Contribuições da Genealogia de Michel Foucault à Bioética: aspectos metodológicos para o estudo de dispositivos do biopoder

AutorFernando Hellmann - Marta Verdi
Páginas158-179
159
Cad. de Pesq. Interd isc. em Ci-s. Hum-s. , Florianópolis, ISSN 1984-8951
v.15, n.107, p. 158- 179, ago/dez 2014
Introdução
Encontra-se no campo da bioética uma variedade metodológica para
analisar as dimensões morais implicadas nas ciências da vida, nas políticas públicas
e no fazer humano em geral. Entre as possibilidades de contribui ções à bioética,
ainda relativamente pouco explorada, estão os conceitos e aportes metodológicos
expostos nas obras de Michel Foucault (1926 1984) (GARCES GIRALDO, 2013;
ASHCROFT, 2003; FINKLER et al, 2010) .
Foucault tem como tema central de estudo os processos de subjetivação do
homem, problematizados em uma análise filosófica, histórica e social. Os modos de
subjetivação, também de objetivação e ora sujeição, são abordados pelo autor em
três diferentes facetas complementares, vislumbradas no conjunto cale idoscópico de
sua obra a qual restou por ser terminada. Estes três eixos, ou melhor, estes três
momentos vislumbrados nas obras de Foucault, têm sido utilizados para a análise de
temas que envolvem questões de bioética.
Em um primeiro momento, o autor debruça-se sobre o estudo das disciplinas
na época moderna, em especial de como elas, constituídas por um corpo de
saberes, formam e formatam o indivíduo. Frank e Jones (2003) mostram que o
estudo das disciplinas tal como expostas por Foucault aproxima-se das reflexões
requeridas pela bioética. Em um segundo momento, Foucault desloca-se para o
tema da biopolítica, ou seja, de como os sujeitos, agora no coletivo, tornaram-se
corpos a serem governados por intermédio de uma modalidade específi ca do
biopoder. Da mesma forma, bioeticistas como Lysaught (2009), Tremain (2008),
Caponi (2004), Bischop e Jotterand (2006) utilizaram-se desse tema foucaultiano em
seus estudos. Por fim, em novo desvio, Foucault versa a respeito do tópico da ética
sob as formas de cuidado de si; os conceitos e princípios do cuidado de si (e dos
outros) são apontados por Giraldo e Zuluaga (2013) como orientadores para a
construção de uma Bioética do Cuidado.
Tais deslocamentos - não entendidos como abdicações do tema central – as
formas de subjetivação -, mas sim como ampliações do campo analítico - permitem
pensar a obra de Foucault em três principais períodos: o da arqueologia, o da
genealogia e o da ética. Todos, como visto, apresentam interface com a bioética.

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