A crise capitalista, o avano da direita no continente latino-americano, e os desafios para a resistência

AutorAlba Maria Pinho de Carvalho, Guillermo Alfredo Johnson, Joana Aparecida Coutinho, John Kennedy Ferreira Kennedy Ferreira, Lucio Oliver
Páginas129-149
A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO DA DIREITA NO CONTINENTE LATINO-AMERICANO, E OS
DESAFIOS PARA A RESISTÊNCIA
Alba Maria Pinho de Carvalho1
Guillermo Alfredo Johnson2
Joana A Coutinho3
John Kennedy Ferreira4
Lucio Oliver5
Resumo
Este artigo é fruto da apresentação de uma mesa coordenada, na JOINPP 2019, cuja temática era
“Civilização ou Barbárie. Representa o conjunto das apresentações e, portanto, um resumo das
discussões travadas naquele momento, e justifica um artigo com cinco autores. O avanço da direita com
novas formas de organização, que culmina com a eleição de Jair Bolsonaro, como é o caso do Brasil e os
desafios para os movimentos sociais, partidos políticos, neste panorama.
Palavras-chave: Democracia. Direita. Fascismo. Bolsonarismo.
Abstract
This article is the result of the presentation of a coordinated table at Joinpp 2019, whose theme was
civilization or barbarism. It represents the set of presentations and, therefore, a summary of the discussions
held at that time, and justifies an article with five authors. The advance of the right with new forms of
organization, which culminates with the election of Jair Bolsonaro, as is the case in Brazil and the
challenges for social movements, political parties, in this panorama.
Keywords: Democracy. Right. Fascism. Bolsonarismo.
Artigo recebido em: 23/11/2019. Aprovado em: 20/03/2020
1 Pós-Doutrado na Universidade de Coimbra Portugal. Doutora em Sociologia pela UFC. Professora de Sociologia na
Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: albapcarvalho@gmail.com.br
2 Pós-Doutorado em Ciências Sociais na UNESP/Marília. Doutor em Sociologia. Professor de Ciência Política na UFMA. E-mail:
guijohnson@uol.com.br
3 Pós-Doutorado na Universidad Nacional Autonoma de México- UNAM. Professora na Universidade Federal do Maranhão e
Coordenadora do Observatório de Políticas Públicas e Lutas Sociais -OPPLS- e do Grupo de Estudos de Hegemonia e Lutas na
América Latina (GEHLAL).E-mail: joana.coutinho@ufma.br
4 Doutor em H istória Econômica pela Universidade de São Paulo. Professor de Sociologia na UFMA.E-mail:
jotakennnedy@yahoo.com.br.
5 Professor na Universidad Autonóma de México, coordenador da Pesquisa: Sociedades Civil e Crises Estatais na América
Latina.E-mail: oliverbar@hotmail.com
Joana A Coutinho, Lucio Oliver, Alba Maria Pinho de Carvalho, Guillermo Alfredo Johnson e John Kennedy Ferreira
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1 INTRODUÇÃO
O ano de 2019 comemorou os cem anos de morte da Rosa Luxemburgo, cuja indagação
“Reforma ou Revolução?” tem muita pertinência nos dias de hoje. Rosa Luxemburgo, com muita clareza,
diz que os elementos que distinguem uma revolução social e uma reforma legal não é a duração, mas o
conteúdo:
Todo o segredo das revoluções históricas, da conquista do poder político, reside precisamente na
passagem de simples modificações quantitativas, numa nova qualidade ou, concretizando, na
passagem de uma dada forma de sociedade a outra num período histórico (LUXEMBURGO,
1990, p.101).
A via da reforma não é uma escolha lenta e gradual para a transformação da sociedade, mas
ao contrário: “em vez de procurar edificar uma sociedade nova, contenta-se com modificações sociais da
sociedade anterior”. Na essência, diz Rosa Luxemburgo, “não visam realizar o socialismo, mas reformar o
capitalismo, não procurar abolir o sistema do assalariamento, mas dosar ou atenuar a exploração, numa
palavra: querem suprimir os abusos do capitalismo, mas não o capitalismo” (LUXEMBURGO, 1990, p.101).
A pergunta central é porque neste momento, depois de um ciclo de governos “progressistas” no continente
latino-americano, nos deparamos com o crescimento da extrema-direita que coloca em risco direitos
conquistados? Quais questões devemos encarar de frente, para poder criar uma resistência da sociedade
civil desde abaixo?
Os ideais do neoliberalismo atingiram as massas com um discurso de individualização cada
vez mais crescente e atinge a esquerda desacostumada a trabalhos de formação centrada na construção
de uma ideia universalizante. O neoliberalismo é um fenômeno multifacetado (DÚMENIL; LÉVY, 2014). A
ordem neoliberal internacional “foi imposta a todo mundo, desde os principais países capitalistas do centro
até os países menos desenvolvidos da periferia, geralmente ao custo de severas crises, como na Ásia e na
América Latina” (DÚMENIL; LÉVY, 2014, p.19). Importante destacar, que o período de governo do PT, não
podia ser mais tolerado pelo imperialismo, que precisa de um “instrumento político”, que é “sempre a
instalação de um governo local pró-imperialista. [...]. A colaboração das elites do país dominado é
fundamental, bem como no capitalismo contemporâneo, a ação de instituições internacionais como FMI,
OMC, Banco Mundial(DÚMENIL; LÉVY, 2014, p. 19).
O desgaste dos governos progressistas, que embora tenham uma pauta “inclusiva1”, mas sem
quebrar a espinha dorsal do neoliberalismo, necessita degradar os mecanismos democráticos,
substituindo-os por “elementos de tipo autoritário e antissocial que se querem estabilizar como o novo

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