Cooperativa de Crédito Rural: Análise do Perfil dos Cooperados

AutorLuis Artur Bernardes da Rosa/Cássio Chia Jang Tsay/Fabiana Scalone Traba Rodrigues
CargoDoutor em Agronomia -Universidade Estadual de Londrina (UEL)/Mestre em Administração -Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP)/Admistradora
Páginas75-80

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1 Introdução

No Brasil, a disponibilidade de crédito para aplicação na atividade rural historicamente não tem atendido a demanda desse setor. No período denominado modernização da agricultura, apesar da maior oferta de recursos financeiros para a aquisição de máquinas e insumos agropecuários, muitos agricultores não tiveram acesso ao crédito ofertado, principalmente os pequenos agricultores (SILVA, 1981). Com exceção do Programa de Crédito Especial para Reforma Agrária -PROCERA, criado em 1985 e que atendia apenas assentados da reforma agrária até o início da década de 90, não existia nenhum outro tipo de política agrícola especial para o segmento da agricultura familiar (PEREIRA, 2002). Só recentemente, esse cenário começou a mudar com a instituição de políticas agrícolas diferenciadas para os diversos tipos de agricultores.

Antes mesmo de esperar por mudanças na política financeira os agricultores têm se organizado e fundado cooperativas de crédito rural para atenderem suas necessidades de crédito, tanto para investimentos em animais, máquinas e benfeitorias, como para o custeio de lavouras e pecuária.

O cooperativismo é uma sociedade de pessoas, que buscam atingir objetivos sociais, culturais e econômicos comuns, por meio de uma empresa de propriedade coletiva e democraticamente gerida (BIALOSKORSKI NETO et al., 1995). Para Bulgarelli (2000) as cooperativas se apresentam como entidades de inspiração democrática em que o capital não constitui o determinante da participação associativa, mas, mero instrumento para realização dos seus objetivos; elas são dirigidas democraticamente e controladas por todos os associados; não perseguem lucros e seus excedentes são distribuídos proporcionalmente às operações de cada associado; nelas se observa a neutralidade político-religiosa, o capital é remunerado

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por taxa mínima de juros e os hábitos de economia dos associados são estimulados pelas aquisições a dinheiro, dandose destaque ao aperfeiçoamento do homem, pela educação.

O movimento cooperativo recente surgiu em 4 países da Europa com organizações de objetivos econômicos diversos, mas inspiradas pelos mesmos princípios de solidariedade e pelo desejo de criar um sistema a serviço do homem. Na Inglaterra e na Suíça, surgiram as cooperativas de consumo, na Alemanha as cooperativas de crédito e na França se ensaiavam as primeiras tentativas de cooperativas de produção.

Um marco para o cooperativismo foi em 21 de dezembro de 1844, no bairro de Rochdale, em Manchester -Inglaterra, quando 28 tecelões fundaram a "Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale". Esses trabalhadores constituíram uma cooperativa de consumo, com o objetivo de enfrentar a crise industrial da época, oferecendo gêneros de primeira necessidade aos associados, passando, posteriormente, às atividades de produção (POLONIO, 2001).

Na mesma época, o movimento cooperativista alemão nasceu da espontaneidade de um grupo popular, através do esforço de Hermann Schulze e Friederich W. Raiffeisen. Convencido de que as dívidas constituíam a causa maior da pobreza e da insegurança do trabalhador e do artesão, Schulze pôs-se a organizar sociedades de crédito, com o objetivo de fornecer pequenos empréstimos ou financiamentos destinados a atender às necessidades da produção. O capital era constituído pelos associados que formavam sociedades de responsabilidade limitada. Desta forma, a primeira cooperativa de crédito alemã se instalou em 1850, na cidade de Delitzsch, daí o nome do modelo cooperativista Schulze-Delitzch (POLONIO, 2001). Inspirado nas sociedades alemãs de Shulze-Delitzsch, surge na Itália o primeiro banco cooperativo, por volta de 1865, fundado por Luigi Luzzatti. Este modelo teve acelerado desenvolvimento no Brasil entre as décadas de 1930 e 1950.

O cooperativismo na América Latina foi introduzido por imigrantes europeus e sua consolidação neste continente coincide com a criação da Organização das Cooperativas da América -OCA, em Montevidéu, Uruguai, no dia 6 de fevereiro de 1963. Este movimento surge da convicção de que o cooperativismo livre constitui para os países da América o instrumento de ação mais eficaz para a solução de seus problemas, especialmente os de ordem socioeconômica (MAURER JÚNIOR, 1966).

No Brasil são 13 os ramos de cooperativismo definidos pela Organização das Cooperativas Brasileiras -OCB: agropecuário; consumo; crédito; educacional; especial; infraestrutura; habitacional; mineral; produção; saúde; trabalho; turismo e lazer; e transporte de cargas e passageiros. O cooperativismo de Crédito se destaca com 1.068 cooperativas, 1.890.713 cooperados e 26.068 funcionários (OCB, 2004). O Cooperativismo de Crédito chegou ao Brasil, trazido da Europa pelo Padre Theodoro Amstad, com o objetivo de reunir as poupanças das comunidades de imigrantes e colocálas a serviço do seu próprio desenvolvimento. A primeira cooperativa de crédito foi fundada em Nova Petrópolis - RS, em 28 de dezembro de 1902. De 1902 a 1964 as cooperativas de crédito, que foram sendo...

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