Contribuições do Método História de Vida para Estudos sobre Identidade: o exemplo do estudo sobre professoras gerentes

AutorAdílio Renê Almeida Miranda - Mônica Carvalho Alves Cappelle - Flávia Luciana Naves Mafra
CargoProfessor da Universidade Federal de Alfenas (Unifal). Varginha, MG. Brasil - Professora Associada do Departamento de Administração e Economia da Universidade Federal de Lavras. Lavras, MG. Brasil - Professora da Universidade Federal de Lavras (UFLA). Lavras, MG. Brasil
Páginas59-74
Artigo recebido em: 10/8/2012
Aceito em: 25/6/2013
Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
CONTRIBUIÇÕES DO MÉTODO HISTÓRIA DE VIDA PARA
ESTUDOS SOBRE IDENTIDADE: O EXEMPLO DO ESTUDO SOBRE
PROFESSORAS GERENTES
Contributions of the Life Story Method for Studies on Identity:
the example of study about female professors in management
positions
Adílio Renê Almeida Miranda
Professor da Universidade Federal de Alfenas (Unifal). Varginha, MG. Brasil. E-mail: adilioadm@yahoo.com.br
Mônica Carvalho Alves Cappelle
Professora Associada do Departamento de Administração e Economia da Universidade Federal de Lavras. Lavras, MG. Brasil.
E-mail: edmo@dae.ufla.br
Flávia Luciana Naves Mafra
Professora da Universidade Federal de Lavras (UFLA). Lavras, MG. Brasil. E-mail: flanaves@dae.ufla.br
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-8077.2014v16n40p59
Resumo
Recentemente, o método história de vida tem sido
usado na área de Administração como uma importante
estratégia metodológica nas pesquisas qualitativas. Com
esse método busca-se compreender os grupos ou a
coletividade a partir de trajetórias de vida individuais.
Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é discutir a
contribuição do método da história de vida para a
compreensão da dinâmica identitária de professoras
gerentes de uma universidade pública, por meio de
um exemplo proveniente de um estudo empírico.
Verificou-se, a partir dos relatos de quatro professoras
gerentes, que o resgate de memórias do passado e
de valores, fatos, normas e acontecimentos ligados à
socialização primária e organizacional das entrevistadas
contribui para a compreensão da dinâmica identitária
delas. Emergiram algumas categorias de análise
que expressam relações entre a história de vida e a
identidade como: a descontinuidade, a subjetividade
e a importância de “dar voz ao sujeito”; o individual
e o social e as transformações sócio-históricas: uma
interação dinâmica na construção de identidades; e a
análise temporal na construção de identidades.
Palavras-chave: História de Vida. Identidade. Métodos
de Pesquisa Qualitativa.
Abstract
Recently, the Life Story Method has been used in
the area of Business Administration as an important
methodological strategy in qualitative research. The
purpose is to understand groups or collective bodies
based on individual paths of life. Thus, the goal of
this study was to show the contribution of the life
story method in understanding the identity dynamics
of female professors managing a public university,
by means of an example derived from an empirical
study. It was observed from the reports of four female
professors involved in management that recovery of
past memories, as well as of values, facts, standards
and occurrences connected with the primary and
organizational socialization of the interviewees,
contributes to understanding of their identity dynamics.
Some categories of analysis emerged that express
relationships between life story and identity, e.g.,
discontinuity, subjectivity and the importance of allowing
an individual/subject to speak; the individual and the
social sphere and socio-historical transformations, a
dynamic interaction in construction of identities; and
temporal analysis in construction of identities.
Keywords: Life Story. Identity. Qualitative Research
Methods.
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1 INTRODUÇÃO
As mudanças que ocorreram na sociedade,
além de alterarem profundamente os modos de vida
dos indivíduos, possibilitaram também, por meio de
inovações tecnológicas, transformações na prática da
pesquisa científica. Com isso, na metade do século XX,
a utilização da oralidade na pesquisa social passou a
constituir um importante avanço no que se refere aos
instrumentos para coleta de dados. A partir de então, a
realização de entrevistas contou com a utilização de ins-
trumentos tecnológicos como gravadores e filmadoras
cada vez mais sofisticados e discretos que, permitiram
ao pesquisador apreender e registrar fatos, memórias,
histórias e fenômenos, relacionando-os ao indivíduo.
