Crime e violência no brasil: representações socioculturais na pós-modernidade

AutorClarice Sohngen - Marcelli Cipriani
CargoProfessora Titular da Escola de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Decana Associada da Escola de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Docente Colaboradora do Programa em Ciências Criminais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasi - Mestranda em ...
Páginas35-55
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.16, n.1, p. 36-56 Jan-Abr 2019
ISSN 1807-1384 DOI: https://doi.org/10.5007/1807-1384.2019v16n1p35
Artigo recebido em: 16.10.2017 Revisado em 18.08.2018 Aceito em: 10.09.2018
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons
CRIME E VIOLÊNCIA NO BRASIL: REPRESENTAÇÕES SOCIOCULTURAIS NA
PÓS-MODERNIDADE
Clarice Sohngen
1
Marcelli Cipriani
2
Resumo:
Este artigo visa a abordar algumas representações socioculturais sobre o crime e a
violência no Brasil contemporâneo. Nesse sentido, são feitas reflexões acerca do
espraiamento do medo coletivo, destacando-se sua relação com a segregação
sócio-espacial. Analisa-se, então, a constituição de sociabilidades diferentes em
espaços segregados, como elemento que influi nas representações coletivamente
produzidas. Por fim, se investiga algumas das respostas sociais à generalização do
medo, que perpassam pela produção de discursos reativos à violência que, não raro,
também são violentos. Assim, se busca abordar aspectos que se imbricam, quanto
aos fenômenos criminais contemporâneos, nas manifestações socioculturais que é
articulada, no trabalho, pelo apontamento de tendências mais amplas do momento
histórico representado pela pós-modernidade a partir de como se expressam no
contexto brasileiro.
Palavras-chave: Representações Socioculturais. Violência. Crime. Pós-
Modernidade. Medo.
CRIME AND VIOLENCE IN BRAZIL: SOCIOCULTURAL REPRESENTATIONS IN
POST-MODERNITY
Abstract:
This article aims at approaching some of the possible intersections between
sociocultural representations of crime and violence in contemporary Brasil. In this
sense, it is presented reflections about the spreading of collective fear, highlighting
its relationship with socio-spatial segregation. Then, it analyzes the constitution of
different sociabilities in segregated spaces, as an element that influences the
representations that are collectively produced. Finally, it investigates some of the
social responses to the generalization of fear, which are related to the production of
discourses that are reactive to violence but are also often violent themselves. Thus, it
intends to address aspects where contemporary criminal phenomena are interwoven
in sociocultural manifestations what is articulated by pointing to broader tendencies
of the historical moment represented by postmodernity from the way they are
expressed in the Brazilian context.
Keywords: Sociocultural Representations. Violence. Crime. Postmodernity. Fear.
1
Professora Titular da Escola de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Decana Associada da Escola de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Docente Colaboradora do Programa em Ciências Criminais da Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: clarice.sohngen@pucrs.br
2
Mestranda em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, Brasil. E-mail: marcellicipriani@hotmail.com
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CRIMEN Y VIOLENCIA EN BRASIL: REPRESENTACIONES
SOCIOCULTURALES EN LA POST-MODERNIDAD
Resumen:
Este artículo apunta a abordar algunas representaciones socioculturales sobre el
crimen y la violencia en el Brasil contemporáneo. En este sentido, son propuestas
reflexiones sobre expansión del miedo colectivo, destacándose su relación con la
segregación socio-espacial. Se analiza, enstonces, la constitución de sociabilidades
diferentes en espacios segregados, como elemento que influye en las
representaciones colectivamente producidas. Por último, se investiga sobre algunas
de las respuestas sociales a la generalización del miedo, que pasan por la
producción de discursos reactivos a la violencia que, no raramente, también son
violentos. Así, se busca abordar aspectos que se imbrican, en cuanto a los
fenómenos criminales contemporáneos, en las manifestaciones socioculturales
que es articulada en este trabajo por el apunte de tendencias más amplias del
momento histórico representado por la postmodernidad a partir de su expresión
en el contexto brasileño.
Palabras clave: Representaciones Socioculturales. Violencia. Crimen.
Posmodernidad. Miedo.
1 INTRODUÇÃO
A expressão da violência é multidimensional, pois acomete variados atores
sociais e assume formas diferentes desde a física, até a psicológica ou a
simbólica
3
não podendo, por isso, ser tratada como uma espécie de “expressão-
valise” (SOUZA, 2008). Por sua vez, a atividade criminosa violenta, sobre a qual se
enfoca esse trabalho, é fruto da codificação de uma gama de comportamentos
indesejados, a dada sociedade, em certo período histórico
4
. Portanto, também se
apresenta como multifatorial, na medida em que possui agentes e circunstâncias
típicas muito distintas. Isso implica reconhecer que o crime ocorre de maneira
“desagregada”, sendo influenciado por aspectos plurais, de diferentes naturezas
(SCHABBACH, 2007).
Além disso, tais ocorrências de manifestam pelo espaço urbano
heterogeneamente. No Brasil, o espraiamento da violência se , em parte, como
consequência da distribuição social da paz que privilegia classes abastadas e
3
Para Bourdieu (2005), a violência simbólica não se expressa por coações físicas ou atos concretos,
mas espraia-se de forma silenciosa, se exercendo através de esquemas de percepção, da avaliação
e de ação, e que fundamentam aquém das decisões da consciência e os controles da vontade.
4
De acordo com as abordagens do labeling approach, não há nada inerentemente desviante no
crime, pois ele é resultante de um a construção social, que perpassa por assimetrias de poder. Becker
(2008), um dos adeptos da também chamada teoria do etiquetamento ou rotulação, propôs investigar
o desviocom o algo que transcende motivações individuais ou particularidades com uns a um grupo
desviante, mas como um processo no qual outros atores sociais também precisam ser investigados
como aqueles que formulam as regras e suas sanções, e os que são designados para fazê-las ser
cumpridas.

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