rte, “os homens fazem a sua própria história, mas
não a fazem segundo a sua livre vontade; não a fazem sob circunstânc ias de sua escolha e sim sob aquela s com
que se defrontam direta mente, legadas e transmitidas pelo passado.” (Marx, 2003). Portanto, o sujeito humano
faz a história, mas sob determinadas condições objetivas, dadas, diríamos melhor, determinações estr uturais
legadas e transmitidas pelo passado ou pelo modo de ser-precisamente-assim do modo de produção capitalista.

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