Nessa perspectiva, se insere a proposta do uso da
história de vida, como método de pesquisa que busca,
por meio da oralidade histórica, ser uma ponte entre o
social e o individual. Com ela, busca-se compreender
grupos ou a coletividade, a partir de trajetórias de vida
individuais. Com isso, é possível compreender as várias
particularidades dos objetos/sujeitos de pesquisa ou
fenômenos estudados por meio da pesquisa qualitativa,
destacando-se, a riqueza de detalhes sobre o processo.
(BECKER, 1999)
Na verdade, a história de vida é um tipo de histó-
ria oral (MEIHY, 1996). Porém, uma de suas especifi-
cidades quando comparada à história oral é o vínculo
estabelecido entre o pesquisador e o pesquisado. Nesse
sentido, para que o narrador conte sua vida, ele precisa
sentir confiança e se sentir à vontade.
Na Administração, alguns dos primeiros trabalhos
discutindo a contribuição teórico-metodológica da
história de vida foram os de Jaime, Godoy e Anto-
nello (2007) e Mageste e Lopes (2007) apresentados
no Encontro de Ensino e Pesquisa em Administração
e Contabilidade, em sua primeira edição. Tais artigos
empreenderam esforços no sentido de evidenciar as
potencialidades, as contribuições, os desafios, as críti-
cas e as limitações do uso da história de vida. Mais re-
centemente, Craide (2011) e Closs e Antonello (2011)
também empreenderam tais esforços, no entanto,
relacionando-os aos estudos sobre interculturalidade,
no caso do primeiro, e à compreensão de processos de
aprendizagem gerencial, no segundo trabalho.
Outras pesquisas que adotam história de vida,
seja como técnica de coleta de dados ou estratégica
metodológica, podem ser destacados como os de
Jaime (2001) que objetivou descrever as trajetórias
profissionais de dois antropólogos que têm empreen-
dido trabalhos práticos no campo da Administração
Mercadológica; Corrêa e Carrieri (2007) que estudaram
o assédio moral vivenciado por mulheres em organi-
zações e; Cavedon e Ferraz (2005), que procuraram
evidenciar o reflexo das representações sociais na
construção de estratégias.
Embora ainda um pouco tímida, verifica-se,
portanto, uma crescente utilização da história de vida
no campo da Administração. Buscando reforçar tal
processo, este artigo pretende discutir a utilização da
história de vida como método de pesquisa nos Estudos
organizacionais, mais especificamente, nos estudos
sobre identidade. O objetivo aqui, portanto, é discutir
a contribuição do método da história de vida para a
compreensão da dinâmica identitária de professoras
gerentes de uma universidade pública, por meio de
um exemplo proveniente de um estudo empírico.
As professoras gerentes são docentes que ocupam ou
ocuparam um cargo gerencial (coordenação de cursos
de graduação ou pós-graduação, pró-reitoras, chefes
de departamento) na universidade pesquisada.
Apresenta-se, no primeiro momento, uma contex-
tualização histórica destacando as origens da história
de vida, conceitos, características, contribuições da
utilização do método, ressaltando, logo após, críticas
e reflexões quando ao uso e forma de operacionali-
zação. Em seguida, discute-se a re(construção) identi-
tária, considerando-a como um processo que envolve
elementos histórico-sociais. Adiante, apresenta-se o
exemplo das professoras gerentes, mostrando a contri-
buição do método história de vida para a compreensão
da dinâmica identitária delas. Finalmente, são feitas as
considerações finais.
2 HISTÓRIA DE VIDA: HISTÓRICO E
COMPREENSÕES CONCEITUAIS
A história de vida começou a ser utilizada nas
décadas de 1920 e 1930 (BRIOSCHI; TRIGO, 1987;
MARRE, 1991; SILVA et al., 2007) por pesquisadores
da Escola de Chicago e foi desenvolvida por meio
dos trabalhos de Thomas e Znaniecki (1927), na Po-
lônia, e também por antropólogos, segundo o qual,

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