A criação de uma identidade para o historiador e para seus escritos

AutorDiogo da Silva Roiz
CargoDoutorando em História pela UFPR
Páginas245-250

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HARTOG, F. Os antigos, o passado e o presente. Brasília: Ed. UnB, 2003. Trad. de José Otávio Guimarães.

O historiador francês François Hartog, especialista em historiografia antiga e moderna, já é conhecido pelo público brasileiro (especializado) por seus livros O espelho de Heródoto (publicado em 1999), A história de Homero a Santo Agostinho (editado em 2001) e O século XIX e a história: o caso Fustel de Coulanges (impresso em 2003). Seu novo livro Os antigos, o passado e o presente é uma coletânea de artigos anteriormente publicados em livros e em revistas especializadas, na década de 1990 (com exceção do último, que é de 1982, impresso em um número especial da revista Annales sobre história antiga).

Foi o professor José Otávio Guimarães responsável pela seleção, organização e parte da tradução dos originais, e a quem François Hartog fez um generoso agradecimento no final de seu prefácio à coletânea. Em função da origem dos ensaios e das condições de sua organização, esse livro difere dos anteriormente publicados pelo autor (dois estudos monográficos, um sobre Heródoto e outro sobre Fustel de Coulanges, e uma antologia de textos de autores gregos e romanos sobre o conceito de história na Antigüidade Clássica e Tardia). Ainda que o livro não seja um estudo monográfico, muitos fatores contribuem para que os textos não sejam vistos como um conjunto aleatório. Em primeiro lugar, são estudos de história intelectual e historiografia antiga, nos quais, conforme o autor indicou em seu prefácio, foram reunidos em torno de três termos, que se desdobram no conjunto dos ensaios: os antigos (os gregos, mas também os romanos), o passado e o presente (os deles, mas também os nossos). Em segundo lugar, avaliam quando a História,

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de uma vivência circunscrita num processo de vários agires humanos no tempo, passou também a ter valor testemunhal no relato escrito, embora circunstancial (às vezes até efêmero) e fragmentário, que almejava, com base em interpretações, criar uma "identidade coletiva" às sociedades de outrora, como ainda mantê-la nas sociedades presentes, por meio da análise dos indícios do passado (recente ou remoto). Desse modo, cotejaram-se os paralelos entre passado e presente, visualizados e elaborados por gregos e romanos, e quais paralelos visualizavam-se entre aquele passado, da Antigüidade Clássica (e Tardia), e o nosso presente, o das sociedades contemporâneas.

O livro divide-se em duas partes complementares, intituladas Os antigos diante deles mesmos e Nós e os antigos , com quatro capítulos cada uma. Na primeira parte, por meio da trajetória de historiadores (como Hecateu de Mileto, Heródoto de Helicarnasso, Helânico de Lesbos, Políbio...

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