O corpo feminino invadido: recortes da construção social de um corpo público/objetificado
| Autor | Taís Prass Cardoso - Anelise Mallmann - Margarete Fagundes Nunes - Jacinta Sidegum Renner |
| Cargo | Mestranda em Diversidade Cultural e Inclusão Social pela Universidade Feevale - Mestranda em Diversidade Cultural e Inclusão Social pela Universidade Feevale - Doutora em Antropologia Social pela UFSC (2009) - Doutora em Engenharia de Produção com ênfase em Ergonomia |
| Páginas | 70-90 |
Periódico do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero e Direito
Centro de Ciências Juríd icas - Universidade Federal da Paraíba
V. 9 - Nº 02 - Ano 2020
ISSN | 2179-7137 | http: //periodicos.ufpb.br/oj s2/index.php/ged/index
70
O CORPO FEMININO INVADIDO: RECORTES DA
CONSTRUÇÃO SOCIAL DE UM CORPO
PÚBLICO/OBJETIFICADO
Taís Prass Cardoso1
Anelise Mallmann2
Margarete Fagundes Nunes3
Jacinta Sidegum Renner4
Abstract: This is an interdisciplinary study, based on a bibliographical research,
based on books, scientific articles and empirical research, to establish the
interrelationship between the perspectives of Health and Law, when discussing the
female body in a socio-historical context. The aim of this research is to analyze
how some historical representations and images about the female body last over
time and update themselves in contemporary Brazilian society, reproducing old
violent conceptions and practices against women. And from this, understand the
somatized reflexes in the identity and sexuality of this body that has become the
target of invasions, which cause wounds that left deep marks, such as sexual
dysfunctions. Among the privileged authors in the theoretical contribution of this
work are Colling (2015), Corso (2016), Labronici (2010) and (Faundes, 2007).
Keywords: Feminine body; corporeity; sexual violence; objectification.
Considerações iniciais
O corpo feminino, ao longo dos anos, tornou-se um objeto de desejo,
sexualidade e exposição, porém, sem voz. Michelle Perrot, historiadora e professora
francesa, escreveu, certa vez, que o corpo exposto continua opaco. Objeto do olhar
1 Mestranda em Diversidade Cultural e Inclusão Social pela Universidade Feevale, na linha de pesquisa
de Inclusão Social e Políticas Públicas, Bacharel em Direito pela Universidade Feevale, Advogada,
Presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB/RS Subseção Taquara
2 Mestranda em Diversidade Cultural e Inclusão Social pela Universidade Feevale, na linha de pesquisa
de Saúde e Inclusão Social, Pós-Graduada em Fisioterapia Pélvica pela Faculdade Inspirar, Pós-Graduada
em Cinesiologia pela UFRGS, Bacharel em Fisioterapia pela Universidade Feevale
3 Doutora em Antropologia Social pela UFSC (2009), corpo docente do Programa em Diversidade
Cultural e Inclusão Social e do Mestrado em Indústria Criativa, ambos da Universidade Feevale/RS
4 Doutora em Engenharia de Produção com ênf ase em Ergonomia, Professora/Pesquisadora do PPG em
Diversidade Cultural e Inclusão Social, Graduada em Fisioterapia.
Periódico do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero e Direito
Centro de Ciências Juríd icas - Universidade Federal da Paraíba
V. 9 - Nº 02 - Ano 2020
ISSN | 2179-7137 | http: //periodicos.ufpb.br/oj s2/index.php/ged/index
71
e do desejo, fala-se desse corpo, mas ele é calado - as mulheres não devem falar
dele. O pudor que encobre seus membros ou lhes cerra os lábios é a própria marca
da feminilidade (Perrot, 2003).
Diante disso, é importante compreender aspectos históricos e culturais que
do corpo
nas sociedades ocidentais. Analisando algumas representações e imagens
históricas acerca do corpo feminino, é possível nos depararmos com a reprodução
de velhas concepções e práticas violentas contra as mulheres na sociedade brasileira
contemporânea, as quais causam importantes reflexos na identidade e na
sexualidade deste corpo que se tornou alvo de invasões, as quais causam feridas que
deixam marcas profundas, como as disfunções sexuais.
Trata-se de um estudo bibliográfico, de caráter interdisciplinar,
fundamentado em livros, artigos científicos e relatórios de pesquisas, visando
estabelecer uma interrelação entre as perspectivas da Saúde e do Direito, ao discutir
o corpo feminino em um contexto sociohistórico. Entre os autores privilegiados no
aporte teórico deste trabalho estão Colling (2015), Corso (2016), Labronici (2010) e
Faundes (2007).
1. O corpo feminino na história: do invisível ao público
O corpo feminino foi, ao longo da história, ora anulado e si lenciado, ora
explorado e objetificado, despertando diversos olhares e perspectivas diferenciadas.
Não há como falar sobre o corpo feminino sem trazer, ainda, um pincelar sobre a
construção social do corpo masculino, já que por muito tempo perdurou a ideia de
que existia um único sexo, e a mulher seria um homem que deu errado, ou, ainda,
um homem com o órgão sexual internalizado, ou seja, um corpo incompleto e
inferior (Colling, 2015).
dizeres de Pitágoras, que evidenciam o olhar inferiorizador em relação à
Para continuar a ler
PEÇA SUA AVALIAÇÃO