A consulesa ou a cônsul? A poetisa ou a poeta?

AutorAlbino Freire
Páginas253-260

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Ver Nota12

Venho observando, nos últimos tempos, não apenas nos círculos acadêmicos, mas em toda parte, uma certa inquietude, um certo constrangimento, uma saia-justa – se me perdoam o trocadilho – quando se tem de usar as palavras POEtISA e CONSuLESA para designar, respectivamente, a mulher que faz versos e a mulher que exerce o cargo de cônsul. E tal perplexidade tenho percebido até mesmo entre filólogos respeitáveis, quando eles titubeiam e tentam fugir do assunto, mais ou menos assim: Sabe, meu caro? Em certos casos, talvez seja possível...

Não, senhores! Não, senhoras! Ou é, ou não é! Aqui não existe meio termo!

Sem mais delongas, entro no assunto.

1. Fundamentos: trata-se de fenômeno linguístico ou de simples modismo?

O objetivo de minha manifestação, aqui e agora, é trazer elementos de convicção – se me permitem a imodéstia – para que os senhores possam tomar, democraticamente, uma ou outra direção, levando consigo alguns argumentos a favor e outros contra. Por aí, já se vê que não se trata de assunto de somenos.

Milenar é o princípio filosófico do dualismo, vale dizer, a coexistência de duas forças antagônicas, como matéria e espírito, corpo e alma, princípio do bem e princípio do mal, que se supõe em perpétua luta um contra o outro. Acrescente-se o exemplo, tão explícito

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quanto antigo, que vem de tempos imemoriais, quando no paraíso terreal o Criador instituiu o dualismo sexual: macho e fêmea, homem e mulher. Permito-me abster-me de discutir essa tendência atual de misturar tudo, essa insustentável miscelânea que faria Sodoma e Gomorra se transformarem em paraíso terreal, nessa insofismável tentativa de se negar o dualismo sexual.

Estudioso que sou dos fenômenos linguísticos, não gosto de modismos e sou francamente avesso a inovações arbitrárias em matéria de linguagem.

2. A poeta, não: a poetisa!

Vivo me questionando: Por que será que inventaram e tentam impor a forma “a poeta”? Seria um poeta fêmeo? ter-se-ia originado de algum movimento feminista literário? Ora, o feminino de poeta é “poetisa” – qualquer aluno de primeiro grau sabe disso. Qualquer dicionário registra dessa forma.

Fico imaginando se tal rebeldia não advém de suposta discriminação da própria mulher que faz versos, que se sentiria inferiorizada em relação ao homem por ser chamada de poetisa. Isso sim, meus senhores e minhas senhoras, isso sim é um preconceito às avessas! Ora, a rainha da Inglaterra, que exerce o cargo, não se sente inferiorizada por não ser denominada de “rei”.

Não é possível a pretendida igualdade! Não é possível, nem mesmo conveniente, a unificação desse dualismo benfazejo. Faz-me lembrar aquela conhecida anedota que assinala pretensa rivalidade entre gaúchos e mineiros: Diz o mineiro: “Então, gaúcho, quer dizer que no Rio Grande do Sul só tem macho?! Pois, lá em Minas, tem machos e fêmeas. E é tão bom assim...”

A propósito, certo gramático, Luiz Antônio Sacconi, é categórico e mesmo sarcástico. Diz ele: uma mulher que compõe poemas ou poesias é POEtISA. A mulher feminina, pelo menos...

Certa ocasião, tratando do assunto, escrevi: Para mim, a palavra poetisa sibila com a doce sonoridade de uma flauta doce... Não com o som amargo do oboé!

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Convoco, neste instante, as poetisas (e por que não os poetas também?) de nossa Academia, de nosso estado, de nosso país, para encetarmos uma cruzada contra o preconceito e pela valorização da mulher que faz versos! P-o-e-t-i-s-a sim...

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